Chegando a São Roque de Minas, na Serra da Canastra
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Chegando a São Roque de Minas, na Serra da Canastra


Seu Toninho, taxista de Piumhi: Tel. 37 9988 9906
Para quem chega agora, estou aqui contando uma novelinha, que começou em Belo Horizonte, dois posts atrás. E se quer saber o que fomos fazer lá, foi assim: Mara Salles, chef do Tordesilhas, aqui em São Paulo, quis ir conhecer a região porque vai fazer um evento em seu restaurante sobre queijo Canastra (falo mais deles nos próximos posts) e seria importante visitar produtores, conhecer a fabricação do queijo e as ambiências. Vamos?, perguntou. Tô indo, respondi.  


Nosso amigo Rusty Marcellini participou da produção do O Mineiro e o Queijo como pesquisador (veja no blog dele as lindas fotos derivadas deste trabalho)  e fez a ponte  com alguns produtores do queijo da Canastra que aparecem no filme. E lá fomos nós na cara de pau: oi, podemos dormir na sua casa? 


Chegamos em Piumhi de ônibus e não achamos a viagem de 4 horas cansativa. Isto porque fomos, Mara Salles e eu, conversando quase o tempo todo, apreciando a paisagem ou aproveitando uma dormidinha. Teria sido mais prático ir direto de São Paulo para Piumhi, mas queríamos passar em Belo Horizonte. A simpatia mineira já começou com o taxista, Seu Toninho. Porém, de início achamos um pouco caro a corrida para São Roque de Minas a 90 reais. É o preço, mas quem sabe poderíamos ir mesmo de ônibus que sairia em pouco tempo, afinal são apenas 60 quilômetros, e com o economizado poderíamos comprar mais um ou dois queijinhos. E não é que seu Toninho teve uma boa ideia quando uma outra turista o consultou e também achou caro? Veio atrás da gente pra ver o que achávamos de rachar a conta com a moça. É claro que topamos, trinta reais por cabeça, todos ganhamos e ele não perdeu a viagem de preço justo. Antes, quis saber se tudo bem passar na casa dele pra pegar a marmita. Cidade pequena, era caminho, claro que não.  Encostou o carro, a mulher trouxe a marmita quente e cheirosa - carne de porco, couve, abobrinha, chuchu, tentei advinhar. E com este gancho fomos conversando de comida e coisas da terra até lá. Cruzamos a ponte sobre o rio São Francisco, que corria ali ainda jovem - nasce do Parque da Canastra -, mas já encorpado, barrento das chuvas e apressado. O milharal estava verdinho e molhado, contrastando com a Serra da Canastra verde forte e céu azul e algodoado. Por nós passaram também corridos pés de pequi carregados na beira da estrada e isto foi motivo para Seu Toninho dar a receita do seu doce. Já comeram doce de pequi? Eu não e você, Mara? Também não.  Como é? Uai, é só colocar na panela 3 lide leite, 20 miolos de pequi e de 3 a 4 copos de açúcar e levar pro fogo. Cozinha em fogo baixiquinho com pires dentro da panela, que é pra não entornar o leite. Vai apurando, apurando, até o pequi começar a se desmanchar. Raspa bem a polpa pra dendo leite, joga o caroço fora e deixa o dosdi leite cozinhando mais um tantico até virar puxa. Aí é só bater um pouco e despejar num tabuleiro polvilhado de fubá. Quando secar, corta em quadradinhos e come com queijo. É bom demais sô. 

Em São Roque, paramos primeiro na Cooperativa de Crédito Saromcredi, que funciona como um banco, para falar com seu presidente, João Carlos Leite, que não estava mas indicou seu gerente de comunicação corporativa, Fernando Silva, para nos acompanhar no almoço. Seu Toninho estava inseguro. Não querem mesmo que eu espere? Vão ficar aqui mesmo de mala e cuia? Onde vão dormir? 

João Leite ou Joãozinho é também um produtor e aparece no filme O Mineiro e o Queijo.  O prédio da Saromcredi se destaca na cidade pela arquitetura moderna, de fino acabamento e pela grandeza com seus mais de mil metros quadrados. Mas se destaca muito mais pela importância social que tem para a cidade. Até uma escola a cooperativa criou. Logo João chegou e ninguém diz que ele é presidente de um banco. E a cooperativa funciona sim como um banco, com a vantagem que os cooperados são donos. É um empreendimento exemplar para uma cidade em que banco algum teve interesse em montar uma base, nem o banco do Brasil.  Graças à cooperativa, a cidade prosperou (estive lá há cerca de 15 anos e era tudo muito diferente), os cooperados entram e saem da agência sem detector de metal, o presidente fica numa salinha no andar térreo protegido apenas por biombos abertos, com livre acesso a qualquer associado e tudo o que o prefeito não faz na cidade é ao Joãozinho que vão reclamar. E, embora ele seja de família de fazendeiros ricos, é um homem simples, carismático e trabalhador, e  todos sabem que realmente podem recorrer a ele, que serão ouvidos, venham de gravata ou de chapéu. 

Valdete, Zé Mário e Joãozinho
E foi de chapéu que, enquanto conversávamos, por coincidência chegou Zé Mário com a mulher Valdete, que também aparecem no filme do queijo. Foi nosso primeiro contato. Três dias depois estaríamos em volta do seu fogão de lenha, comendo do seu queijo. Mas conto na ordem, por enquanto, falo do João. Sabe como ele teve ideia de fundar esta cooperativa? Veja aqui.  E para saber mais sobre o empreendedor social João Carlos leite que, segundo ele, prefere administrar dinheiro a dívidas e por isto jamais pensou em ser político, clique aqui. 

Agora, quer o melhor? João Leite, que além de presidente de banco é agrônomo de formação, também faz queijo da Canastra, com leite cru. Ele nos levou à sua fazenda, bem perto da cidade,  onde cultiva café e milho e tem a queijaria - um pequeno mimo. No pasto, separado por piquetes, as vacas vão comendo alternadamente só as pontas do mato verdinho. E mudam de lugar a cada dia para dar tempo ao pasto comido de um dia se recuperar. Não sei se é por isto, mas o sabor do queijo do João é bem diferente dos demais - parece mais cremoso. Leite mais gordo talvez.  A ordenha é mecânica e as vacas são poucas, mas o queijo é de muita qualidade. Todos os dias é feito apenas um Canastra Real, um queijo que, depois de maturado, fica com 6, 7 quilos, com casca amarela abaulada, massa lisa, cremosa e bolhas brilhantes por dentro. 

Para comprar os queijos do João, é só chegar na cidade e perguntar onde fica a fazenda do Joãozinho. Vale o passeio. Se quiser ir de taxi, é só chamar o Baltazar, lá mesmo de São Roque, vizinho por acaso do João (Tel. 37 9964 1360). Próxima parada: Fazenda do Zé Pão e Romilda.

Abaixo, fotos da fazenda e queijaria do João. 








João e Mara Salles




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