O artigo "Em defesa da dieta paleo-ense" rendeu um bocado de discussões, tanto nos comentários quanto via email. Um desses comentários, feito pelo Tiago Pravato, me tocou muito - então pedi permissão ao autor para publicá-lo como post/depoimento.
Perfeito.
Penso exatamente desta forma. Estou há 7 anos nesta, sendo que do segundo ao sexto ano fui bem restrito, flexibilizando mais recentemente pois a rotina ficou pesada e comecei a emagrecer mais do que gostaria. Meu cardápio é talvez 80% paleo. Alguns dias faço jejum (4 ou 5 vezes por semana) simplesmente porque gosto. Alguns dias como menos de 50g de carbo, outros chego, sei lá, em uns 200g ou mais. Minha exceção hoje em dia ao cardápio paleo é arroz e feijão, que como as vezes.
Meu pensamento atual é de que as teorias por trás da "dieta" paleo são bastante plausíveis, quando não, comprovadas. Seja em relação a insulina, ou ao glúten, ômega 3/ômega 6, gordura saturada, colesterol, tudo isso pode ser verdadeiro, bem como podem, um ou outro, não ser. O que não me parece suscetível a mudança é forma como nos relacionamos com o alimento e como isso afeta nossa saúde. Para mim essa é a grande transformação. Isso provavelmente explica a má saúde dos americanos em relação aos franceses ou orientais (que não fazem paleo em sua maioria, mas são indubitavelmente mais saudáveis que os americanos).
Acho impossível mudar de fato a relação com a alimentação comendo 6 ou 7 vezes ao dia e é isso que muita gente não consegue ver. Comer a cada 2 ou 3 horas faz do ato de alimentar-se algo banal, desprovido de sentido e necessariamente a pessoa terá que comer comida industrializada. Não quero demonizar a indústria, mas não há como comparar a relação que se estabelece entre um pacote de biscoito e a que se estabelece com um prato de comida.
Por fim uma das chaves do sucesso da dieta páleo é isso: a relação com a comida é melhor, come-se com prazer de fato e a necessidade de se entupir é muito menor.
Para mim essa simples mudança na forma de me alimentar me mostrou a possibilidade de tomar rédeas de minha vida. O grande Raul é quem melhor resumiu isso - é bem verdade que ele não estava a falar de comida, mas para mim são estes os ensinamentos:
Se você acha que tem pouca sorte
Se lhe preocupa a doença ou a morte
Se você sente receio do inferno
Do fogo eterno, de deus, do mal
(não dá para pensar em alimentação como juízo de caráter, comer não pode envolver culpa e etc)
Eu sou estrela no abismo do espaço
O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço
Onde eu tô não há bicho-papão
Eu vou sempre avante no nada infinito
Flamejando meu rock, o meu grito
Minha espada é a guitarra na mão (ou a colher de pau)
Se o que você quer em sua vida é só paz
Muitas doçuras, seu nome em cartaz
E fica arretado se o açúcar demora
E você chora, cê reza, cê pede... implora...
Enquanto eu provo sempre o vinagre e o vinho
Eu quero é ter tentação no caminho
Pois o homem é o exercício que faz
Eu sei... sei que o mais puro gosto do mel
É apenas defeito do fel
E que a guerra é produto da paz
(aprender que nem tudo precisa ser doce para ser bom é um aprendizado de vida, que rúcula amarga mas é bom, que a dor é parte do sucesso e que perder não é o contrário de ganhar, ou pelo menos da glória. Sério mesmo... eu aprendi isso com a comida, leio Nietzsche desde a adolescência, Taleb mais recentemente – tudo isso tá la nos livros, em "Antifrágil", em "Assim falou Zaratustra", mas certas coisas somente o esporte e a comida me ensinaram)
O que eu como a prato pleno
Bem pode ser o seu veneno
Mas como vai você saber... sem tentar?
(Viver é verbo, é ação, é experiencia, não é inércia. Não preciso fazer tudo sempre igual, igual a todo mundo. Por que não tentar esse lance de paleo? Por que não dar chance a novos sabores?...)
Se você acha o que eu digo fascista
Mista, simplista ou antissocialista
Eu admito, você tá na pista
Eu sou ista, eu sou ego
Eu sou ista, eu sou ego
Eu sou egoísta, eu sou,
Eu sou egoísta, eu sou,
Por que não...
(pois é... POR QUE NÃO?)
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