Laranjas de chupar ou o mercadinho do português
Comida Saudável

Laranjas de chupar ou o mercadinho do português



Seu Emílio é o português que há pouco tempo abriu um sacolão aqui perto de casa. Moramos numa zona residencial estrita e não há nenhum comércio muito perto. Agora, é só andar um pouco que eu chego lá e compro as melhores laranjas do bairro. Afinal, ninguém mais dá importância para laranjas de mesa. Até os produtores estão na fila para comprar mais mudas visando o próspero comércio de suco para exportação. Ninguém mais quer saber de morder e mastigar uma laranja suculenta. Estamos criando uma geração de crianças que só conhecem frutas pelos melados sucos das caixinhas de tetra-pack. Pois eu gosto de levar uma tigela para a frente da televisão com laranjas de vários tipos e comer inteiras umas 3 ou 4. Nós todos aqui em casa temos este hábito esquisito. Aliás, minha família toda faz isto e a gente acha que é a coisa mais normal do mundo (hoje sei que não é). Desde que me conheço por gente não me lembro de um só dia na casa de meus pais em que a cesta, ou a gaveta da geladeira, não estivesse cheia de laranjas. Minha avó paterna se sentava embaixo de uma limeira da pérsia e chupava limas até não poder mais. Uma vez passou mal e teve que ir para o hospital. Meu pai chupa umas 8 por dia. E quando é época delas no sítio, até mais. Mas o Seu Emílio têm sempre ótimas frutas ? laranja-lima e bahia, lima-da-pérsia e pêra, todas suculentas e doces. Sabe-se lá onde ele vai buscar. Só sei que no Hipermercado Extra, o comércio mais próximo daqui, as laranjas são horríveis. E quase tudo o mais. As limas são sempre murchas, os melões, aguados e os pêssegos, esponjosos. Minha implicância é mais pelo tamanho monstro daquilo que devorou todo o pequeno comércio do redor. Por isto, estou feliz com o mercadinho do português que vende, além de frutas e hortaliças, vinhos lusistanos e produtos de supermercados. Um adeus ao Extra e a todos os hipermercados. Viva o mercadinho do português que sempre me cumprimenta ?bom dia, ó filha?. Torço para um dia aquilo vire um Santa Luzia e vivo perguntando como está indo o negócio. Responde sempre que o importante é o cliente, ó filha - seja lá o que isto queira dizer (acho que está indo bem). Por enquanto o que tem lá é o essencial, mas do bom e do melhor. E é assim: chego, compro uma porção de coisas e ele manda entregar. Às vezes vem ele mesmo dirigindo o carro e ainda pergunta se quero carona (além de proprietário, é caixa, empacotador, entregador e ótimo anfitrião). Peço apenas que dê um tempo para minha caminhada de volta, prefiro, quando tenho esta vista do Pico do Jaraguá.


Minha rua, fim de tarde, vista para o pico do Jaraguá





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