A doença de Alzheimer é a Diabetes tipo 3 ?
Comida Saudável

A doença de Alzheimer é a Diabetes tipo 3 ?


Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Mark Bittman


Só para o caso de você precisar de outra razão para se livrar da comida lixo, ao que parece a doença de Alzheimer pode muito bem ser uma forma de diabetes induzida pela dieta. Essas são as más notícias. As boas notícias são que abandonar os refrigerantes, rosquinhas, carnes processadas e batatas fritas pode te permitir manter a sua mente intacta até que o seu corpo te falhe.

Nós costumávamos achar que havia dois tipos de diabetes: o tipo com o qual se nasce (Tipo 1) e o tio que você "adquire". Esse é chamado Tipo 2, e tinha o nome "juvenil" até que começou a se alastrar entre crianças. O tipo 2 é dado por uma combinação de fatores, incluindo a superalimentação em estilo americano.

A idéia de que o Alzheimer poderia ser a diabetes tipo 3 tem circulado desde 2005, mas a conexão entre uma dieta ruim e o mal de Alzheimer está se tornando mais convincente, conforme sumarizado numa história de capa da revista New Scientist intitulada "Food for thought" (N.T.: um trocadilho que pode significar "alimento para o pensamento" e "para dar o que pensar"), com subtítulo "Aquilo que você come pode estar matando o seu cérebro". (o gráfico — um cérebro de chocolate com um pedaço faltante — é assustador. Mas que fique claro: chocolate não é o inimigo)

Os estudos [1] são mais e mais persuasivos, e não surpreendem quando você entende o papel da insulina no corpo. Então aí vai uma lição breve.

Todos nós precisamos de insulina: em pessoas não-diabéticas, ela é liberada para ajudar as células a absorver da corrente sanguínea a glicose da qual precisam para extrair energia. Mas as células só conseguem armazenar quantidade limitada; açúcar em excesso é armazenado inicialmente como glicogênio, e  — quando há quantidade suficiente — como gordura. (O açúcar do sangue não vem apenas do açúcar em si, mas de carboidratos de todos os tipos; carboidratos facilmente digestíveis inundam a corrente sanguínea com açúcar). A insulina não apenas mantem saudáveis os vasos sanguíneos que suprem o cérebro, ela também encoraja os neurônios a absorver glicose e permite que estes mudem e tornem-se mais fortes. Baixos níveis de insulina no cérebro significam funcionamento cerebral reduzido.

A diabetes tipo 1, na qual o sistema imune destroi as células que produzem insulina no pâncreas, responde por cerca de 10% dos casos. A diabetes tipo 2 é crônica ou ambiental, e é especialmente prevalente em populações de consomem comidas hiperprocessadas em excessso, como a nossa. Ela é tragicamente mais e mais comum — cerca de 1/3 dos americanos tem diabetes ou pré-diabetes —, tratável mas incurável. Faz com que as suas células falhem em remover a glicose do sangue, ou porque o seu pâncreas não está produzindo insulina suficiente ou porque as células do corpo ignoram a insulina (isso é chamado "resistência à insulina"; já chego lá).

Colocando da forma mais simples possível (para o caso de os seus olhos passarem sem muita atenção, como os meus, em assuntos ligados à biologia do segundo grau), a insulina "chama" as suas células, pedindo a elas para tirar a glicose da corrente sanguínea: "Vocês aí! Recolham esse negócio!"

Quando a insulina faz tais chamdos com muita frequência — o que acontece quando você repetidamente toma bebidas cheias de açúcar e come comida-lixo — as células ficam sobrecarregadas e dizem, "Me deixe em paz". Elas se tornam resistentes. Isso faz com que a insulina insista ainda mais e, para deixar a coisa ainda pior, esse monte de insulina é ruim para os seus vasos sanguíneos.

A diabetes causa complicações muito numerosas par amencionar, mas elas incluem doença cardíaca, que permanece o nosso assassino número 1. E quando as células do seu cérebro tornam-se resistentes à insulina, você começa a perder a memória e fica desorientado. Você pode até perder aspectos da sua personalidade.

Resumindo, ao que parece, você desenvolve Alzheimer.

Um neuropatologista chamado Alois Alzheimer percebeu, mais de um século atrás, que uma forma estranha de proteína estava tomando o lugar das células cerebrais normais. Como estas placas beta amilóide (como são chamadas) chegam lá, tem sido um mistério. O que tem se tornado claro, entretanto, é que a falta de insulina — ou a resistência à insulina — não apenas diminui a cognição, mas parece estar implicada na formação das tais placas.

Suzanne de la Monte, uma neuropatologista da Universidade Brown, tem trabalhado nesses fenômenos em humanos e ratos. Quando ela bloqueou o caminho da insulina para os cérebros dos ratos, os neurônios se deterioraram, os animais tornaram-se fisicamente desorientados e seus cérebros mostraram sinais de Alzheimer. O fato de que o Alzheimer pode estar associado com níveis baixos de insulina no cérebro é a razão pela qual números cada vez maiores de cientistas tem começado a chamá-lo de diabetes tipo 3, ou diabetes cerebral [2].

Vamos juntar os pontos: sabemos que a dieta americana é um caminho rápido não apenas para a obesidade, mas para a diabetes tipo2 e outras doenças evitáveis, não transmissíveis, que atualmente respondem por mais mortes mundo afora, do que todas as outras causas combinadas.

Também já sabemos que pessoas com diabetes são no mínimo 2 vezes mais suscetíveis a desenvolver Alzheimer, e que a obesidade sozinha já aumenta o risco de função cerebral diminuída.

O que é novo é o pensamento de que enquanto a diabetes não "causa" Alzheimer, elas tem a mesma raiz: o consumo excessivo daquelas "comidas" que bagunçam os muitos papéis da insulina. (A genética tem um efeito na suscetibilidade, como parece acontecer em todas as doenças ambientais). "O açúcar está claramente implicado", diz a Dra. de la Monte, "mas pode haver outros fatores também, incluindo os nitratos na comida".

Se a taxa de Alzheimer subir no mesmo passo que a de diabetes tipo 2, que quase triplicou nos EUA nos últimos 40 anos, em breve veremos uma percentagem devastadora da nossa população não apenas com corpos falhando, mas também com os cérebros. Mesmo para os sortudos isso é uma notícia terrível, porque 5.4 milhões de americanos (quase 2% da população) tem a doença, cujos cuidados  — juntamente com o outra demências — vai custar cerca de 200 bilhões de dólares esse ano.

Uau. Isso é mais do que os 150 bilhões que temos dito que gastamos anualmente com doenças relacionadas à obesidade. Então o custo financeiro da pandemia de obesidade mais que dobra. Mais de 115 milhões de novos casos de Alzheimer estão projetados para o mundo nos próximos 40 anos, e espera-se que o custo suba para mais de um trilhão de dólares atuais. (Por que se preocupar em contar ? 350 bilhões já é ruim o suficiente).

A ligação entre dieta e demência nega a nossa noção de que o Alzheimer é uma condição que nos afeta por acaso. Adotar uma dieta sadia, uma dieta contrária à dieta padrão americana, pareceria te dar uma chance muito melhor de evitar a diabetes em todas as suas formas, juntamente com suas complicações assustadoras. Há, é claro, discussões a se fazer para trazer o governo para ajudar na luta — mas por agora, largue o refrigerante!

Referências 


1. NIH: Relative Intake of Macronutrients Impacts Risk of Mild Cognitive Impairment or Dementia and The Whitehall II Cohort Study; Rhode Island Hospital: A Link Between Brain Insulin Resistance and Neuronal Stress in Worsening Alzheimer’s Disease

2. Here is a fantastic and detailed summary by Dr. de la Monte:Alzheimer’s: Diabetes of the Brain?




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