Outro dia desci para o café da manhã de pijama e minha filha Ananda deu muita risada quando reparou na estampa da blusa - esta da foto. Ninguém, nem eu, nunca tinha notado, nem lido. Só sabia que tinha uma rosa. Não parece, mas sou romântica. Comprei o mimo numa destas lojas populares da Rua 12 de outubro, aqui na Lapa. Pelo preço, pela cor, pela rosa e por não ser chinesa. Pouco importava o que estivesse escrito. Entre risadas à mesa, nos lembramos da história do dia das mães que, de tanto contar, já faz parte do inconsciente coletivo aqui de casa. Mas, por favor, guardem seus lenços. É pra rir, não pra chorar.
Tinha lá meus 9 anos. Meu pai era operário, minha mãe, costureira e a coisa lá em casa fluía bem com quatro crianças bem alimentadas, saudáveis, limpinhas, arteiras e religiosas. De resto, era uma dureza só. Antes de se casarem, eles moravam na roça e não havia este papo de dia das mães, dia dos pais, dia das crianças ou comércio por perto. O máximo que incorporaram da modernidade urbana foi fazer bolo com k-suco para os amigos nos aniversários e dar um presentinho como bola de plástico ou boneca no natal. Não sei porque, meu pai inventou que naquele maio teria presente de dia das mães e caiu na besteira de me dar dinheiro para comprar lembrancinhas para cada um dos filhos presentear. Sempre cheia de opinião e cabeça-dura, fui sozinha à loja na avenida com o suficiente para trazer quatro canecas ou qualquer outra besteira equivalente hoje a itens de R$ 1,99. Neste tempo eu ainda tinha religião e uma fé inocente e inabalável em Nossa Senhora Aparecida (meu nome é Neide Aparecida, por promessa). Nem precisei escolher. Bati o olho e decidi. Era um quadrinho do tamanho de uma agenda, com duratex de fundo, coberto de vidro e recheado com uma gravura rosada de Nossa Senhora segurando o menino Jesus, uma rosa ao lado como a do pijama, e a singela inscrição em letras brancas fazendo ondas : Feliz Dia das Mães! Achei lindo aquilo, quase chorei de emoção. Minha mãezinha, muito crente e sensível, também teria achado, como realmente achou quando abriu o primeiro embrulho. Afinal era o primeiro dia das mães com presente. Que lindo, que meigo! A segunda irmã deu o seu presente. Abriu, era igual. Agradecimentos, que lindo, um sorrisinho amarelo. A terceira, igual. Um sorriso meia boca. Meu irmão, igual. Já um sorriso inverso. Engraçado, nunca me esqueço, a cara dela foi mudando, ficando tensa, franzida, sem conseguir disfarçar a decepção. Pensei: um para cada quarto, um pra sala e outro pra cozinha. Assim, ela seria homenageada em qualquer canto da casa onde estivesse. Se minha irmã caçula já fosse nascida, teria comprado um a mais, para o banheiro. Não sei porque, todo mundo riu. E na segunda-feira lá fui eu à loja trocar três quadros por três úteis canecas de louça. Não achei ruim, não. Mas talvez tenha sido por lá que ficou minha fé.
Feliz dia das mães!
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