Comida Saudável
Pão alentejano e seus saquinhos
Enquanto estive no Alentejo fiquei a pensar o que seria daquele povo se a moda americana em voga por aqui chegasse por lá - aquela bobagem do glúten-free que só se justifica para quem tem doença celíaca ou intolerância ao glúten. Vi por onde passei pessoas alegres, receptivas, bonitas e com corpos comuns que, à luz dos valores de normalidade aceitos pelo Índice de Massa Corporea, me pareceram ok.
No entanto, o pão e o azeite estão presentes de manhã à noite na mesa do alentejano. Nas entradas, no prato principal e na sobremesa. O que seriam das deliciosas açordas de coentro e alho, de bacalhau, de poejo e de beldroegas? Das migas, farinheiras e alheiras? E as tostas com azeite ou açúcar? E o que seriam de nós turistas sem estas delícias?
É um pão que me fez lembrar o pão toscano, com a diferença de que aquele não leva sal. Já o alentejano é salgado na medida certa, tem miolo firme e aerado e crosta enfarinhada bem dourada. Assado em forno de lenha, tem uma aparência apetitosa. E, mesmo quando não está tão fresco, basta jogar por cima um pouco de azeite extra-virgem e eu poderia passar assim durante um dia todo. De preferência acompanhado por um copito de vinho. Ou até água bem fresca. Comi alguns mais ácidos, outros mais leves, mas todos deliciosos, feitos geralmente com isca de fermento natural (geralmente, porque a receita da mãe da recepcionista do hotel é feito com fermento em tablete - que também é fermento biológico, só que menos complexo). E parece que há até uma rezinha específica para que a massa cortada em cruz cresça com vigor. Saiba mais sobre ele e veja aqui uma receita.
A moça do saquinho branco é a Claudia, da Adega Mayor, que estava oferecendo degustação de azeite com pão alentejano na Vinipax e Olivipax.
Um fato curioso é a forma de se guardar o pão alentejano. São saquinhos feitos com restos de tecido de confecção das roupas, como forma de aproveitamento. Vi vários assim, com retalhos xadrezes e floridos, forrados e com cordão dos dois lados. Podem ir à mesa assim, como um embrulho de presente, sem macular a tábua de refeição como o faz os indesejáveis saquinhos plásticos de hoje. Vi alguns feitos de um só tecido, mas todos parecem ser confortáveis e uma boa opção para não ferir a dignidade do senhor pão alentejano. Alguém por lá citou o nome desses saquinhos, mas quem diz que guardei? Lembro de algo como forné, borné ... ou palavra parecida com o nosso bornal. Alguém sabe?
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