Comidas em Fartura
Comida Saudável

Comidas em Fartura




Por isto escrevo todo dia. Se paro, não quero mais voltar, perco o costume, fico a me perguntar pra que serve isto tudo. Dá um desânimo e uma preguiça desgramada, ainda mais quando volto da minha casa em Fartura, onde viver parece tão mais simples. Depois, mesmo sem respostas, tudo passa.
Havia alguns anos que não passava o Natal e também o Ano Novo em Fartura, em família, e de jeito tão calmo. Ninguém estava estressado, as comidas foram as de sempre, quase todas criadas, cultivadas e colhidas no próprio sítio ou na região e todos os dias foram festivos.
E o que não faltou mesmo foi assunto para o dia inteirinho, com todo mundo falando ao mesmo tempo ao redor do fogão, principalmente quando estão juntas as quatro irmãs. As prosas foram sobre a melhor conserva de pimenta (sempre se gasta algum tempo antes das refeições para se falar de pimentas, isto é comum?); sobre as abelhas arapuás que devoraram as minhas lichias que neste ano amadureceram antes do tempo; da galinha que está criando 18 pintinhos; do bezerrinho que não quer desmamar; do ninho com sabiazinhos perto da janela; do torrador de café que trabalha sozinho; das artes da nova cachorrinha Cristal; do excesso de berinjelas na horta; do pé de tomate de árvore que caiu com os ventos; do gato do mato que come as criações; do pato que quer comer a galinha ou dos perus que foram embora.
Aliás, achei que comeria peru, embora prefira frangos e angolas, mas minha mãe achou mais vantajoso vendê-los, o que não foi uma má ideia. Na véspera de ano novo, jantamos cedo, com brinde e tudo, mas nem me lembro direito o que comemos - certamente alguma comida de roça da minha mãe, excelente como sempre. Ah, sim, fiz lentilhas e panetone para forçar um costume, mas não precisava mesmo.
Fomos dormir cedo, de modo que não ouvimos os fogos nem artifícios da cidade na virado do ano. Acordamos já na manhã ensolarada do ano seguinte sem nenhuma sensação de perda. E todos os dias queríamos comer porco ou frango com muitos legumes, verduras e frutas - felizmente era o que tinha. Como pés, costelas, asas e cabeças de frangos sobravam sempre na panela, foram estes os meus pequenos exageros nestas festas, além dos gostosos mamões amarelos. De resto, foi subir e descer muito o pasto íngreme (minha casa fica bem no alto e a da minha mãe, no vale), às vezes no escuro atropelando vacas deitadas.
Se tenho visitas, cozinho em casa. Se não, mal acabo de tomar café e alguém lá embaixo já grita que o almoço está pronto. Alguns passos e tropeços morro abaixo, a visão da fumaça na chaminé e a imagem do repertório provável de comida fresca e cheirosa para o dia (minha mãe não fica inventando, em compensação os pratos que faz foram aperfeiçoados ao extremo com a repetição), fazem o apetite reaparecer rapidinho. E foi assim, lá fiquei internada só saindo um dia pra comer lichia no pé num sítio próximo e comprar arroz cateto direto da máquina, em Carlópolis, no Paraná, que faz divisa com Fartura-SP. E desta vez mais comi que fotografei. Pura pregui.
Chuchu refogado da dona Olga não pode cozinhar demais para não perder a cor. E com ovo, para o cunhado Darly.

O mangarito ainda não deu batatinhas, mas as folhas macias podem ser preparadas como as de taioba.


Fomos comprar arroz cateto em Carlópolis-PR, para fazer com suã.


Desta vez meu pai fez o doce de mamão verde com rapadura (receita a partir da garapa, veja aqui), temperado com canela e gengibre. Abelhas e abelhinhas, atacar!


Salada de catalonha com suas lindas flores azuis.

Um mar de pimentinhas cumaris voltadas para o céu.

Três espécies no mesmo espaço: moranga, jiló e berinjela.
Em menos de 20 minutos o jiló da horta virou um refogado com ovo.
A costela de porco veio do açougue.

O amarradinho de feijão paquinho veio do sítio vizinho, pra semente.
O milharal tem rendido: pamonha, cural, bolo e mingau salgado pra comer com frango caipira e quiabo (o melhor é feito assim, com o milho verde ralado para que apenas a parte mais molinha da pele dos grãos passe pelos furos do ralador, dando aspecto granulado). E pimenta, muita pimenta!

Abóboras de pescoço e morangas: sorte que elas duram meses




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