A coisa mais difícil do mundo nesta cidade grande é conseguir reunir três pessoas de pontos diferentes para comer num lugar cobiçado. Ou porque o tempo de uma não coincide com o da outra ou porque o lugar está lotado ou porque o trânsito inferniza, porque vai chover ou porque uma delas está com joelho machucado... E assim se vão empurrando os encontros. Até que na semana passada conseguimos, Janice, Nina e eu - mesmo manquitola, ir ao Killa, que quer dizer lua em quíchua. Era uma quinta-feira (o restaurante só abre para almoço na quinta e na sexta), o trânsito estava livre, o temporal ainda não se anunciava, nosso tempo não estava apertado e a casa estava tranquila com serviço sem afobação. Fomos ficando até a casa ficar vazia e podermos conversar com o sócio Georges e o chef Dylan - que me prometeu a receita de ceviche de atum para o Come-se (e cumpriu - a receita está lá embaixo). A casa é pequena, fica numa esquina agradável na Pompeia, com banca de revista de um lado, farmácia em frente, prédios e casinhas, do jeito que uma cidade deveria ser - com zonas urbanas de uso misto. E assim, é gostoso passar um tempo ali comendo enquanto aprecia o movimento.
A proposta é oferecer pratos da cozinha novandina - comida típica peruana feita com os tradicionais ingredientes andinos e alguma influência nipônica aqui, outra francesa ali. Tudo feito com capricho pelo chef Dylan Koishi, que passou algum tempo no Peru antes de chegar ao Killa. Eu já fico empolgada só de ver estes ingredientes preciosos como milhos coloridos e outros cereais. Se a casa estiver tranquila, é só pedir para ver os grãos todos embalados em versão souvenir pra turista. Dá apenas uma ideia do número de ingredientes disponíveis neste tipo de cozinha. Cada uma de nós pediu um ceviche diferente. E ainda comemos pipoquinhas que não viram do avesso (adoro estes piruás mastigáveis e praticamente comi sozinha), rodelas de batata doce e milho branco fresco e cozido. Deve ser acompanhamento de um dos ceviches, mas comemos juntas. E ainda ganhamos uma taça de chicha morada, refresco feito com milho roxo e temperado com frutas, cravo, canela. Um pouco mais doce do que eu escolheria, mas estava bem gostoso.
O ceviche é bem servido e bastou como prato único. Só completei com uma torta de chocolate porque queria experimentar. Com água e cafezinho, cada uma pagou por volta de R$ 40,00 (a chicha foi cortesia). Mas sou mesmo dos salgados e com certeza voltarei pelos ceviches. Cada um com um sabor diferente do outro, mas todos bem temperados, ácidos na medida certa e refrescantes.