Comida Saudável
Cruá, melão-caboclo, jamelão
Livro do amigo Silvestre Silva, Frutas Brasil Frutas, que sempre me socorre nas dúvidas
De cor de berinjela - ganhei certa vez
Esta charada - a postagem anterior - não foi difícil, reconheço. Em qualquer supermercado podemos hoje comprar este fruto esquisito. Mas isto tem pouco tempo. Há uns 15 anos, quando o conheci, ele estava praticamente desaparecido. Foi em Jundiaí na casa de uma tia. Por lá o chamavam de fruta-mortadela. Levei sementes, plantei no sítio, em Fartura-SP, e em pouco tempo tínhamos um caminhão de mortadelas lindas, brilhantes e cheirosas. Nem meu pai nem minha mãe se animaram muito com a novidade. E pra falar a verdade, nem eu. Achava meio enjoativo no gosto e nem um pouco coerente com o aroma que prognosticava coisa melhor. Os nomes científicos, Sicana
Odorífera ou Cucurbita odorifera não são à toa. Odor é o que não lhe falta. Fragrância forte e agradável é sua principal qualidade. Meio a melão de chiclete ou maracujá. Na sua presença a casa inteira parece recender à salada de frutas. Recentemente consegui associar seu sabor ao do melão caipira de que tanto gosto e aí as coisas começaram a fazer sentido. Pronto, estava feita a reconciliação. Hoje, literalmente hoje - porque abri agora há pouco a fruta da foto, estou adorando a gigantona e acho que aprendi a lidar com ela.
Já vi por aí outros nomes estranhos além de fruta-mortadela. Fruta-maracujá, cura, coróa, curua, uruba, cruatina, melão maçã, melão-caboclo ou melão-do-norte e jamelão são só alguns exemplos (veja abaixo outros nomes, em outras línguas). Só não confundam com o jambolão (Syzygium cumini, Syzygium jambolanum, Eugenia jambolana ou Syzygium jambos), aquela frutinha vermelha da família das mirtáceas, parente da cereja-do-rio-grande, pitanga, acerola etc. É que às vezes esta também é chamada de jamelão. Pra não embolar, prefiro cruá, de origem tupi.
Nada a ver com a mirtáceas, o cruá é da família das Cucurbitáceas, a mesma das abóboras, melões e melancias. Aliás, junte estes três, bote aí um cheirinho de maracujá e maçã argentina, um recheio de pepino ou melão caipira bem sementoso e aguacento e embrulhe tudo como mortadela. É ele.
Nativa da América Tropical, a planta é uma trepadeira vigorosa e rústica. A casca, que pode ser cor de mortadela ou roxa, é muito dura e por isto o fruto maduro, íntegro e com o cabinho, pode durar meses ? mas não espere muito para usar, porque uma pequena trinca pode por toda a polpa a perder com mofo ou deterioração da mais fétida (experiência própria).
Quem viu recentemente, na Pinacoteca, a exposição do pintor holandês Albert Eckhout que retratou o homem e a paisagem do Brasil no século 17, pode ver cruás enormes junto a fartura de melões, abóboras e outras frutas tropicais. Mas até hoje não vi muita receita com ele além de licor. Quem sabe agora que começou a reaparecer no mercado?
Como preparar
Já disse que a casca é dura, como um cupuaçu. Pode ser quebrado, mas aí perde-se muito suco. O melhor é cortar com uma faca de serra. No começo é difícil, mas quando a faca entra, tudo fica mais fácil. Com uma colher, cavoque todo o miolo com as sementes e passe tudo por uma peneira. O suco obtido pode ser usado para fazer sorbets ou ser tomado puro como refresco ? ou batido com outras frutas. Sem bater nem acrescentar lecitina ele já tem uma espuma natural densa e durável de fazer inveja a Ferrans Adriás de plantão. A polpa que sobra junto à casca pode ser tirada com uma colher ou na forma de bolinhas, com boleador. Esta polpa é mais firme e menos aguada que a do melão e, portanto, mais cremosa. Use para fazer sorvetes, cremes, vitamina de frutas ou sopa gelada.
O fruto verde pode ser usado como legume.
Curiosidade - outros nomes por aí:
Em ingles: sikana or musk cucumber
No México: melocotonero, calabaza de olor, calabaza melón, pérsico ou alberchigo;
Em El Salvador e Guatemala: melocotón ou melón de olor;
Na Costa Rica: calabaza de chila
Na Nicarágua: cojombro
No Panamá: chila
Na Bolívia: pavi
No Peru: padea, olerero, secana ou upe
Na Colômbia: calabaza de Paraguay, curuba ou pepino melocoton
Na Venezuela: cajú cajuba, cajua, cagua, calabaza de Guinea
No Porto Rico: pepino, pepino angolo ou pepino socato
Em Cuba: cohombro
Para saber mais sobre origem, cultivo, usos medicinais e valor nutricional sobre este e outros produtos vegetais, veja o site do Center for New Crops & Plant Products, da Purdue University.
Ou clique aqui para ir direto ao cruá.
O que fiz do cruá
Refresco (foi olhar, provar e tomar)
Tirei com uma colher o miolo com sementes, passei por peneira pressionando um pouco, temperei com umas gotinhas de limão e tomei assim, simples, com gelo. Guardei as sementes para plantar.
Sorbet (fui inventando à medida que fazia, mas ficou muito bom)
Separei 500 ml do suco do miolo e retirei um pouco dele para misturar com 5 colheres (sopa) de açúcar (ou mais se o seu crua não estiver muito doce). Levei esta mistura de açúcar ao fogo e esperei formar um xarope bem ralo. Esperei esfriar e juntei ao restante do suco. Se não estiver gelado, deixe 2 horas na geladeira até gelar bem. Coloquei na sorveteira elétrica e liguei (se não tivesse, levaria ao freezer numa tigela de inox e de vez em quando misturaria bem com uma espátula - de hora em hora, até congelar). No final, quando o sorvete já estava firme, juntei sementinhas socadas de 4 vagens de cardamomo e 1 colher (sopa) de Cointreau (usaria qualquer outro licor de laranja). Servi com bolinhas de cruá temperadas com mais licor e mais cardamomo, e folhinha de menta. Rendeu: 4 a 6 porções.
Sopa gelada (adaptação terrivelmente livre de uma sopa de melão)
500 g de polpa de cruá
3 xícaras de suco de laranja (se quiser, substitua a metade por espumante ou champanhe seco)
3 colheres (sopa) de mel (ou mais, se o seu cruá não estiver muito doce)
1 colher (sopa) de suco de limão rosa
1 colher (chá) de raspas de limão rosa
Bata no liquidificador a polpa de cruá com o suco, o mel e o suco de limão, até ficar cremosa. Prove e corrija o tempero, se necessário (um pouco mais de açúcar ou de limão). Deixe gelar bem antes de servir. Sirva com uma colher (chá) de creme de leite e decore com raspinhas de limão e folhinha de hortelã.
Rende: 6 porções
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