Coquinho e bourbon de Fartura. Trouxe também da haden e da espada, que colhi depois A bourbon, menos fiapenta e mais gordinha que a espada virou chutney No tempo em que manga dava no tempo de manga o mangueiral frutificava entre o final e o começo do ano. Em pomares para subsistência e nas árvores de fundo de quintal ainda se dá assim. E este ano foi bom pra Fartura, onde tenho temos um sítio. Mas quem frequenta feiras, supermercados e sacolões sabe que não é o que acontece nas plantações comerciais que abastece o mercado nacional e internacional durante o ano todo. Seja na lavoura de Lins-SP ou nas do semi-árido irrigado, as árvores tem que estar sempre produzindo. Time is money, mesmo que este tempo seja o ciclo produtivo natural de cada espécie.
Claro, alguns tipos de manga não despertam nenhum interesse comercial, seja pela falta de atributos mercadológicos (rentabilidade, aparência, resistência no transporte, durabilidade) ou por excesso de fiapos ou tamanho de caroço, por exemplo. A manga da vez já foi a grande, doce e macia Haden, já foi a resistente Tommy, mas agora parece ser o momento da Palmer (e a ácida e doce Keitt continua sendo a primeira escolha para sucos industrializados), com mais valor de mercado por ser mais doce e ter menos fibras que a Tommy - a ponto de os produtores estarem substituindo as variedades no campo.
Mas, coquinho, bourbon, ouro, rosa, espada...., quem liga pra elas? Cremosas, melequentas, perfumadas, doces e fiapentas. Irresistíveis, mas que não vão à sala de jantar. Em compensação, costumam frutificar no próprio ritmo, à sua bel vontade, se esborracham no chão sem dramas, são comidas por abelhas ou vacas no pasto ou chupadas por crianças e adultos até o caroço, até o fiapo ficar branco, deixando um fio amarelo escorrer pelos braços. Tudo sem o estresse imposto às primas ricas. É que para que produzam o ano inteiro, e como produzem!, as mangas comerciais são submetidas a torturas físicas e quiçá psicológicas para que se sintam à beira da morte e assim floresçam, frutifiquem, deixem descendentes.
São duas as principais artimanhas para indução de frutificação nas mangueiras. Uma é o estresse hídrico, nos pomares irrigados. Basta parar de irrigar para bloquear o crescimento vegetativo. Depois de uns dias a planta floresce que é uma beleza. Outra é simular o mesmo efeito só que inibindo o crescimento através da aplicação no solo de um agrotóxico super danoso para o meio ambiente, o paclobutrazol (PBZ). E quem chama a substância de agrotóxico e diz que é danosa não sou eu, mas o próprio fabricante. Se você tem medo de bula de remédios, comece a ler a dos agrotóxicos para sentir verdadeiro pavor. Veja aqui a bula do PBZ da Syngenta.
A coquinho virou suco perfumado: a polpa, água, gelo e açúcar. Se quiser, coe.
A bourbon virou chutney - piquei no processador em fatias finas
Adoro chutney de manga e com tanta manga em casa era uma boa opção, já que dura vários dias na geladeira. Usei uma versão bem simples e dei apenas uma pequena incrementada para ficar do meu gosto. Usei a bourbon que não tem muita fibra e pode ser cortada em fatias no processador. A receita: Chutney de manga
4 colheres (sopa) de óleo
1 colher (chá) de cominho
1 colher (chá) de grãos de mostarda marrom
1 colher (chá) de grãos de coentro
2 pauzinhos de canela
4 grãos de pimenta-do-reino preta
3 pimentas malaguetas picadas
1 colher (chá) de sal
3 colheres (sopa) de açúcar demerara ou mascavo
2 colheres (sopa) de suco de limão
1 kg de polpa de manga picada ou fatiada fina 1/2 colher (chá) de flocos de pimenta calabresa (usei 1 colher e gostei, mas talvez você ache muito)
3 colheres (sopa) de vinagre branco
Coloque numa frigideira o óleo, o cominho, a mostarda, o coentro, a canela e a pimenta malagueta. Leve ao fogo e mexa. Quando as especiarias começarem a pipocar, junte o sal, o açúcar e o suco de limão. Em seguida, junte a manga e os outros ingredientes. Mexa, abaixe o fogo, tampe a frigideira e deixe cozinhar por cerca de 10 minutos ou até a manga ficar bem cremosa. Prove e corrija o tempero se achar necessário. Coloque ainda quente num vidro aferventado e também ainda quente. Deixe esfriar com a tampa aberta. Tampe e guarde na geladeira por até 1 semana, para comer com carne assada - de porco, principalmente. Ou no recheio de sanduíches com defumados. Rende: cerca de 800 gramas