Comida hospitalar tóxica: a desconexão entre dieta e doença
Comida Saudável

Comida hospitalar tóxica: a desconexão entre dieta e doença


Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Ashley Rekem

Se você algum dia experimetnar hospitalização, então prepare-se para montes de comida processada. Comida de hospital exemplifica um dos problemas institucionais chave na medicina americana: ignorância ou às vezes completo desinteresse pela importância da dieta em favor de procedimentos farmacêuticos intensivos.

Eu trabalho em um hospital e uma vez vi um paciente com diabetes tipo 2 avançado e falha renal decorrente, comendo sucrilhos açucarados. Pelos padrões do hospital isso é ok, dado que ele estava dentro do seu limite de carboidratos para aquela refeição.

Eu compreendo o procedimento do hospital. É ok permitir que pacientes diabéticos comam carboidratos processados, nocivos, e comidas açucaradas. O pensamento corrente é algo mais ou menos assim: "Nós vamos acertar as contas dando uma injeção de insulina".

Eu vejo pacientes cardíacos e diabéticos comerem cereais, iogurtes sem gordura e pudins lotados de açúcar, pão branco, massas, bebidas doces e suco adoçado com xarope de milho de alta frutose. Alguém aceita Ensure (N.T.: suplemento alimentar adulto) ? Algumas das formulações de Ensure que eu já vi serem dadas a paicentes tinham mais açúcar que uma Coca-cola.



Poderia-se dizer que estadias hospitalares duram apenas alguns dias, então não importa muito que pacientes comam essas comidas por períodos curtos. Eu discordo porque acho que a mensagem "coma o que quiser e controle o desfecho com medicamentos" vai para casa com o paciente.

Eu tenho que perguntar: a medicina vigente realmente sabe o suficiente sobre o gerenciamento apropriado de doenças crônicas como diabetes tipo 2 e doença cardíaca ?

Os médicos parecem achar que sim. Eu nunca me esquecerei da vez em que estive num quarto com uma paciente que tinha bloqueios nas artérias coronárias. Um time de cirurgiões cardíacos entrou para falar com ela sobre o que aconteceria a seguir. O cirurgião-chefe sorriu e disse: "Vamos fazer um trabalho de encanadores aqui. Eu acho que um bypass triplo deve resolver, e tudo vai ficar bem".

Não é somente o fato de que medicamentos e procedimentos são empurrados como primeira linha de tratamento – ao invés de comida – porque são lucrativos. Tratar doenças crônicas dessa maneira é um problema institucional, ou como eu chamo, "um problema de república estudantil".

Você é o médico charlatão se tentar ir contra a corrente de usar remédios para tratar pacientes; te olham como um irmão perdido, um pária. Drogas e cirurgias podem resolver tudo. Drogas são a maneira sofisticada de lidar com a doença, não a nutrição. Isso não é medicina de verdade.

Os doutores fizeram um comentário para ela sobre como ela precisava controlar melhor seu diabetes tipo 2. Em medicina está bem compreendido que diabetes tipo 2 está altamente ligada à doença cardíaca.

Eu escrevi uma vez que pré-diabetes e diabetes tipo 2 são um contínuo. São resultados do mesmo problema – resistência à insulina. Na prática, o contínuo inteiro funciona assim: resistência à insulina e deficiência não-detectável no metabolismo da glicose, depois deficiência detectável no metabolismo da glicose (ou pré-diabetes), depois diabetes tipo 2 e depois doença cardíaca grave. Apesar de doença cardíaca não vir necessariamente por último, ela se desenvolve à medida que os problemas na metabolização de carboidratos acontecem.

É claro que há outras causas para doença cardíaca, mas na maioria dos casos é devida a dietas ricas em carboidratos processados e açúcar que causam inflamação sistêmica e danificam o metabolismo da glicose – que afeta diretamente o metabolismo da gordura.

Em qualquer caso, nada disso foi explicado à paciente. Eles poderiam ter tirado um minuto para explicar a conexão e o motivo pelo qual era tão importante que ela controlasse o seu diabetes através do que come.

Ao invés, deram a ela um pedaço de papael que parecia um artefato dos anos 1970. Era a "dieta do cardíacao".  Eu gosto de chamá-la de "dieta do rapidinho estarei de volta para outro bypass cardíaco". É claro que vegetais e frutas são mencionados, mas apenas alimentos sem gordura – geralmente compensada com montes de açúcar para dar sabor – são permitidos, e pães e massas feitos de grãos integrais processados de alto índice glicêmico são encorajados. Essas são exatamente as comidas que fazem com que o diabetes tipo 2 e a doença cardíaca se desenvolvam e piorem.

É também o mesmo blablablá sem sentido propagado pelo Departamento Americano de Agricultura – baseado em descobertas científicas insuficientes dos anos 1950, sobre gorduras dietéticas – e subsequentemente pela Associação Americana do Diabetes e outras organizações de saúde.

A sugestão tem sido comer dietas dominantes em carboidartos – alimentos com pouca ou nenhuma gordura e grãos integrais, com mensagens do tipo: "Procure por embalagens que informem 100% grãos integrais".

Grãos têm alto índice glicêmico. Trigo integral tem um dos índices glicêmicos mais altos e não é saudável para diabéticos. Na prática, pessoas que tem tolerância ruim à glicose não deveriam comer grãos de jeito nenhum.

Não há nada de integral em um grão que foi moído. Comê-lo em forma processada e empacotada é tão ruim para a glicemia quanto comer farinha branca.

A desconexão entre nutrição e saúde está espalhada pela área de saúde, não apenas em hospitais.

Vou tomar um exemplo da minha experiência pessoal. Quando eu tive pré-diabetes, meu médico me prescreveu metformina, mas isso não foi o movimento correto pela minha saúde. Eu não precisava gastar meu dinheiro em um medicamento que melhoraria minha sensibilidade à insulina. Cortar os alimentos problemáticos (carboidratos processados que rapidamente se transformam em açúcar) teriam melhorado minha sensibilidade à insulina e promovido perda de peso, o que aumentaria ainda mais a sensibilidade à insulina.

Meu médico tinha prescrito metformina roboticamente, e eu não recebi qualquer aconselhamento nutricional. Eu aprendi o que fazer e o que estava fazendo de errado lendo um monte de pesquisas e tomando aulas de bioquímica e endocrinologia.

Meu médico não podia me dizer o motivo pelo qual meus triglicérides estavam altos e meus níveis de HDL estavam baixos. Ele disse "Eu não tenho idéia, não consigo te dizer nem porque os meus níveis de triglicérides estão altos".

Agora eu poderia entrar no seu consultório e dizer "aquela pança que você tem é um acúmulo de gordura visceral perigosa, ao redor dos seus órgãos. Essa é uma barriga de açúcar, uma barriga de trigo, uma barriga de carbos, e esse é o motivo pelo qual seus triglicérides estão altos".

Ele também não me disse que a metformina interfere com a absorção de vitamina B12. Eu descobri isso sozinha, ao me tornar deficiente.

Obviamente há também a desconexão pelo lado dos pacientes também, não apenas dos profissionais de saúde. Com toda a propaganda farmacêutica e as chamadas tipo "pergunte ao seu médico", não é de se espantar que nós americanos nos tornamos tão dependentes de drogas. Está entranhado em muitos de nós que medicamentos são a solução mais nobre para resolver nossas dores; que algo mais avançado que uma simples mudança de estilo de vida é a solução.

Eu aplaudo os médicos que estão trabalhando para tornar normal o uso de intervenções dietéticas para ganhar saúde, mas esses médicos são poucos e estão espalhados.

Eis aqui um exemplo de médico, a Dra. Sarah Hallberg, que sabe do que está falando.



A Dra. Hallberg não fala sobre drogas. Na prática, ela frisa o ponto de que ajudou pessoas que tomaram drogas para diabetes tipo 2 por muitos anos, a se livrarem delas; e ela critica a Associação Americana do Diabetes por não estabelecer qualquer objetivo para reverter o diabetes tipo 2.

"Intervenções com low-carb funcionam tão rapidamente", diz ela, "que podemos literalmente tirar dos pacientes centenas de unidades de insulina em dias, semanas... meus pacientes comem gordura, e um bocado dela. Gordura é o único macronutriente que vai manter nossos níveis de glicose e insulina baixos".

Eu compreendo que nem todo paciente vai ouvir qualquer aconselhamento nutricional, e que eles preferem comer o que quiserem e tomarem remédios, apesar de tais medicamentos nunca substituírem uma dieta saudável. Mudanças dietéticas podem reverter muitas doenças crônicas, enquanto medicamentos e procedimentos simplesmente controlam sintomas e complicações.

E não, nutrição não é necessariamente a cura para todas as doenças. Dizer isso é charlatanismo. Há, obviamente, situações em que remédios e intervenções modernas são necessárias.



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