Açaí do Marajó
Comida Saudável

Açaí do Marajó


Na Fazenda São Jerônimo, com aquela farinha
Acho que a primeira vez que comi açaí foi em Salvador, com leite condensado e banana. Gostei, mas não consegui sentir do creme nada além da banana e do leite condensado, somados aos crocantes que cobriam a mistura.  Do açaí mesmo, só restava a cor e uma certa areia com sabor de caroço de abacate verde. Pelo menos é este meu reconhecimento organoléptico do açaí que tentei provar puro aqui em São Paulo. 


Porém, no primeiro semestre, experimentei na casa do Thiago Castanho, em Belém,  um açaí fresco, recém-tirado,  trazido pelo pai, do qual nunca me esquecerei. Que comemos com pirarucu grelhado. Pensei que nunca mais poderia sentir aquele sabor com notas de azeite de olivas verdes espremidas na hora, hortaliças como pimentão, ervas aromáticas como coentros, salsas, cebolinhas. Tudo aquilo que atrai peixes, farinha. Quase tive uma epifania quando descobri a razão do paraense comer açaí com peixe e não com leite condensado. Saí de lá convencida disso e com a certeza de que açaí bom só dura um dia ou algumas horas e de que nunca vou comer bom açaí em São Paulo (sorte que temos aqui por perto, no Vale do Ribeira,  polpa de juçara!). O problema é que açaí congelado pra ficar bom tem que ser disfarçado com outras frutas (sobram, ao menos, gorduras boas e antocianinas, mas o aroma e o sabor....). Puro, só no local de origem.  Se você não conhece, não desperdice oportunidades. 


Em Soure, na Fazenda São Jerônimo dos amigos Dona Jerônima e Seu Brito (pais da minha amiga de faculdade Kátia), onde me hospedei, não comi arroz e feijão um só dia. Não que não estivessem sempre presentes à mesa. Mas me sentia mais feliz comendo peixe com farinha, pirão ou farofa e açaí. 


Para saber se chegou açaí fresco, é só ficar de olho nas bandeirinhas. Se vir uma bandeirinha vermelha na rua, já sabe que ali tem uma casa com açaí fresco. Quando acaba, e acaba logo, os vendedores tiram o alerta. Se a bandeirinha é branca é porque tem vinho de bacaba, fruto de uma outra palmeira parecida com açaí, porém de polpa mais clara.  Na hora de comprar, é bom olhar a higiene do local e se usam água filtrada ou mineral. O local onde Seu Brito gosta de comprar, Patuanu,  fica na estrada Soure-Pesqueiro e prima pela limpeza. Seu Joaquim cata o açaí como feijão, tirando qualquer impureza ou frutos imperfeitos,  lava bem antes de usar,  mantém os utensílios bem areados, usa água filtrada e só vende se o produto está bem fresco. Se não está, tira a bandeirinha. E vai extraindo o vinho aos poucos (vinho é o nome dado para o sumo grosso dos frutos de palmeiras, diferindo dos sucos, de frutas outras), que é pra não oxidar. E pra clientes como Seu Brito ainda tem que peneirar, para tirar a burra, como chamam por lá o resíduo de casca que confere uma textura arenosa. O resultado, depois de peneirado,  é um creme liso como de abacate. 


Com peixe fresco, frito, grelhado ou assado, é irresistível. Se você fechar os olhos, pode achar que está comendo as lascas mergulhadas numa emulsão cremosa de azeite extra-virgem, extra-fresco, extra-saboroso e extra-aromático. E ainda sem culpas porque, se você juntar apenas um pouco de farinha , isto não vai te  matar de overdose calórica, afinal 1 colher de sopa de açaí está bem longe das cerca de 100 calorias de uma colher de azeite.  


Uma das casas que vendem açaí, em Soure


Onde compramos o açaí que comemos na fazenda

Seis reais o litro

Seu Joaquim da casa Patuanu


Açaí com pirarucu na casa do Thiago









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