A chácara Sul Paulista, de apenas 4,50 hectares, possui seis mil videiras de 10 variedades diferentes. São plantas bem aclimatadas, uma delas ali plantada há mais de 80 anos. Das três variedades próprias para vinho, uma foi trazida da Argentina por um padre amigo da família, especialmente para obter um sabor da bebida por ele apreciado. Existem ainda várias árvores frutíferas, que fornecem matéria prima para a produção de doces caseiros, atividade que também ajuda a complementar o salário de professor da rede pública.
Experiência é o que contaAmparado na experiência e na vitalidade do sogro, Sírio Batista Alves, produz vinhos tintos, brancos e rosados, secos e suaves. ?Professor Sírio? pretende também fabricar espumantes, apesar da menor demanda. Nesta safra, deve obter quase seis mil litros, principalmente de vinhos tintos.
Os doces caseiros, as uvas e os vinhos são vendidos em feira-livre, na propriedade e na residência da família, em Piraju (SP). A maioria dos seus fregueses são pessoas que já conhecem os produtos e que também se encarregam de divulgá-los.
O sogro de Sírio, Victorio Meneghel, neto de italianos, é nascido e criado naquele mesmo imóvel. Conserva sotaque carregado e, apesar dos seus 83 anos, conserva também muita disposição. É quem executa boa parte das tarefas e quem orienta o serviço de trabalhadores temporários utilizados apenas para ajudar na manutenção da chácara, principalmente, no período da colheita.
Vinho artesanalA produção do vinho é artesanal. Mesmo com instalações ainda provisórias, o zelo com a higiene é uma das preocupações. Outro cuidado é com o uso de agrotóxicos. Sírio prefere adubos e inseticidas orgânicos, limitando ao máximo o emprego de produtos químicos. ?Nesta safra, fomos favorecidos pelo clima, conseguimos boa produção e frutos de excelente qualidade com apenas uma pulverização à base de cobre?, assegura.
Depois de amassar a uva manualmente, o suco (mosto) ?descansa? por quatro dias. Em seguida, é transferido de tonel e fica por mais uns dois meses em processo de fermentação e decantação. Só é engarrafado por ocasião da venda. Não tem embalagem nem rótulos próprios.
A diferença entre um vinho seco e o suave, esclarece Sírio, fica por conta da quantidade de açúcar que conserva após o processo de fermentação. Mais açúcar resulta em vinho suave e menos açúcar, em seco.
TradiçãoA família Meneghel veio para o Brasil há mais de um século, conta Victório. ?Com menos de sete anos eu já ajudava meu avô a fazer vinho. Naquele tempo, ele mandava as crianças se lavarem bem e a gente amassava a uva com os pés?.
Pequenos detalhes influem na qualidade do vinho, ensina Victório. ?E não é só cuidado no trato da parreira?. A umidade do ar e até o horário da colheita influem. A vindima tem de ser manual e feita com tesoura para não ofender os frutos. O transporte deve ser feito de forma menos traumática possível, em caixas pequenas. Os frutos feridos devem ser eliminados e os demais, processados imediatamente. Deixar para o outro dia compromete a qualidade da bebida.
?Meu avô era muito cuidadoso com o vinho?, desde a maneira de produzir até a forma de servir, conta Victorio. E descreve um ritual quase místico, que bem retrata o zelo de seus ancestrais com a bebida: ?ele dizia que cair raio por perto ou apenas bater nos tonéis estragava a bebida. Comparava com o susto que a gente leva e que agita nosso sangue. Por isso, não deixava ninguém chegar perto dos tonéis?.
Viveiro de mudasPara o próximo ano, quando já estiver aposentado, Sírio pretende produzir mudas a partir das variedades aclimatadas que tem na chácara. ?São ótimas e produtivas. Tem pé que chega a produzir 100 kg por ano?.
Ele ainda alimenta o sonho de formar uma cooperativa ou associação de pequenos produtores de uva e tornar a região um centro vinícola.
Para se informar a respeito, informe-se pelo telefone 14 ? 3351.3560.