Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Edward Malnick, Jasper Copping e Matthew Payton. Gráfico por Jack Kempster e Mark Oliver
Muitas comidas com pouca gordura, promovidas como alimentação saudável, contém mais açúcar que a sua versão "com gordura" - em alguns casos, mais de 5 vezes mais - conforme a análise pelo Telegraph mostra.
Dúzias dos cereais mais populares, iogurtes, salgadinhos tipo chips e refeições prontas, vendidas às pessoas que querem comer uma refeição com pouca gordura, contêm níveis de açúcar que cientistas e ativistas agora avisam serem perigosos.
As divulgações chegam após a Organização Mundial de Saúde (OMS) dizer que a recomendação diária para a ingesta de açúcar adicionado deveria ser cortada pela metade, para seis colheres de chá, para ajudar a evitar problemas de saúde crescentes como obesidade e cáries.
Um estudo com 100 produtos populares com pouca ou zero gordura, de grandes redes de supermercado, descobriu que dúzias deles contêm ao menos duas colheres de chá em uma simples porção. Um em cada quatro dos produtos contém mais de 3 colheres de chá do ingrediente.
Enquanto um pouco do açúcar ocorre naturalmente, muito é adicionado - de acordo com os ativistas low carb - simplesmente para melhorar o sabor.
Experts dizem que as descobertas do Telegraph mostram como os produtos "com pouca gordura" e "com pouca caloria" podem frequentemente ter mais efeitos nocivos à saúde do que os seus equivalentes "com gordura". Eles acreditam que níveis altos de açúcar estão contribuindo não apenas para elevar os níveis de obesidade, mas também de outras condições de saúde tais como diabetes, doença cardíaca, cáries e câncer.
A análise também disparou petições para mudanças nas diretrizes sobre a quantidade de açúcar que pode ser adicionada à comida no Reino Unido, bem como para ter rótulos mais claros, evitando que os consumidores sejam enganados por itens vendidos como alternativas saudáveis a produtos que contêm níveis normais de gordura.
A pesquisa descobriu:
- Uma refeição pronta "com pouca gordura" contém quase 6 vezes o açúcar da sua versão "com gordura"
- Um iogurte "zero gordura" contém quase tanto açúcar quanto uma barra de chocolate "Mars"
- Uma única porção de sobremesa "saudável" de maçã e amoras contém 5 colheres e meia de açúcar
- Um litro de leite achocolatado "com pouca gordura" contém mais de 30 colheres de chá de açúcar, dos quais cerca de 2/3 são adicionados artificialmente
Aseem Malhotra, um cardiologista e diretor de ciências da "Ação sobre o Açúcar", um grupo de campanha, diz que as descobertas mostram que alguns produtos com pouca gordura estavam "entupidos de açúcar", apesar de propagandearem ser saudáveis. Ele disse que os fabricantes aumentam os riscos de doenças crônicas ao "enganar" os consumidores a respeito dos ingredientes de tais produtos.
"Há evidência acumulada sobre o efeito nocivo do açúcar na saúde independente das calorias, com um estudo recente revelando que o consumo excessivo triplica o risco de doença cardíaca mesmo em não-obesos", ele disse.
"O governo tem o dever e a responsabilidade de proteger seus cidadãos das manipulações e excessos da indústria alimentícia, que só está interessada no lucro e não na saúde.
O acordo de responsabilidade permite às gigantes do ramo terem uma palavra na definição das políticas de saúde pública, falhou. É hora dele ser jogado fora."
Tam Fry, do Fórum Nacional de Obesidade e presidente da Fundação para o Crescimento da Criança, disse: "Apesar de a indústria nos dizer que o açúcar não deveria ser demonizado, ele é totalmente desnecessário nos volumes em que tem sido adicionado".
Ian Marber, um nutricionista, complementa: "Qualquer um que pense que comer comida com pouca gordura é tomar uma decisão saudável, está enganado. Há frases como 'baixa gordura' que gritam saúde e que tem sido uma feliz distração que a indústria alimentícia não parece ver qualquer razão para mudar".
Ativistas afirmam que os volumes de açúcar na comida explodiram em anos recentes, em meio ao foco de reduzir os níveis de gordura, que tem sido tradicionalmente a culpada pelas doenças relacionadas à dieta. Eles dizem que produtos com pouca gordura contêm açúcar como substituto à gordura, de maneira a compensar a perda de sabor.
A indústria nega as afirmações sobre o efeito do açúcar na saúde, dizendo que "o balanço das evidências" exonera a substância de contribuir para "doenças do estilo de vida". Fabricantes insistem que apenas incluem ingredientes em produtos low-fat quando as receitas requerem, e apontam o fato de que muitos produtos contêm açúcar que ocorre naturalmente.
A OMS publicou novas propostas na quarta-feira, que retém as suas recomendações formais atuais de que não mais que 10% das calorias de um indivíduo venham do açúcar adicionado - o equivalente a 12 colheres de chá rasas para o adulto médio.
Entretanto, as diretrizes propostas afirmam que uma redução para 5% - por volta de 6 colheres de chá - "iria ter benefícios adicionais".
Os limites aplicam-se ao açúcar "livre", que é qualquer açúcar que tenha sido adicionado à comida pelo fabricante, mais aquele presente no mel, xaropes e sucos de frutas. Ele não inclui o açúcar naturalmente presente no leite, frutas, legumes e verduras.
O anúncio da OMS veio após os seus especialistas considerarem um relato feito pelos cientistas da Universidade de Newcastle que disseram que o limiar mais baixo é necessário para reduzir o decaimento dentário.
Paula Moynihan, professora de nutrição da universidade, que liderou o estudo, disse: "Há uma necessidade de rótulos mais claros sobre a quantidade de açúcar que é adicionada a comidas e bebidas.
Uma dieta balanceada saudável, com frutas, legumes e verduras suficientes e poucas comidas e bebidas adoçadas não precisa conter mais que 5% das calorias sob forma de açúcares livres".
Ativistas querem que as novas diretrizes sejam adotadas no Reino Unido, onde o sistema de saúde pública está atualmente em concordância com as recomendações vigentes da OMS. Eles também querem que os rótulos dos produtos informem quanto do açúcar total é açúcar "livre".
O estudo envolveu a análise de níveis de açúcar em 100 produtos vendidos como "saudáveis", "baixa caloria", "pouca gordura", "zero gordura", "sem gordura hidrogenada" ou "gorduras reduzidas".
Dos analisados, quase metade tinha duas ou mais colheres rasas de açúcar, enquanto 26 continham 3 ou mais.
Em 20 casos, comparamos os itens com o equivalente "integral". Desses, nove continham mais a açúcar que o item "com gordura". Esses incluem uma refeição pronta de salsicha e purê de batata com 6 gramas de açúcar - mais de 5 vezes o contido no produto "normal".
Os produtos com os níveis mais altos foram um pudim de chocolate e um iogurte de amoras, ambos com 6.5 colheres de açúcar.
O açúcar contido naturalmente no leite no leite é responsável por cerca de 60% do 16g de açúcar contidos em um pote de 125g de iogurte de morango low-fat da Tesco, e os demais 40% vem de açúcares adicionados, de acordo com estimativas feitas por nutricionistas.
Os representantes das marcas Marks & Spencer, Tesco, Sainsbury's e Waitrose, cujos produtos tiveram avaliação ruim, disseram que esses produtos estavam rotulados claramente, para permitir aos consumidores fazer escolhas bem-informadas. O porta-voz da Tesco ainda comentou sobre a sua sobremesa de maçã e amoras: "Não é um produto com pouco açúcar, e nem está rotulado assim".
O representante da Sainsbury's disse que apenas dois dos seis produtos na pesquisa continnham açúcar adicionado.
Barbara Gallani, diretora de ciência regulatória e saúde na Federação de Comida e Bebida, um órgão industrial, disse: "Onde os açúcares são incluídos em produtos, as diferentes fontes são claramente rotuladas na lista de ingredientes e a quantidade total de açúcares é provida na tabela nutricional".
Um porta-voz do Departamento de Saúde disse: "Ajudar as pessoas a comer menos calorias, incluindo açúcar, é um ponto-chave do Acordo de Responsabilidade e dos nossos esforços para reduzir a obesidade. A indústria alimentícia também concordou com um rótulo frontal para os produtos que vai ajudar as pessoas a manter o controle do que elas estão comendo e a fazer escolhas mais saudáveis".