Em volta do mercado da Lapa há sempre ambulantes vendendo feijão verde, pimentas, mandiocas descascadas, jiló, maxixe, coentros, bolo de massa puba, castanhas de caju tostadas artesanalmente e outros produtos regionais não encontrados nas bancas oficiais. E quando é epoca de pequi e umbu, eles estão sempre lá. E o tempo é este. Já falei bastante desta frutinha por aqui (é só procurar no campo de busca aí do lado).
Comprei umbu de São Luiz do Maranhão e aproveitei pra perguntar para uma mulher que comprava também como ela faria a sua umbuzada (o prato nodestino mais comum que conheço feito com a frutinha - uma espécie de coalhada doce, azedinha e perfumada à fruta).
É fácil, minha filha, é só cunzinhar este tanto aí com um litro de leite e um quilo de açúcar. /
E só? /
É só isso./
E o que faço com o caroço? /
Ué, é só cuspir.
Cheguei e contei o causo pra Eliana, a baiana que trabalha aqui em casa. Ela deu foi risada, porque acha que a mulher zoou com a minha cara.
Onde já se viu, dona Neide, tudo isto de açúcar pra este tantinho de fruta? (cerca de meio quilo).
E este leite todo fervendo e derramando no fugão? Não é ela que limpa, né? Agora, imagina, Dona Neide, este seu chão brilhando cheio de caroço guspido? Mulé porca sem-vergonha! (o pior é que a mulher falou sério).
Claro, deixei a umbuzada ao seu comando. Fiquei só anotando e fotografando. As frutinhas estavam bem verdes, mas já cheias, como diz ela. Então, era só cozinhar, juntar o leite e o açúcar. Se tivessem bem madurinhas, bastava espremer o sumo no leite quente e mexer. Mas vamos lá à receita dela que ficou um encanto.
Umbuzada - receita de Eliana Santiago 270 g de umbus verdes (23 unidades pequenas)
1 xícara de água
1,5 xícara de leite
1/2 xícara de açúcar (ou menos, se quiser - mas para o sorvete, receita abaixo, esta quantidade ficou boa)
Lave bem os umbus, tire restos de cabinhos e leve ao fogo com a água. Cozinhe por cerca de 5 minutos ou até a água quase secar e os umbus ficarem molinhos. Junte o leite e o açúcar e mexa bem. Cozinhe por cerca de 3 minutos ou até os umbus se desmancharem.
Passe por uma peneira para separar os caroços e sirva quente ou gelado.
Rende 2,5 xícaras
Nota: Se quiser, pode cozinhar a fruta com o leite e o açúcar - neste caso junte um pouco mais de leite. Os gránulos da coalhada ficarão mais firmes. Fizemos as duas versões e eu preferi esta idéia de cozinhar as frutas primeiro em água. Fica uma coalhada mais macia.
Sorvete de umbuzada Depois de a umbuzada pronta e deliciosa, Eliana ainda deu a idéia de fazer sorvete. Foi só gelar a mistura e bater na sorveteira, que já estava no freezer, por cerca de 25 minutos. Se usar menos açúcar, talvez congele um pouco antes. Se não tiver sorveteira, congele em forma de gelo e bata, depois, no processador. E, se não tiver processador, simplesmente congele e chupe. O ideal é bater a mistura antes no liquidificador. Eu não bati e restaram os grãos da coalhada. Mas ainda assim ficou saborosíssimo. Ananda não sabia do que era e chutou uvas verdes. Mas posso dizer que ficou muito melhor. Todo mundo gostou. Faltou uma caldinha com pedacinhos de umbu cozidos em vinho de jabuticaba. Fica para a próxima.
Era pra ser uma caldinha Caldinha para o sorvete - sugestão. Isto era pra ser a caldinha do sorvete. Umas lasquinhas de umbu cozidas com vinho de jabuticaba e açúcar. Coloquei tudo no fogo, numa frigideirinha antiaderente, só pra derreter o açúcar, coisa de 1 ou 2 minutos e plim, desliguei. Fui pegar uma coisinha na sala e, no meio do caminho, resolvi ir tomar banho. Depois de um tempão, já debaixo do chuveiro, comecei a achar que a casa do vizinho estava pegando fogo, a fumaça já invadindo meus quartos e banheiro. E, plim, me lembrei da caldinha. Desci correndo em tempo de evitar uma tragédia maior. Não salvei a calda, mas pude constatar o quão boa é minha frigideira antiaderente (ou bem o contrário disto) - a crosta estava totalmente solta dela.