Foram dias intensos estes passados. Dormi em cinco camas diferentes, conheci muita gente simpática e interessante e trouxe mais do que levei. Tive tratamento vip em todos os lugares por onde andei e tratamento de choque contra a vergonha de falar em público. A vaidade de não querer errar, decepcionar, falar besteiras, atropelar as ideias ou esquecer a sintaxe foi às favas nestes dias. Quando via já estava lá um microfone na minha frente.
O dia de campo da araruta Acho que já falei aqui que tudo começou quando o engenheiro agrônomo Adelmo Pinheiro, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) leu um post sobre araruta e me mandou um email no 2 de setembro do ano passado: Oi Neide, li no seu Blog sobre a dificuldade de encontrar araruta de boa qualidade e confirmo a informação. Aqui no Recôncavo da Bahia a fécula da araruta desapareceu dos mercados. Estamos num movimento de resgate do cultivo que tem mostrado os primeiros resultados. Organizamos um dia de campo com produtores com o intuito de reativar a produção e o consumo e os primeiros interessados ja começaram a aparecer. Tenho interesse em identificar potenciais compradores e colocar em contato com produtores. Sei onde pode encontrar araruta verdadeira e de boa qualidade. Caso tenha interesse, terei prazer em ajudar. Um abraço, Eng. Agr. Adelmo Pinheiro.
Bem, continuamos o contato e ele me falou do produtor Pedro Coni, presidente da Aporba (Associação dos produtores orgânicos do Recôncavo Baiano) e um entusiasta sem igual desta cultura. Coincidentemente, descobri pelo sobrenome que é um primo de segundo grau da minha amiga baiana, a ceramista Silvia Lopes, que me deu o prazer de sua companhia nestes dias corridos. O fato de ter divulgado a araruta do Recôncavo no Come-se fez alavancar a venda do produto e aos poucos o Pedro tem conseguido convencer outros pequenos produtores a investir no cultivo da planta. E, por fim, acabei saindo da sombra das letras virtuais para me materializar sob o sol baiano para falar da fécula na cozinha, no Dia de Campo da Araruta. O encontro conteceu na fazenda Gurgel, também de primos da Silvinha, e reuniu cerca de 400 pessoas, entre técnicos agrícolas, estudantes universitários e produtores. A intenção era dar mais informações sobre a fécula e particularidades do cultivo desta planta, que aos poucos foi sendo abandonado (embora se encontre muito gato vendido a preço de lebre por aí). No Recôncavo atualmente a fécula já pode ser encontrada em potinhos pequenos com um preço mais elevado em relação à goma de mandioca, porque a produtividade é pequena e os produtores ainda são poucos. Biscoitinhos com a fécula e temperos feitos com o rizoma (feitos pela Nil, em Conceição de Almeida - foto abaixo), são outras opções de produtos encontrados por lá. Fora a programação do dia de campo, ainda tive o privilégio de ser levada pelo Adelmo para conhecer o mercado de farinhas de Santo Antônio de Jesus, onde todos os boxes vendem "a melhor farinha de copioba do Recôncavo", descobrir como é feito o carimã ou puba, usado em bolos e mingaus (mas não em farinhas, como no Norte), comer frango de quintal ao molho pardo e ainda pegar uma receita de cuscuz de inhame com sua mãe. Visitei também a Estação Experimental de Fruticultura Tropical, em Conceição de Almeida, a convite do pesquisador José Vieira Uzêda Luna e vi pés de durião, champedaque e jenipapo sem sementes. Depois, conheci Cruz das Almas, a faculdade de agronomia da Universidade do Recôncavo Baiano, o mercado de farinhas, a fábrica de beijus e as instalações da Embrapa Mandioca e Fruticultura, onde fiz uma apresentação sobre mandioca e frutas a convite do pesquisador Joselito Motta. Na mala, farinhas, feijão, beijus brancos e coloridos e umas manivas diferentes para plantar. Mas falo disto tudo depois, aos poucos, no ritmo que deve ser.