Foi deste pé que as jurubebas acima vieram Por causa da aula de amargos, tenho pesquisado mais sobre a jurubeba, aquele frutinho de Solanácea amarga de doer, mas gostosa idem. Não é o tipo de alimento que dá para comer como chuchu, uma pratada. Não. É pra comer como pimenta, como tempero. E também não precisamos comer com a amargura que Deus lhe deu. É possível amansá-la e deixar apenas o amargo necessário para equilibrar um vida de doçura.
Bem, a jurubeba que uso é de um arbusto que tem aqui perto, na calçada de uma casa que está em reforma. O empreiteiro já me autorizou a colher toda a carga pois no dia 15 de junho, no máximo, o pé será eliminado para dar lugar a uma garagem (malditos carros!). Imagino que a espécie em questão seja a
Solanum paniculatum, de folhas largas, desagradáveis ao tato com galhos espinhentos, florezinhas brancas. Mas, como estas, há várias outras espécies parecidas também chamadas de jurubebas e usadas como tal.
As tailandesas, S. torvum, em conserva
De um livro de culinária tailandesa. Berinjela-ervilha é uma tradução bem distante. Parenta da berinjela, não tem nada a ver com a ervilha, a não ser a cor e o formato Tailandesas: nunca comi as bolinhas amargas tailandesas, usadas em curries, mas imagino que tenham sabor parecido com as nossas. Mesmo porque o nome da espécie mais usada no Sudeste Asiático é a
Solanum torvum, que também temos aqui e é um dos vários tipos que recebem o nome de jurubeba. Aliás, todas estas espécies podem ser chamadas de jurubeba e são usadas como tal:
S. torvum, S. paniculatum Willd.,
S. angustifolium Lam.,
S. asperolanatum Ruiz & Pav.,
S. cuneifolium Dun.,
S. diphyllum L.,
S. fastigiatum Willd.,
S. ficifolium Ortega.,
S. glaucum Dun.,
S. robustum Wendl. e
S. variabile Mart. E deve ter mais. Em inglês, estas frutinhas são chamadas de Green-fruited pea eggplant, pea aubergine, thai pea eggplant, thai cultivated nightshade, devil's fig, water nightshade, gully bean ou susumber (na Jamaica), turkeyberry ou plate brush. E, em thai, algo como makhua phuang, makhua phuong, ma khwaeng.
A espécie mais comum no Brasil, pelo menos todos os trabalhos com jurubeba se reportam a ela, é a
Solanum paniculatum, nativa do Brasil e das Guianas e conhecida por nomes como jurubeba, jurubeba-verdadeira, jupeba, juribeba, jurupeba, gerobeba e joá-manso.
Na Farmacopeia Brasileira é registrada como remédio contra anemia e para desordens hepáticas e digestivas. Sabe-se que os princípios amargos estimulam as secreções gástricas e biliares facilitando a digestão e por isto, muitas vezes, jurubebas são tidas como remédio. Mas há quem não a dispense junto com um prato de arroz e feijão. Entre os componentes ativos destacam-se
saponinas, glicosídeos e alcalóides (a solanina pode ser encontrada em várias espécies do gênero
Solanum, inclusive na batata, especialmente quando está esverdeada ou brotando). Como parece que não temos cultivo de espécies selecionadas, o ideal é não cair de boca numa conserva de jurubebas que podem conter alto teor de alcalóides que, dependendo da dose, podem ser tóxicos. É boa, é gostosa, mas com moderação. O melhor mesmo é fazer a conserva e ir usando aos poucos. Foi o que fiz.
Para a aula talvez apresente uma
pastinha de kefir drenado (ou coalhada seca) com jurubebas maceradas, que ficou muito boa com uma base de kinkan. Há várias receitas de
curries tailandeses feitos com elas, mas ainda não fiz. Já
o arroz temperado com cúrcuma feito com as bolinhas e camarões ficou muito bom. Com o amargo da jurubeba e da cúrcuma aromática contrastando com o adocicado do camarão. Todos enaltecidos pela mansidão macia do arroz. Sem falar no verde e formato das bolinhas que decoram.
Vamos primeiro à conserva que temperei à minha moda. Você só precisa achar um pé delas. Ou compre as conservas prontas em mercados municipais de algumas cidades do interior, como de Piracicaba. Já achei para comprar num vendedor ambulante na porta do mercado da Lapa, mas não comprei porque o moço era mal-educado (uma moça perguntou para que servia e como se preparava jurubebas e ele respondeu que só faltava esta agora, além de vender, tinha que ensinar também a cozinhar - tomei as dores e praguejei).
Conserva de jurubebas
1 xícara de jurubebas bem verdinhas
Sal para escaldar
1 xícara de vinagre de vinho branco
1/3 de xícara de água
1 colher (sopa) de açúcar
½ colher (sopa) de sal
1 colher (chá) de sementes de coentro
3 cravos
1 dente de alho cortado em fatias
2 pimentas malaguetas ou 1 dedo-de-moça cortada em rodelas
Coloque para ferver uma chaleira com bastante água. Lave bem as jurubebas, cubra com água fria e leve ao fogo com 1 colher (chá) de sal. Quando ferver, escorra, coloque mais água quente (da chaleira) com sal e repita o operação. Faça isto de 5 a 7 vezes para que as bolinhas fiquem com um amargo gostoso. No final, acrescente todos os outros ingredientes e deixe ferver. Coloque ainda quente em vidro de conserva de meio litro aferventado e também ainda quente. Feche bem e deixe na geladeira. Espere curtir por pelo menos uma semana.
Rende: 1 vidro de meio litro
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Não apareceu na foto, mas aqui, nesta banca do Mercado Municipal de Piracicaba, também tem conserva de jurubeba
Arroz de camarão com cúrcuma e jurubeba
200 g de camarões frescos com casca (sem cabeça)
1/3 de colher (chá) de sal (para temperar o camarão)
Filetes de uma pimenta dedo-de-moça
Meia cebola picada finamente
1 colher (sopa) de azeite
1 xícara de arroz branco cateto
1 colher (chá) de sal
1 colher (chá) de cúrcuma (açafrão-da-terra ou da-índia) em pó
2 colheres (sopa) de jurubeba em conserva escorrida
2 xícaras de água quente
Tempere os camarões com o sal e a pimenta dedo-de-moça. Reserve.
Numa panela, refogue a cebola no azeite, só para murchar. Junte o arroz, o sal, a cúrcuma e a jurubeba e refogue, mexendo, por 1 minuto. Despeje água quente e espere ferver. Abaixe o fogo, tampe a panela e cozinhe por 5 minutos. Espalhe por cima os camarões com as pimentas, tampe e deixe cozinhar até toda a água secar (cerca de 10 minutos). Se quiser, junte cheiro-verde por cima (eu não quis). Ou umas tirinhas de pimenta para alegrar.
Rende: 4 porções de arroz cremoso
Nota: o arroz não é contagiado pelo amargor da jurubeba, de modo que quem não gosta é só deixar de lado.
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