O VÍCIO PELA GORDURA - é verdade que isso pode acontecer?
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O VÍCIO PELA GORDURA - é verdade que isso pode acontecer?



Sempre que um comportamento provocar sensação positiva no organismo ele será reforçado. Em outras palavras, atitudes que resultem em bem-estar ou prazer serão sempre repetidas, em busca de mais e mais bem-estar ou prazer. Um estudo feito pela Universidade da Califórnia em conjunto com o Instituto Italiano de Tecnologia mostra que o consumo de refeições ricas em gorduras pode ser um destes comportamentos, o que explicaria a dificuldade encontrada por algumas pessoas em controlar a busca e o consumo destes alimentos.

Os cientistas apontam que, ao consumirmos refeições ricas em lipídios - sejam elas doces ou salgadas- o intestino produz endocanabinóides, substâncias parecidas com o princípio ativo da maconha e que provocam sensação de bem-estar. Além disso, os endocanabinóides estão envolvidos na regulação do mecanismo de fome e saciedade no trato digestivo. Isto quer dizer que o consumo de gorduras mantém altas as taxas de endocanabinóides e isso contribui para que a fome seja constante e a saciedade demore muito para acontecer. Estando este mecanismo desregulado o indivíduo tende a ingerir mais calorias para saciar sua fome e, com isso vem o ganho de peso.

Além da produção de endocanabinóides, outra substância relacionada com a sensação de bem-estar tem suas taxas elevadas no consumo de refeições gordurosas ? é a dopamina. Outro estudo, agora da Universidade de Yale, confirma que não é apenas o sabor agradável das refeições gordurosas que desencadeia este efeito. Alimentos gordurosos foram administrados diretamente no estômago de ratos e, após o término da avaliação observou-se que as taxas de dopamina continuavam elevadas. Isto quer dizer que a sensação de prazer desencadeada pelo consumo excessivo de gordura não está relacionada apenas com o seu sabor agradável, e sim com a fisiologia do organismo em si.

Quanto mais altas as doses de dopamina, menos sensível o organismo fica a esta substância, ou seja, é preciso produzir uma quantidade cada vez maior de dopamina para que a sensação de bem estar se instale. Para que mais dopamina seja produzida, mais gordura deve ser consumida e o resultado deste vício é uma dieta muito calórica, quilos a mais e aumento da circunferência abdominal.

E qual seria a razão do organismo em classificar a gordura como um nutriente tão bom a ponto de desencadear reações que estimulem o seu consumo? Os estudiosos respondem explicando que a causa é genética. Há muitos anos atrás, os homens viviam da caça e nem sempre tinham comida disponível - leia-se: fonte de energia para o funcionamento do organismo. Sendo assim, quando um animal era caçado, a sua carne era toda consumida de modo a formar uma reserva de energia até que outra caça fosse encontrada. Atualmente não vivemos este problema pois a sociedade moderna nos permite acesso aos alimentos a qualquer hora e momento. Infelizmente o organismo e as mutações biológicas não acompanharam o ritmo das mudanças na sociedade e, por ter se transformado em uma fonte fácil de prazer a gordura se tornou um vício para muitos.

Tanto isto é verdade que o paciente obeso tende a ficar irritado e depressivo quando inicia o seu processo de reeducação alimentar, onde o consumo de gordura é reduzido. O comportamento pode ser comparado a uma crise de abstinência.

Devemos lembrar que mesmo comparando o vício pela gordura com o vício por outras drogas, o consumo deste nutriente leva apenas a um certo tipo de excitação e não a alucinações. Além disso, diferentemente de drogas alucinógenas é impossível cortar as gorduras do cardápio, uma vez que elas são imprescindíveis para o correto funcionamento do nosso organismo, fazendo parte da composição das membranas celulares, neurônios e hormônios. Cerca de 25 a 30% do valor calórico total da dieta deve ser proveniente das gorduras, respeitando-se os diferentes tipos que esta nutriente se apresenta na natureza:

- POLIINSATURADAS - presentes no salmão e óleos vegetais estão envolvidas na prevenção de doenças cardíacas e inflamações em geral. Cerca de 10% do valor calórico total da dieta deve vir deste tipo de gordura

- MONOINSATURADAS ? presentes especialmente nas oleaginosas e no azeite de oliva. Da mesma forma que as poli-insaturadas 10% do valor calórico total deve vir deste tipo de gordura, que está envolvido na redução dos níveis de colesterol ruim ? o LDL.

- SATURADAS ? presentes nas carnes vermelhas são gorduras mais perigosas e apenas 7% do valor calórico total da dieta deve vir deste tipo de gordura. Isto porque o alto consumo de gordura saturada está relacionado com o entupimento das artérias e infarto do miocárdio. Seu lado bom é que servem como fonte de energia para as células

- TRANS ? não trazem qualquer benefício a saúde e hoje em dia estão praticamente banidas do cardápio pois o seu consumo está relacionado com o aparecimento de doenças coronarianas. Não devem passar de 1% do valor calórico total da dieta.

Sendo assim, as escolhas no cardápio devem ser feitas de maneira racional, o consumo de gorduras não deve ser excessivo para não causar prejuízos ao organismo. Além disso, as gorduras ?sejam elas boas ou ruins ? são alimentos calóricos e cada grama contém 9 calorias (contra 4 de carboidratos e proteínas). Isto pode ser uma armadilha na dieta, pois a ingestão de refeições gordurosas pode contribuir para o consumo de calorias extras no fim do dia. No caso do paciente que já apresenta este vício desenvolvido, é importante que a dieta seja bem orientada e a diminuição do consumo de gorduras seja gradual a fim de evitar os efeitos colaterais já citados. Outras estratégias, bem como a presença de fibras na dieta deste paciente também podem ser adotadas pois as fibras aumentam a sensação de saciedade e diminuem a intensidade do sistema de recompensa causado pela gordura.

O equilíbrio é sempre a melhor tática quando falamos em reeducação alimentar. Todos os detalhes da dieta devem ser verificados e adaptados para a realidade de cada um para que a perda de peso aconteça de forma gradativa e duradoura e claro, sem trazer prejuízos a saúde! Devemos pensar que nem sempre estes detalhes são fáceis de verificar...quem já pensou que seria possível desenvolver vício por batata frita? E isso pode sim acontecer. 




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