Terra Madre Brasil 2010 - começou
Comida Saudável

Terra Madre Brasil 2010 - começou



Hoje, enquanto olhava pela janela do avião e via nossa terra recortada em desenhos obtusos, pensava no quão danosa é esta agricultura praticada na maior parte do país. Paisagem monótona, terra em ferida aberta e, quando coberta de verde, sabe-se mais ou menos com o quê: soja, milho, soja, cana, comodites. Mata ciliar, cadê? No lugar dela, rios despudorados à força. Casa de agricultor, onde? No imenso tapete verde ou depilado, tratores trabalham mais e o grande produtor está lá bem longe com o controle remoto. E a comida que comemos? Pasme, a maior parte vem da agricultura familiar.
Mas aí é hora da chegada ao hotel onde os convidados do Terra Madre estão hospedados. Pedro me encontra e diz que trouxe um pouquinho de araruta; Josenaide não esqueceu do licuri; Jussara vai mandar por mim umbu para Mara Salles; Evanilda diz que é pra eu levar embora os jaracatiás que trouxe para a candidatura na Arca e assim passamos alegres pela longa fila de check-in do hotel, sem pressa. A passos lentos. Os arranjos para o quarto para três foram feitos na hora, de modo que dona Jerônima, do Marajó, e eu ficamos juntas com a Helén, do Sul da Bahia, que conhecemos na fila.
No quarto, Helin, do Projeto Onça, foi primeiro me mostrando o quiçare - um enorme inhame (Dioscórea) que deve pesar uns três quilos, tem umas protuberâncias na superfície, textura diferente do comum e lá na sua cidade (Taperoá - BA), é preparado com coco - cozido, ralado e misturado com coco. Prometeu fazer amanhã na casa de um amigo e trazer para eu experimentar.
Já a Dona Jerônima trouxe uma geladeirinha com delícias do Marajó, todas minhas: farinha de mandioca amarela, queijo de leite de búfala, polpinha de bacuri que dona Isabel, a mãe de 92 anos, tirou na tesoura. E polpa de taberebá da fazenda, farinha de tapioca e folhas de cipó de alho da horta.

Daí me ponho a pensar que há outras paisagens por aí além daqueles recortes monótonos que vi do alto, outras formas de cultivo além das monoculturas envenenadas, formas diversas de enxergar o alimento além das embalagens e outros prazeres além do consumismo exagerado.
Há outras formas de se conseguir comida além dos grandes supermercados; outras bebidas além da coca-cola; outros feijões além do carioquinha; outras verduras além da alface; outros amidos além da maisena; outras raízes e tubérculos além das batatas, outros peixes além do salmão, linguado e robalo; outras gorduras além do óleo de soja; outras frutas além do morango; doces além do bolo de caixinha, outras formas de cozinhar além do aquecer no microondas e outros aromas além dos cubos. E claro, muitos outros.
São estes e muitos outros que se encontram representados aqui neste Terra Madre. E mais ou menos sobre estes assuntos que vamos discutir aqui com chefs, produtores, acadêmicos e consumidores.
Se conseguir, vou tentar ir contanto um pouco do que tem acontecido por aqui. Ou pelo menos tento mostrar fotos.

O quiçare/ quissare, trazido pela Helén, companheira de quarto


Queijo de leite de búfala de Soure, Ilha do Marajó, presente da dona Jerônima


Bacuri, parente do mangostão, também presente da Ilha do Marajó



O jaracatiá ,de São Pedro-SP, esteve hoje novamente na mesa da Comissão da Arca do Gosto, da qual faço parte. Delicioso!

Polpa de taperebá e de bacuri (este, tirado com tesoura como o cupuaçu)


Farinha de Soure, Ilha do Marajó. Mais presente


Folhas de cipó de alho, que nunca são demais. Também do Marajó!

E mais presente do Marajó: farinha de tapioca fresquinha
A abertura com Teresa Corção, Margarida Nogueira, Beto Pimentel, Adriana Lucena, Roberta Marins de Sá e outros amigos

Escolares que participaram de uma oficina com a índia guarani Jera
E uma comidinha feita pela Gastromotiva, com alimentos locais e orgânicos, que ninguém é de barro.




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