Coluna do Paladar, edição de 5/02/2015. Caferana
Comida Saudável

Coluna do Paladar, edição de 5/02/2015. Caferana


Hoje é dia de coluna Nhac no Paladar. Os leitores do Come-se já conheciam a caferana de outra safra, mas como os pés andam carregados quis apresentar a frutinha aos leitores do Paladar. Veja lá no blog do caderno. E aqui tambem:

  
As frutinhas congeladas 


À medida que vão amadurecendo, podem ser consumidos ou congelados
para esperar os outros
Durante muito tempo tratei um pé de caferana que havia no sítio dos meus pais como se fosse de azeitona do Ceilão. Certamente porque alguém me ensinou errado e assim ficou sedimentado, tendo eu desperdiçado uns bons vinte anos da minha vida sem provar um só fruto vermelho, bem maduro.  Não vou dizer que não tenha provado a suposta azeitona do Ceilão, também comestível.  Mas mordisquei um fruto imaturo, ainda alaranjado e duro, pois é a coisa mais difícil do mundo encontrar caferana madura no pé.  De um dia para o outro o fruto passa de laranja para vermelho e os passarinhos, a gente sabe, acordam mais cedo.  Então, experimentei assim, não gostei e desisti.  Não tinha noção do que estava perdendo.

Só muito recentemente consegui encontrar uma outra árvore -  aliás, duas - agora bem mais perto de mim, aqui em São Paulo e com a sorte de ter um fruto maduro, vermelho, lindo de ver.  Colhi, era macio. Cheirei, não tinha perfume.  Restava provar  e aí, então, fui fisgada pela rubra manteiga de amendoim encapsulada.  Ajuizadamente fui logo perguntando a respeito para uma amiga viveirista. Juliana Valentini, do Viveiro dos Oitis, sabida, veio sem titubear com o nome completo, Bunchosia armeniaca, e aí foi fácil descobrir a ficha completa, pois nome científico costuma ser um só (quando não tem mais que um padrinho, isto acontece).

Aliás, a fruta é exótica, parente da acerola, porém, diferente das mangas ou jacas que vieram da longínqua Ásia, esta tem origem próxima. É dos Andes da Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. E, sorte nossa, se deu muito bem por aqui. Estamos em plena temporada de flores, frutos verdes, laranjas e maduros na mesma árvore. Seu desenvolvimento é rápido e a safra dura alguns meses. Costuma aparecer como árvore ornamental em algumas calçadas Brasil afora. É só ficar de olho. Em São Paulo são várias espalhadas pela cidade com ajuda de pássaros que carregam o fruto para a redondeza para comer no sossego da copa de outra árvore. Sementes também germinam facilmente em volta da árvore-mãe e por isto poderá conseguir uma muda se arrancar um desses brotos que não terão chance alguma de crescer na sombra e replantá-lo em outro lugar. É uma ótima árvore para calçadas, porque é decorativa,  com bela floração amarela, não cresce muito e atrai muitos passarinhos. Se quiser comprar uma muda, procure em viveiros de frutas como o Ciprest (ciprest.com.br) que entrega a encomenda por correio.

Agora, se você conhece vai me dar razão e, se nunca provou a fruta,  sua curiosidade deve ter sido atiçada quando eu disse um de seus nomes: fruta manteiga de amendoim ou peanutbutter fruit, como é mais conhecida em inglês. Pois é, a fruta parece um pacotinho de manteiga de amendoim com consistência de doce de feijão e cor de extrato de tomate embalado em celofane finíssimo que se funde com a massa. Se você come de olhos fechados vai sentir fortemente o sabor de amendoim cozido. Sua consistência pastosa permite que seja passada diretamente sobre o pão, torrada ou panquecas - basta juntar um daqueles adornos que costumam acompanhar a manteiga de amendoim, como geleia, mel, xarope de bordo, de agave ou melado de cana, para você acreditar que a tal manteiga mudou de cor.

Está certo que metade do volume da fruta é ocupado pela semente, que é tão ou mais decorativa quanto o fruto, com uma pontinha vermelha. Mas o bom é que a semente é muito dura e a polpa muito mole, de modo que basta esfregar o fruto maduro nas tramas de uma peneira para conseguir separar as duas partes facilmente.  A massa vermelha obtida é cremosa, lisa, doce e com sabor amendoado. Não tem muito perfume nem acidez e isto a diferencia um pouco de outros frutos. Em compensação, é só juntar umas gotas de vinagre ou limão para que se transforme num delicioso molho como o de tomate se for preparado igual. A falta de acidez e cremosidade também faz dela uma fruta perfeita para bater com iogurte ou kefir.  E ainda vai bem na vitamina de banana, no sorvete, nos doces em pastas ou simplesmente como corante para pratos salgados do mesmo modo que a massa de tomate. Para pratos vermelhos agridoces, melhor ainda, pois além da cor tem o açúcar, sendo a acidez fácil de conseguir. 

A receita a seguir foi inspirada nas panquecas fofas japonesas, ou dorayaki, mas recheadas à moda americana com manteiga de amendoim sem açúcar e banana. No lugar de morangos,  pequenas porções cremosas de caferana que se fundem com a manteiga de amendoim, intensificando sua presença.  Pra completar, um fio de melado de cana e nhac! 

Panquecas recheadas com caferana, banana e manteiga de amendoim

Para a massa
3 ovos inteiros
¾ de xícara de açúcar (135 g)
1 colher (sopa) de mel
1 e ½ xícara de farinha de trigo branca (180 g)
2/3 de xícara de água (180 ml)
1 colher (chá) de fermento químico em pó

Para o recheio
10 colheres (sopa) de manteiga de amendoim pura, sem açúcar
6 bananas
20 caferanas bem maduras
5 colheres (sopa) de melado de cana

Faça a massa: na batedeira, bata os ovos com o açúcar e o mel até espumar.  Com a batedeira ligada no mínimo, junte a farinha aos poucos, alternando com a água misturada com o fermento.  Bata até a massa ficar homogênea.  Passe um guardanapo de papel com um pouco de óleo na superfície de uma frigideira antiaderente e deixe aquecer no fogo baixo. Despeje uma porção equivalente a uma colher de servir no meio da frigideira e deixe cozinhar até dourar ? quando aparecem bolhinhas na superfície da massa. Vire com uma espátula e deixe cozinhar do outro lado, sem deixar dourar.  Vá empilhando as panquecas até terminar a massa.
Recheie:  passe sobre cada panqueca um pouco de manteiga de amendoim , Distribua sobre elas rodelas de banana  e pedaços de caferana.  Faça conjunto de 3 ou mais panquecas e cubra com um fio de melado de cana. Se quiser impressionar, sirva várias empilhadas como as da foto e separe-as na hora de servir.
Rende: 24 panquecas (ou cerca de 6 porções)

DICAS

Colher e deixar amadurecer: as caferanas dificilmente ficam dando sopa maduras no pé. Os passarinhos chegam antes.  Em compensação, amadurecem rápido. Colha as frutas alaranjadas e deixe-as na fruteira. Estarão maduras quando ganharem coloração vermelho vivo e ficarem macias.

Para congelar: se não quiser usar as frutas assim que amadurecerem, ou se se deparar com uma grande safra, lave-as com delicadeza quando estiverem maduras e espalhe em bandeja. Leve ao freezer para que congelem em aberto. Quando as frutas estiverem congeladas, solte-as e embale em saco plástico. Feche bem e mantenha no freezer até o momento de  usar. Não precisa descongelar antes, pois elas ficam firmes mas nunca duras e, assim,  podem ser cortadas em lascas com mais facilidade (isto não é possível quando estão maduras e em temperatura ambiente).






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