Adolescência e Alimentação Saudável: desafios e estratégias
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Adolescência e Alimentação Saudável: desafios e estratégias


Por Cainara Lins e Isis Alves

A adolescência é uma fase da vida onde ocorrem profundas transformações biológicas e psico-sociais que envolvem intenso crescimento e desenvolvimento. Esta fase é também caracterizada por um aumento das necessidades de energia e nutrientes para poder proporcionar um crescimento adequado. Inúmeros fatores ambientais intervêm no processo de crescimento e não há dúvidas de que um dos mais importantes é a nutrição. Para nos esclarecer um pouco mais sobre o tema, a nossa entrevistada de hoje é a professora Doutora Natacha Toral Bertolin.

Graduada em Nutrição pela Universidade de Brasília (2002), Natacha possui especialização em Adolescência para Equipe Multidisciplinar pela Universidade Federal de São Paulo (2003), mestrado e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (2006 e 2010). Atuou como consultora técnica da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde de 2006 a 2010. Atualmente, é professora adjunta do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição em Saúde Pública, atuando principalmente nos seguintes temas: comportamento e consumo alimentar, adolescentes, Modelo Transteórico e perfil nutricional de populações.

No decorrer da entrevista Natacha fala um pouco sobre o motivo do seu interesse em trabalhar com adolescentes, os principais desafios e estratégias em abordar a temática da alimentação saudável e a situação brasileira frente à elaboração de políticas públicas voltadas para esse grupo.

Por que o seu interesse em trabalhar com adolescentes?

Muitas pessoas criticam o público adolescente, dizendo que é uma fase de muitos problemas e muitas angústias, mas sabendo cativá-los e conquistando sua confiança tem-se um espaço aberto para trabalhar com questões de alimentação saudável e saúde. Os hábitos alimentares estão cada vez piores e eles não percebem esse hábito inadequado, ou mesmo quando sabem não se interessam em modificá-los e isso se constitui em um risco grande, pois os hábitos adotados na adolescência têm grande chance de se manterem na vida adulta.
A adolescência caracteriza-se como uma fase de risco, pois cada vez mais se vê a ocorrência de doenças crônicas como a obesidade, por exemplo, em alta prevalência nos adolescentes, sendo que tais doenças antes se manifestavam com maior freqüência na fase adulta ou em idosos.

Quais as principais estratégias a serem utilizadas nessa fase?

Acredito que seja fazer com que os adolescentes tenham uma conscientização sobre seus hábitos nutricionais, pois se eles não percebem que sua alimentação está inadequada, não irão se motivar para modificar esses hábitos. O grande desafio é passar a importância da alimentação saudável para esse público e que eles reconheçam que isso é importante ainda na adolescência, e não como algo que eles tenham que se preocupar somente no futuro. De forma geral, deve-se que incentivar o consumo de frutas e hortaliças e ter o cuidado com a influência da mídia e do consumo, onde muitas vezes são veiculadas informações totalmente inadequadas, tanto para a realização de dietas desbalanceadas, quanto em relação à questão da imagem corporal. São aspectos imperceptíveis, mas que podem ter impacto na vida dos adolescentes a longo prazo.

Qual o assunto que os adolescentes mais se interessam?

O tema da imagem corporal é o que eles mais se interessam, porque eles vivenciam mudanças continuas no corpo. Como a mídia transmite constantemente essa questão da beleza, isso gera uma cobrança muito grande neles. Para tratar o assunto, deve-se deixar bem claro que a imagem que é passada pela mídia associada à beleza nem sempre leva em consideração a questão da saúde, podendo levar a alguns riscos.

Qual o assunto mais difícil de trabalhar com adolescentes?

O mais difícil é a incorporação dos hábitos alimentares saudáveis no dia-a-dia. Existem várias barreiras que os impedem de adotar hábitos saudáveis, como a falta de tempo (eles acham que já possuem uma vida muito corrida) e ter poucas opções lanches saudáveis na escola. Eles conseguem identificar tais limitações mais isso acaba sendo uma barreira para adotar hábitos saudáveis na adolescência. Essas limitações se tornam um aspecto importante para se trabalhar com eles em ações de educação nutricional.

Como melhorar o vínculo com os pais para se ter ações mais efetivas?

Quando se trabalha com o adolescente, acaba-se trabalhando indiretamente com a família, mas quando se consegue trazer os pais para a atividade de educação nutricional, pode-se ter um trabalho mais efetivo. Apesar dos adolescentes terem mais independência na escolha dos alimentos, quando chegam em casa, não são eles que irão preparar os alimentos, além disso dependem do que é comprado pela família.
É muito importante trabalhar com a família, pois ela que irá estabelecer com que esses hábitos sejam mantidos na vida do adolescente, até sua obtenção da independência total em relação à alimentação.

Como se faz pra cativar os adolescentes mais resistentes?

O profissional precisa estabelecer uma relação de confiança com o adolescente, para que ele consiga se enxergar em um ambiente favorável e agradável, que não propicie só imposições, e sim como algo que o beneficie e que ele possa incorporar no seu dia-a-dia.

Como está a política social do Brasil com relação aos adolescentes?

A área de saúde dentro do Ministério da Saúde tem mostrado trabalhos mais significativos voltados para o adolescente. Há pouco tempo foi estabelecida a caderneta de saúde do adolescente, que é um instrumento importante para monitorar o crescimento do adolescente na atenção básica. Esse monitoramento do crescimento do adolescente também vem sendo incorporado dentro do Programa Saúde na Escola, que é outro programa com foco na adolescência, mas que é voltado pra fase escolar de forma geral.
O Programa Saúde na Escola trás questões da promoção da saúde para dentro do ambiente escolar, sendo uma forma de estabelecer um vínculo entre as estratégias da saúde da família com o âmbito escolar, espaço ideal para irradiar informações sobre saúde. Existem também programas pontuais; aqui no Distrito Federal há os Praias e o Adolescentro.

O que preciso ser feito para melhorar a atenção nutricional a esse grupo?

Elaborar ações de educação nutricional melhor embasadas e trabalhar por meio dos núcleos de apoio a saúde da família (NASF), já que se constituem em um espaço onde se pode contar com o nutricionista. Acredito que poderia existir uma estratégia em que os NASF?s apoiassem ações educativas voltadas para o adolescente.

Referências:
BRAGGION, GF; MATSUDO, SMM; MATSUDO, VKR. Consumo alimentar, atividade física e percepção da aparência corporal em adolescentes. Rev. Bras. De Ciên. Mov. 2000, v.8, n.1, p15-21.

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Disponível em:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4702436U3 Acesso em: 02/12/2010.




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