O leitor Gratão, lá de Tocantins foi o primeiro a responder e o único a matar a charada do post anterior. Jacatupé!
Na semana passada a Maria Eugênia (venezuelana, mulher do cônsul do México) me disse toda contente que havia encontrado jicama no bairro da Liberdade. Arregalei os olhos porque sabia que então ali estava o jacatupé que procuro há tanto tempo. São primos muito próximos. Peguei com ela minhas duas hallacas que estavam congeladas e prometidas (falo sobre isto depois) e rumei para a Liberdade com a indicação precisa de onde a encontraria. É uma loja que já freqüento a despeito do mau atendimento e má vontade. Perguntei pra mocinha qual o nome das batatas. ?Batata chinesa? foi a resposta seca. Como se usa? "ah, coisa de chinês". Já para a Maria Eugênia disseram ?batata d´água?. Que chineses e tailandeses usam a batata, eu sei. Mas de que forma, em que pratos bons, tenho curiosidade. Se alguém souber, diga aí.
Os nomes em várias línguas, começando por português de Portugal, do Brasil, espanhol... Paquirrizo, feijão-batata, feijão-macuco, jacatupé, jacutupé-jicama, ahipa, judia-batata, jiquima, Wayaka yam bean, Mexican yam bean, yam bean, Mexican turnip, chop-suey bean, manioc bean, three-lobed-leaved yam bean, four-lobed-root yam bean, singkamas, dolique bulbeuse, pois patate, pois manioc, pais patate, knollige bohne, yambohne, yamsbohne, fagiolo patata, dolico bulboso, sankalu, mishrikand, sinkamas, sakalu, pre myit, fan-ko, sha ge, sha got, sha kot, dou shu, liang shu, tu gua, bai tu gua, fan ge, yamsbønne, bengkoewang, hoewi iris, hoewi hiris, mame imo, pe'kuëk, man ph'au, bengkuang, kacang sengkuang, mengkuwang, sengkuang, sengkuwang, besusu, jacatupé, jacutupé, jocotupé, bangkowang, bangkooang, iguama, tani uttan kai, man kaeo, huapaekua, man lao, köklü böyrüce, curdau, san, cu san.
O fato é que há anos conhecia jacatupé apenas de literatura (Globo Rural) e procurei por todo canto. Nem meus pais conheciam. É intrigante saber que uma leguminosa em vez de cumprir sua vocação de nos dar feijões, nos oferece batatas ? a raiz tuberosa. Mesmo porque sementes maduras e folhas são tóxicas (contém rotenona ? aquela substância também encontrada no timbó, planta usada para paralisar peixes e facilitar sua captura). Já as vagens jovens podem ser consumidas como legumes. Mas para produzir boas batatas, as vagens devem ser descartadas ? caso contrário, os nutrientes vão para o desenvolvimento do feijão e a raiz tuberosa fica à míngua. Se bem nutrido, o tubérculo é doce, rico em amido e proteínas. Aliás, o amido é vendido em alguns lugares da Ásia como fécula de ótima qualidade.
Por aqui nunca ouvi falar da extração do amido, mas sei que a planta é cultivada pelos índios da bacia amazônica desde tempos remotos. O nome jacatupé é mais conhecido no Sul (em vez de feijão-macuco) e vem do tupi yakatu'pe, que quer dizer ... (quem souber, estou aceitando ajuda).
São conhecidas algumas espécies de Pachyrhizus, com características muito parecidas, com nomes muitas vezes intercambiáveis: a nossa, Pachyrhizus tuberosus, originária das cabeceiras do rio Amazonas; a mexicana, Pachyrhizus erosus chamada de jicama; e a Pachyrhizus ahipa, encontrada no Peru, Argentina e Bolívia. Hoje, uma ou outra é cultivada como legume na América Central, no Caribe, Ásia Oriental e Sudeste asiático.
A aparência lembra uma batata doce, só que achatada e lobulada. Pelo menos a nossa, já que algumas variedades podem se alongar como cenouras. A textura úmida e crocante, assim como a brancura, fazem lembrar o nabo ou a batata-da-serra, da Chapada Diamantina, mas as semelhanças param por aí, pois não tem a pungência do primeiro nem a timidez da segunda.
O sabor é marcante, muito doce, como o yacon. E à primeira mordida vem à memória um sabor infantil ancestral. Meu amigo Carlos Colombo, que é agrônomo e pesquisador no IAC (Instituto Agronômico de Campinas), dividiu comigo a primeira mordida e as primeiras impressões. A gente conhecia aquele sabor. O que era, o que era? Depois de muito tempo, descobrimos: feijão-cru-de-molho. Não sei porque a gente tem este sabor no arquivo, já que não comemos os grãos crus, mas é fácil reconhecer (do broto de feijão, talvez) e, apesar de gosto de feijão cru ser desagradável, neste tubérculo passa a ser gostoso e instigante. Queria fazer mais testes, mas será da próxima vez, pois o Carlos levou um para plantar no IAC; comemos uma inteira como fruta; guardei uma para plantar no sítio (pode ser reproduzida por sementes ou pelo tubérculo) e usei a derradeira nesta salada, inspirada numas mexicanas que andei vendo por aí. Ah, ainda cozinhei uma fatia em água e sal - ficou gostosa, com textura firme como um nabo cozido. Imagino que deva ficar boa em cozidos. E crua, em saladas de frutas.
Onde encontrar
Mercearia e Bomboniere Towa - Praça da Liberdade, 113 - Liberdade. Tel. 11 3105-4411
Salada de jacatupé
1 batata de jacatupé (feijão-macuco) ? cerca de 250 g, descascada
1 abacate mini, tipo Hass
1 tomate maduro e firme, sem sementes
Meia cebola roxa
Algumas folhinhas de coentro rasgadas
2 cebolinhas picadas
1 pimenta dedo-de-moça vermelha, sem sementes picada em rodelasMeia pimenta dedo-de-moça verde, sem sementes picada em rodelas
Suco de um limão Taiti
3 colheres (sopa) de azeite
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Pique todos os legumes e o abacate em cubinhos e misture com as ervas e as pimentas picadas. À parte, misture o suco de limão, com o azeite, sal e pimenta-do-reino. Misture bem para emulsionar e despeje sobre a salada. Mexa com as mãos para misturar bem sem quebrar o abacate.
Rende: 4 porções
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