Cereja-de-joinville, murtinha, cambuí-roxo
Comida Saudável

Cereja-de-joinville, murtinha, cambuí-roxo




Respondendo à charada: pois é, eu já tinha dito, parece mas não é.  Parece jambolão (jamelão é aquele outro fruto grande, cruá), azeitona, açaí e até café maduro, mas não é. Pelo menos a Zezé acertou que era uma Eugenia (o gênero) e o Sérgio-Lisboa matou o enigma: Eugenia candeollana. A Mariângela acertou que os frutinhos estavam numa cerâmica do marido Rui Gassen. Já é alguma coisa. 
Agora, os outros leitores não precisam ficar se sentindo inábeis em frutas porque em matéria de ignorância, neste caso me incluo. Pelo menos até há poucos dias. 
Estava lá na praça, no último piquenique, quando o Marcos chegou com uma frutinha na mão. Veja, o que é isto? Não sei. Onde achou? Ele me mostrou a calçada da casa abandonada e eu provei uma pontinha da bolinha rubi. Era doce, mas não quis arriscar mais. Na volta para casa, passamos por lá e colhemos algumas. 
Eu passo há anos por aquela calçada e nunca tinha visto a planta de folhas brilhantes com galhos pendendo pra rua. Já vi naquela casa pato, galinha, bananeiras e várias outras curiosidades de acordo com os hábitos de quem dela toma conta. Deve haver problemas com herdeiros, sei lá, pois a casa está abandonada desde que moro na Lapa. Só sei que é uma construção de lindo projeto e com quintal espaçoso em frente à praça onde fazemos piqueniques, mas que faz esquina com uma avenida movimentada.
As mudas que consegui pegar

As folhas brilhantes

Podem ter uma ou duas sementes como as de pitanga
Diferente de outras Eugenias, não tem bicho - não que eu tenha visto

Colhemos frutas e demos seguimento às atividades do Exército de Drummond, cujo propósito é salvar frutas em situação de risco (não em risco de extinção). Por isto catamos da calçada várias sementes germinadas e arrancamos mudinhas em formação (já estão todas aqui replantadas, todas muito bem obrigada).
Chegando em casa corri com frutos, folhas e sementes para o livro "frutas Brasileiras e exóticas cultivadas", do Harri Lorenzi e outros. Tive quase certeza que era uma mirtácea quando vi a árvore, parecida com uma jabuticabeira. Então não foi difícil. Eugenia candolleana DC, também conhecida como ameixa-da-mata, murta, murtinha. Estes três nomes são muito infelizes para identificá-la pois são aplicados a outras frutas (ameixa-da-mata também é um dos nomes da grumixama, por exemplo). Encontrei outros nomes como cereja-de-cachorro, cambuí-roxo, camboim, cambuí-da-praia, cambuí-pitanga. Mas cambuí ou camboim também denomina outra fruta e cereja-de-cachorro é nome desmerecedor do potencial culinário da fruta (sem falar nutricional, óbvio).  Acho que um nome bom é cereja-de-joinville. Ainda que eu não saiba o motivo da denominação de origem, dificilmente será confundida com cereja-do-rio-grande, também chamada de cereja-do-mato, e outras mirtáceas.  Fiquemos pois com cereja-de-joinville. 

E digo que não sei o motivo, porque a informação do livro é que a fruta é originária da mata pluvial atlântica do Rio de Janeiro e Espírito Santo e na Zona da Mata mineira. Alguém de Joinville pode me dizer se a planta cresce e frutifica com fartura por aí?  O que sei é que a fruteira é rara não só no seu ambiente natural como também em pomares. Isto explica a nossa ignorância, minha e sua, leitor que não acertou a charada. 
Até que se parece com o jambolão, mas os frutinhos são mais esféricos, só ligeiramente ovalado (o jambolão é mais comprido) e não tem aquele tanino trava-papila. São deliciosos comidos in natura, lembra um pouco uma mistura de jabuticaba e grumixama. A pele é fininha, grudada à polpa, com coloração rubi escura, e não precisa ser separada na hora de comer, contribuindo com o sabor-mistura daquelas duas frutas. A polpa é branquinha, úmida, macia, traz uma leve acidez e é muito doce e aromática. Como eu não tinha muitas, comi algumas e conservei as outras em calda de açúcar enquanto decidia o que fazer. O interessante é que em calda grossa a polpa se desidrata um pouco, demonstrando ser a pele bastante porosa. Ela cozinha mas não racha o que me deu a ideia de usar como passas ou ameixas em calda. Foi o que fiz: comi com manjar. Mas poderia ter descaroçado e usado os pedaços em bolos ou muffins ou cozinhar junto com um frango, sei lá. Isto, é claro, além de poderem virar sucos, sorvetes, geleias e afins. 
Cereja-de-joinville em calda e o manjar


Cozinhei algumas cerejas-de-joinville numa calda de açúcar (primeiro cozinhei 1 xícara de açúcar e 1 de água até formar uma calda e só então coloquei as cerejas) por cerca de 10 minutos ou até que as cascas estivessem enrugadas, coloquei em vidro aferventado, escorrido e ainda quente, tampei e guardei. 


Para o manjar misturei tudo numa panela: 1 xícara de leite, 3 colheres rasadas de maisena, 3 de açúcar e 1/4 de xícara de coco ralado fresco. Levei ao fogo e deixei cozinhar, mexendo sempre, até engrossar. Enquanto ainda estava quente, distribuí em duas forminhas, esperei esfriar e gelar. Desenformei e servi com uma calda de caramelo à qual juntei algumas cerejas-de-joinville em calda e nhac! Lembrando de tirar as sementes na boca. 








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