Cruá do quintal. Purê de cruá. Suco de cruá. Sementes de cruá.
Comida Saudável

Cruá do quintal. Purê de cruá. Suco de cruá. Sementes de cruá.




Quem é da casa, sabe que já falei tudo o que sei sobre o cruá e dei receita de sorvete, suco e sopa aqui. E também contei a saga das sementes que mandei para Palmeirina-PE, aqui e ali.
Já a história do cruá deste post se deu assim: num belo dia vejo o pé de uma cucurbitácea qualquer escalando o muro com gavinhas discretas. Quando percebi, quase alcançava o topo do muro. Esperei dar flor para poder identificar, pois no meu quintal se forma um pequeno pomar cuspido, como diz a Nina Horta. A gente chupa uma mexerica e lança longe. Uma laranja, idem. Os caroços maiores, simplesmente jogo em algum vaso com terra livre ou não. Às vezes aparece um broto e não sei mais o que é. Mesmo com a flor, não consegui identificar de imediato a planta.
Mas um dia abri uma janela do escritório, que nunca abro porque dá visão para o teto e quintal do vizinho, e dei de cara com uma cobertura verde. O cruazeiro, todo folgado, já adaptado ao telhado fresco de cerâmica e com frutos como abobrinhas, se preparava para entrar também pelas frestas. Agora sabendo se tratar de cruás, chamei o Marcos para fazer o manejo disciplinador. Passamos, então, a controlar os passos daquelas gavinhas assanhadas. De muitas flores e brotos, restaram apenas três cruás. Mas está bom assim. Outros dois seguem maturando.







Em 25 de fevereiro ele já estava assim. Mas só trincou nesta semana
Faz tempo que um deles já estava maduro, mas, como sei que ele dura bastante mesmo fora do pé, e como eu estava apurada com trabalhos, fui deixando. Até que ontem, quando peguei a escada para colher, vi que estava com uma abertura de cima a baixo. Rachou de maduro. Na cozinha, abri com faca de serra, acompanhando o corte e felizmente a trinca era recente e a polpa estava docinha e cheirosa. Aliás, o nome científico já diz tudo: Sicana odorífera ou Cucurbita odorifera. Pode ser deixado durante muitos dias numa cesta, perfumando a cozinha.
Tirei a polpa das duas bandas, raspando com colher apenas o miolo mais suculento e cheio de sementes. Deixei a parte mais externa da polpa, que é mais compacta. Como sei que o fruto verde do cruá é consumido como legume, pensei que, talvez, se cozinhasse esta polpa, ficaria mais fácil tirar da casca raspando com uma colher para fazer purê ou sopa, ainda não sabia. Depois de cozinhar em água com sal, raspei e a massa cremosa já foi me dizendo que queria virar purê - com leite, manteiga e uma coberturinha de manteiga de garrafa, pimenta ardida e salsinha. Foi acompanhamento da carne de panela do almoço. E a Eliane ainda deu ideia de fazer um escondidinho. Como sobrou um tanto, acho que ainda vou investir nesta ideia. Quem sabe para o almoço de amanhã?
O suco que escorreu da polpa mais aguada (sem ainda batê-la), misturei com suco de laranja e bati no liquidificador com gelo, pois assim forma uma espuma incrível, quase como claras em neve (sabe aqueles estabilizantes para as espuminhas forjadas por aí? então, neste caso, tem estabilizante natural, que eu ainda não sei qual é, mas vou descobrir).
Da polpa que sobrou, tirei manualmente as sementes e torrei para fazer petisco (afinal, todas as sementes de cucurbitáceas podem ser comidas). Estou aqui me controlando para não trazer o potinho para o escritório, pois cada vez que passo pela cozinha, trago uma mãozada delas. São deliciosas, com casquinha menos resistente que nas sementes da abóbora.
Ainda sobrou as fibras deste miolo do qual tirei as sementes. Não sei o que vai virar, mas depois penso nisto. Agora, as receitas do que fiz:

Vá cavocando o cruá e reservando esta polpa - no fundo da tigela, vai restar um caldo, que pode ser usado para fazer o suco abaixo. As sementes também foram separadas daqui.
Com colarinho, por favor!
Suco de cruá com laranja e muita espuma
2 xícaras de suco de cruá (o líquido que escorre naturalmente enquanto tira a polpa - 1 cruá rende aproximadamente 2 xícaras - se precisar, aperte um pouco a polpa)
1 xícara de suco de laranja
4 pedras de gelo
Açúcar, se achar necessário
Bata tudo no liquidificador e coloque em copos. Espere um pouco e a espuma vai subindo à superfície. Se preferir, não use o suco de laranja. Bata apenas com gelo. Mas umas gotinhas de limão para dar acidez caem bem.
Rende: 2 porções
Olhe só que espuma densa. Pena que a moda já passou. Mas ainda vou achar uma utilidade


Sementes de cruá tostadas: lavei bem, escorri e deixei secar um pouco ao sol. Coloquei numa frigideira grande e fui tostando, sem parar de mexer. Quando já estavam sequinhas e torradas, joguei umas gotas de azeite. Começou a pipocar um pouco. Desliguei o fogo, polvilhei flor de sal e uns floquinhos de pimenta. Mas basta polvilhar sal e terá um tira-gosto crocante e com sabor de semente de abóboras.
Cozinhei as duas bandas, sem a polpa aquosa, em um pouco de água com sal. Para caber na panela sem precisar cortar, usei minha cuscuzeira gigante. A parte de baixo ficou imersa e a de cima (para não encher a panela com água), cozinhou no vapor. E deu tudo certo. Acho que demorou uns 10 minutos para a polpa ficar assim, toda macia.

Purê de cruá
3 xícaras de polpa cozida de cruá (ver acima)
1/2 xícara de leite
1 colher (sopa) de manteiga sem sal
1 colher (sopa) de manteiga de garrafa
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada em quadradinhos
1 colher (sopa) de salsinha picada finamente
1 pitada de sal
Coloque a polpa do cruá numa panela e junte o leite. Bata bem com o mixer (se não tiver, passe a polpa pelo espremedor de batatas ou peneira antes de juntar o leite). Leve ao fogo e deixe ferver, mexendo sempre. Desligue o fogo, junte a manteiga e misture para derreter. Junte sal se for necessário. À parte, aqueça a manteiga de garrafa e junte a pimenta e a salsinha. Desligue o fogo e junte 1 pitada de sal. Coloque o purê numa tigela e decore com a manteiga de garrafa.
Rende: 3 xícaras de purê




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