Comida Saudável
OS SABORES DA TOSCANA
Vinhedos da Isole e Olena ? um lugar inesquecível
Voltei. Fora a espera de 12 horas no aeroporto de Paris por causa de uma conexão perdida, tudo deu certo. Muito certo. E percebo agora que o difícil não é voltar da Toscana, mas escolher sobre o que falar da Toscana. Tentarei. Começamos com uma reunião com a Comissão Nacional da Arca do Gosto, do Slow Food. Sábado e domingo. De manhã e à tarde, apresentação dos trabalhos de diversos países e palestras sobre assuntos relacionados ao cultivo, conservação e apresentação de frutas e hortaliças. Nos intervalos, almoços e jantares preparado por voluntários do Convivium do Slow Food Scandicci ? que fica a apenas 9 quilômetros de Florença. Muito Chianti, Vin Santo, cerveja artesanal e comida boa, caseira, que incluía coniglio ripieno (coelho recheado), fagiolini burrini al pomodoro (vagens fininhas com tomate), fragole di Mosciano com ricotta di pecora (moranguinhos com ricota fresca de leite de ovelha), alici marinate com cipolla e menta (aliche marinado com cebola e menta), Pappa al pomodoro (pão refogado com tomate), queijo Castelmagno d´alpeggio, Spaghetti alla chitarra (espaguete cortado com uma guitarra própria para talhar a massa em pequenos fios) e tantos outros. As comidas e os detalhes deste encontro voltarão em outra postagem.
Já em Firenze, encontrei minhas amigas Kátia Stringuetto e Mônica Manir que vinham de Veneza. Alugamos um apartamento em cima de uma padaria. Com a vendedora nos encontrávamos de dia, mas com os padeiros, que trabalhavam de noite e com portas abertas por causa do calor, nos falávamos quando chegávamos em casa, exaustas, geralmente carregadas de sacolas. Não foi difícil fazer amizade mesmo com nosso parco portugliano. O cheiro de pão toscano se infiltrava pelas frestas e impregnavam até nossos lençóis. Sem falar é claro no calor gerado pelos fornos que aqueciam nosso chão já tão quente pelo sol dos dias longos de verão ? o calor lá é de lascar. Então, o pão, alimento presente em toda refeição toscana, nos acompanhou desde o primeiro dia. Dia e noite. Para compensar a quentura, ganhávamos pão caldo no fim da noite.
O acervo cultural da cidade de Florença é a coisa mais impressionante que já vi. Diante da estátua de David quase se vê e se ouve o sangue dele correndo em enxurrada sob uma pele de mármore. Ele parece que respira. Mas este blog é de comida, então, vamos a ela. Não comi em nenhum restaurante estrelado e caro, mas em tratorias singelas e bem apanhadas. Jantamos quase todos os dias em casa, onde me realizei cozinhando pastas e risotos com ingredientes do Mercato Centrale di San Lourenzo. Aliás, duas visitas em horários movimentados não foram suficientes para conhecê-lo bem. Decidi num dos dias acordar bem cedo e chegar lá às 7 horas, quando as bancas estavam se abrindo. Aí sim pude conversar, perguntar, tirar fotos sem nenhuma pressão, sem turistas me empurrando e com vendedores menos estressados. Não que os sejam, muito pelo contrário, são muito simpáticos principalmente quando sabemos usar em italiano pelo menos as palavrinhas introdutórias mágicas. De resto, saber um pouco de mímica também ajuda. Mas, com muitos compradores na fila para atender, é claro que os mesmos vendedores não têm a mesma paciência. Minhas maiores descobertas foram os queijos, às centenas, os embutidos, os tomates maravilhosos de doces assim como os melões, as flores de abobrinha muito frescas, os peixes e as frutas de clima temperado como ameixas, pêssegos e nectarinas, todas incrivelmente doces e suculentas como devem ser.
Os presuntos, os lardos (fatias de toucinho curado mas não defumado) e salames são aromáticos e com sal perfeito para se comer com o pão típico da Toscana, senza sale - completamente sem sal. No começo se estranha, depois percebe-se o exato equilíbrio entre a massa rústica e simples do pão de crosta dura e os queijos e embutidos salgados, macios e untuosos.
Viajamos ainda pelas colinas de Chianti e visitamos a famosa vinícola Isole e Olena, onde conversamos com o simpático casal Paolo e Marta durante longas e deliciosas horas. E este é um capítulo à parte, para adiante. Conhecemos também as cidades medievais e mágicas de San Gimignano, Siena e Lucca. Não podíamos deixar de tirar fotos na Torre de Pisa e ainda exercitar nossas panturilhas nas trilhas íngrimes das Cinque Terre. Em todos estes lugares chama muito a atenção o capricho nas vitrines das pequenas mercearias de especialidades gastronômicas. São charmosas, aconchegantes e, claro, tentadoras. Assim como as sorveterias, que abusam da decoração e valorizam o termo ?artesanal?.
Bem, falarei aos poucos nos dias seguintes do que vi e comi. Como sempre, para sair em viagem, corro para adiantar trabalho e volto na correria para tirar o atraso. E ainda digo que sou Slow...
Companheiras de viagem: Kátia Stringuetto e Mônica Manir.Vin Santo e Cantucci no MercadoNo Mercado, vitrines chamativas e didáticas: todas trazem o nome e o preço das coisas.Nosso café da manhã: um iogurte maravilhoso que encontramos no mercado e frutas vermelhas. Pappa al pomodoro. Receita camponesa rústica feita com pão duro - simplesmente deliciosa. Aguardem receita. Pães quentes da nossa vizinha padaria. No Mercado, o vendedor me ensina a preparar as abobrinhas recheadas: corte uma tampa, escave e faça um recheio com pão esmigalhado, ovos, salsinha, cebola e carne moída; leve ao forno numa assadeira com água e um pouco de azeite, até amolecer. Ecco.
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