Lá em Conceição de Almeida, no Recôncavo Baiano, quando fui participar do Dia da Araruta, o engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A (EBDA), o Adelmo Pinheiro, me levou para conhecer muitos pontos interessantes como o mercado com seu pavilhão de farinhas, por exemplo.
Mas o lugar mais acolhedor foi mesmo na casa da sua mãe, dona Carmem, no final de um dia de bate-pernas, só para dizer um oi e conhecer seus pezinhos de araruta no jardim em frente a uma confortável cozinha aberta. A degustação de palavras e o elogio do filho ao cuscuz de inhame da mãe bastou para aguçar curiosidades. E pedi a receita que ela foi dando aos poucos em quantidades aproximadas.
Desde que cheguei aqui estava pra fazer, só agora consegui. Não tenho nenhuma referência de comparação a não ser as palavras da dona Carmem e as fotos do cuscuz que Adelmo me mandou depois. Mas fica uma delícia, especialmente depois de morno ou frio, regado com leite de coco levemente adocicado.
Cuscuz de inhame da Silvinha e da dona Carmem - fotos gentilmente cedidas pelos autores
Silvinha, minha amiga baiana que estava comigo na empreitada pelo Recôncavo, também, se animou a fazer o cuscuz que ela mesma não conhecia. E também me mandou foto. Minha primeira experiência não deu muito certo. Inhame muito mole, pouco açúcar (dona Carmem diz que o açúcar é a gosto). O da Silvinha ficou muito doce. Mas na segunda vez chegamos a um acordo em relação a isto e acho que a doçura da receita abaixo ficará do agrado da maioria.
O ingrediente usado: para que não reste dúvida em relação à espécie vegetal usada, já que em São Paulo chamamos o inhame de cará ou inhame do norte, o ingrediente deste cuscuz é o que baianos chamam de inhame, do gênero Dioscorea, planta trepadeira e nem um pouco parecida com aquelas Aráceas como o inhame japonês e taioba, por exemplo.
Cuscuz de inhame da Dona Carmem
500 g de inhame (cará) cozido mas firme, frio e ralado (cerca de 4 xícaras)1/2 xícara de farinha de mandioca bem branquinha, de preferência de Copioba
1/2 xícara de açúcar (ou mais, se preferir)
1 pitada de sal (foi por minha conta)
Leite de coco fresco adoçado para regar *
Numa tigela coloque o inhame ralado, a farinha, o açúcar e o sal e misture bem com um garfo (para não amassar o inhame). Arrume na parte de cima de uma cuscuzeira, sem socar, e leve ao fogo, com água na parte de baixo da panela. Deixe cozinhar até a superfície estar bem quente, saindo fumaça e estiver com textura firme (quando os ingredientes já se amalgamaram). Espere esfriar um pouco, desenforme e sirva regado com leite de coco.
Rende: 8 porções
*Bati no liquidificador pedaços de um coco com água morna até conseguir triturar sem dificuldade, coei em pano apertando bem e usei parte deste leite para regar. O restante, assim como as fibras e um pouco do inhame que sobrou, aproveitei pra fazer o bolo abaixo - que fiz a olho, mas anotei para quem possa se interessar (bom para celíacos, pois não contém glúten).
Bolo de inhame (cará) sabor coco
3/4 de xícara ou 100 g de inhame cozido, frio e ralado
1 e 1/4 de xícara ou 100 g de raspas de coco (sobra do leite de coco)
1/2 xícara ou 90 g de açúcar
1/2 xícara ou 70 g de farinha de mandioca bem fina (de preferência de Copioba)
2 xícaras de leite de coco
3 gemas
1 colher (sobremesa) de fermento em pó
Raspas da casca de um limão taiti
1 colher (chá) de erva-doce
3 claras batidas em neve com 2 colheres (sopa) de açúcar Numa tigela, misture o inhame, as raspas de coco, o açúcar e a farinha. Junte o leite de coco batido com as gemas, o fermento, as raspas de limão e a erva-doce. Misture bem. Por último, adicione as claras batidas em neve com o açúcar e misture delicadamente. Coloque em forma média de buraco no meio, untada com manteiga e polvilhada com farinha de mandioca bem fina. Leve ao forno pré-aquecido médio e deixe assar por cerca de 50 minutos ou até dourar. Rende: 8 porções Quem tiver outra receita de cuscus de inhame, estou aceitando.