Fartura, nunca mais
Comida Saudável

Fartura, nunca mais



Dizem que aos 49 anos a vida da gente muda de um jeito importante. Nunca acreditei muito nisto, mas nestes últimos meses muitas coisas diferentes aconteceram, principalmente em relação a trabalho. Fui pro Senegal, conheci Paris, saí na Vogue, no Globo Reporter,  fui funcionária da TV Globo como consultora durante três meses com carteira assinada, entrei num projeto na Nutrição da USP e em breve devo ir para Acrelândia fazer uma oficina, estou em outro trabalho sobre o programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar, no fim da semana vou pro Marajó com o James, editor da Saveur, e em breve assumo um trabalho muito legal que eu ainda não posso contar. Tudo aos 49!

Mas as mudanças mais importantes ainda estavam por acontecer. Há alguns dias o sítio de Fartura foi vendido e neste fim de semana já trouxe toda a mudança de nossa casa para cá, na certeza de ter em breve outro sítio. Quem sabe um sítio em Paraibuna?  Nós tínhamos uma chácara grudada ao sítio do meu pai, mas minha casa ficava na propriedade dele. Então, tudo foi vendido junto. A despedida não foi fácil. Meus pais já haviam comprado uma casa em São José dos Pinhais, no Paraná e amanhã estarão se mudando para lá. Bem pertinho da minha irmã, o que me deixa muito feliz. Aliás, estão todos muito felizes. Meus pais, porque vão descansar um pouco e ficar junto de uma filha querida. Minha irmã, porque queria tanto os pais por perto. E nós todos porque se eles estão bem e felizes nós também estamos.  A tristeza que senti na despedida não tem a ver com a casa - tem também, claro, afinal foi desenhada por mim e a construção acompanhada de perto pelo meu pai que bancou o empreiteiro, mas principalmente pelo fim da situação fartura que incluia tudo, da jaqueira centenária à casa de madeira que foi trazida do Paraná há mais de cinquenta anos. Do jambo que mostrou neste ano as primeiras flores aos patos e galinhas. Do cheiro de fogão de lenha à algazarra que ouvia da minha casa no alto do morro todas as vezes que a família se reunia na cozinha aberta para falar de tudo com tempero de muitas risadas. Da minha avózinha que se ajeitava de cócoras junto ao fogão para se aquecer enquanto pitava seu cigarro de palha quando era viva ao cheiro do café secando no terreiro.  Das cantorias com violão dos meus cunhados Tonho Penhasco e Darly enquanto tomávamos caipirinha de limão rosa e esperávamos o almoço àquela cantoria das galinhas se preparando para dormir.  A tristeza não é pelo sítio mas pela gente no sítio com tudo o que ele oferecia.   Vou sentir saudade da mesa de café da minha mãe em que tudo em cima dela vinha dali, da manteiga feita pelo meu pai à geleia, pão e queijo feitos por ela. Eles estão cansados e só querem agora colocar uma cadeira na calçada no fim da tarde e ver o movimento da cidade. Sentiam-se tristes sozinhos no sítio no domingo à noite, com aquele quero-quero barulhando distante. Era longe pra irmos a toda hora e a maior parte do tempo eles estavam solitários. Não nasci em Fartura, não nasci no campo, mas meus pais ali eram como se uma parte de mim, tão rural, pudesse assumir este lado caipira, de fazer o que não posso, para o que não tenho o talento deles. Fartura foi inspiração para este blog desde o começo, a ponto de me  julgarem farturense. Mas os ciclos tem começo, meio e fim e agora com esta ausência vou ter que me reinventar. Para completar, Ananda também está saindo de casa para morar sozinha perto do HC, onde faz residência.

E também, pela primeira vez lancei no Come-se uma charada na sexta-feira que ninguém soube a resposta. Nem eu! A esperança era que algum leitor soubesse. Ganhei a fruta de um amigo que nada sabia dela - apenas que vem de Campinas e passarinho não come - experimentei, é docinha, tem dois caroços, mas pouca poupa, como um ingá.

Depois posto as últimas fotos de Fartura e bola pra frente.  Ah, a testeira nova é presente da amiga artista Adrianne Gallinari.




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