Quem já viu e já comeu não esquece. É o caso da Janaína, que acertou a resposta. Não por causa do sabor marcante que não tem; nem pelo aroma que sabe a bulbos de flores. Um pouco talvez pela crocância, porém, muito mais pela raridade, já que é encontrada apenas na serras da Chapada Diamantina, na Bahia, crescendo entre fendas de pedras, serpenteando os galhos de arbustos. Foi trazida de presente pelo Alcino, dono da pousada Estalagem do Alcino, em Lençois.
No aspecto geral, lembra muito a docinha jícama dos mexicanos, mas só de cara. Porque a alma é de outra natureza. Enquanto a jícama (Pachyrrhizus erosus) é parente do mesmo gênero do nosso jacatupé ou feijão macuco (P. tuberosus) - uma fabácea, a batata-da-serra (Ipomeae sp) pertence à mesma família da batata-doce, Convolvulaceae.
Bem que poderia ser um tupinambur/ alcachofra-de-jerusalém (Helianthus tuberosus), porque parece, mas este é um parente do girassol e não das favas. Já a water chestnut (Trapa natans) citada, que só conheço enlatada, é uma planta aquática e a batatinha é mais massuda, crocante, com sabor de milho cozido (experimentei agora algumas da latinha que tinha aqui - a Eliana sugeriu e eu concordei: milho verde). Também lembraram do taro, ex-inhame ou pituca - como é chamada no Peru a Colocasia esculenta, e do inhame, ex-cará, (Dioscorea sp). Ambos têm casca marrom como a batata-da-serra, mas são massudo e ricos em amido. Com o yacon (Smallanthus sonchifolius) até que tem alguma semelhança no teor de água e na crocância, mas falta àquela a doçura deste. Assim, como lhe falta a picância do nabo e do rabanete, ainda que similares na textura. Outra sugestão foi o konhaku ou konnyaku (Amorphophallus konjac), batata da família das aráceas da qual se extrai a goma de konja usada para fazer macarrão e aqueles blocos gelatinosos usados nos cozidos japoneses. Já vi as batatas pra vender nos empórios da Liberdade, mas não tenho nenhuma intimidade com elas que tem superfície mais disforme que a batata da serra. Segundo a baiana Eliana, que não conhecia, parece com xilopódio de umbu, mas a batata só tem crocância; "ainda falta elegância".
Cozida fica estranha - ainda firme com sabor do sal adicionado. Na salada, como se come no Bar do Neco, em Lençois (principal cidade da Chapada Diamantina), vai bem porque combina o croc-croc com o sabor dos temperos. Inventei de fazer com shoyo e gengibre e ficou bom ? com o sabor do shoyo e do gengibre! Mas na saladinha com tomates e hortelã, ficou melhor.
Obrigada a todos que participaram!
Batata-da-serra com gengibre e molho de soja
Numa frigideira antiaderente, refoguei em 1 colher (sopa) de óleo 1 dente de alho finamente picado e a mesma quantidade de gengibre picado igual. Quando dourou, juntei 150 g (1 batata-da-serra) picada em palitos. Mexi e deixei ficar bem quente. Juntei, então, 1 colher (sopa) de molho de soja, 1 colher (chá) de vinagre e 1 colher (chá) de açúcar. Chacolhei a frigideira e juntei 2 colheres (sopa) de cebolinha picada e tirinhas de pimenta ardida vermelha. Quando a cebolinha murchou, tirei do fogo e juntei 2 colheres (chá) de gengibre preto tostado na hora. E nhac. Rendeu 2 porções para comer com arroz branco.
Salada de batata-da-serra com tomates e hortelã
Ingredientes
1 xícara (150 g) de batata da serra cortada em cubinhos
1 tomate verde sem sementes cortado em cubinhos
1 tomate vermelho sem sementes cortado em cubinhos
1 pimenta cambuci verde cortada em quadradinhos
4 colheres (sopa) de hortelã picada
1/2 colher (chá) de sal ou a gosto
Pimenta-do-reino a gosto
Suco de 1 limão rosa
3 colheres (sopa) de azeite de oliva
Folhas para salada
Modo de fazer: misture todos os ingredientes, prove e corrija o tempero se necessário. Sirva com folhas para salada.
Rende: 4 porções