As evidências contra as estatinas continuam a aumentar
Comida Saudável

As evidências contra as estatinas continuam a aumentar


Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Mark Sisson


Apesar de as estatinas tomarem muita pancada na comunidade primal, você precisa conceder uma coisa a elas. Estatinas podem não curar o câncer, ou salvar sozinhas a economia e trazer os empregos de volta, ou imunizar populações inteiras contra doenças cardiovasculares, mas elas fazem exatamente aquilo que prometem: diminuem o colesterol. E são muito boas em fazer isso. Você quer baixar o LDL sem mudar o que come ou quanto se exercita, ou tentar aquela doideira de meditação? Tome uma estatina. Você quer chegar aos números de lipídeos que te permitem baratear seu seguro de vida ? Tome uma estatina.

Exceto que as estatinas reduzem o colesterol ao inibir a HMG-CoA reductase, uma enzima crucial localizada mais acima no caminho de síntese do colesterol. Se isso fosse tudo que a HMG-CoA reductase fizesse por nós, seria uma coisa. No mínimo saberíamos no que estamos embarcando quando aceitamos a prescrição. Mas o "caminho do colesterol" não é isolado. Muitas outras coisas acontecem durante o seu processo e nas suas ramificações.

Alguns diriam que os outros produtos do caminho são irrelevantes quando você tem a oportunidade de baixar o colesterol. Ok, essa é uma reação normal dada a histeria generalizada que cerca os lipídios sanguíneos. Ainda assim, eu mantenho que deveriamos dar o benefício da dúvida à nossa fisiologia e assumir que os desdobramentos dos processos corporais acontecem por uma razão, mesmo que não estejamos cientes dos "benefícios" ou existência de um processo particular. Há um bocado peças interagindo nesse saco de carne que a sua mente chama de "lar". Provavelmente é uma boa idéia deixar que eles aconteçam, ou ao menos saber o que está acontecendo por lá.

O que há abaixo da HMG-CoA reductase?


CoQ10: Estatinas bloqueiam a síntse de CoQ10. Como a produção de CoQ10 está mais abaixo da HMG-CoA reductase, as estatinas interferem. Isso é um problema, porque CoQ10 é um antioxidante endógeno e participante vital na geração de energia celular. Ela nos ajuda a gerar ATP para abastecer nossas células, tecidos e estruturas. Contrações musculares a requerem. Deficiências de CoQ10 já foram ligadas a falha cardíaca e pressão alta. Felizmente, suplementos de CoQ10 são largamente disponíveis e, de acordo com muitos estudos, efetivos em evitar alguns dos efeitos degradantes de músculos das estatinas.

Esqualeno: uma vez que o esqualeno é precursor do colesterol, bloquear a produção deste é um objetivo claro da terapia de estatinas. Bom se você quer baixar o colesterol a todo custo, mas ruim se você gosta dos efeitos antioxidantes do esqualeno.

Vitamina K2: as estatinas interferem com a biosíntese de vitamina K. O caminho inibido pelo uso de estatinas é o mesmo usado para converter vitamina K em K2, que protege contra doença cardiovascular. Interessantemente, os locais do corpo nos quais os efeitos colaterais das estatinas predominam - cérebro, rins, células beta do pâncreas e músculos - também são locais típicos de armazenamento de vitamina K2.

Vitamina D: Uma vez que a síntese da vitamina D na pele, sob influência da exposição aos raios UV, requer colesterol, as estatinas podem prejudicá-la. Isso ainda não foi estudado, exceto por um estudo de curto prazo no qual os níveis de vitamina D de usuários de estatinas foram monitoradas por um mês. Apesar de mudanças não terem sido notatas, mudanças na produção de CoQ10 levam meses para aparecer após terapia com estatinas, e a produção de vitamina D pode requerer um intervalo de tempo similar para acusar alterações.

Testosterona: a produção de hormônios esteróides também é dependente do colesterol, e a terapia de estatinas está associada com uma pequena mas significativa redução nos níveis de testosterona circulante em homens.

Quais são possíveis efeitos colaterais da terapia de estatinas?


Estatinas podem causar mialgia, ou dor muscular. Se você ouvir casos anedóticos de pessoas que tomaram estatinas, esse é provavelmente o efeito colateral mais comum. Por outro lado, a maioria dos estudos clinicos sugerem que a dor muscular é rara. O que explica tal discrepância ? "Sintomas leves... tais como fadigas, mialgias ou creatinofosfoquinase levemente elevada (marcador de danos musculares), usualmente não são reportados ao FDA no período pós-entrada de mercado", sugerindo que "estimativas clínicas destes efeitos adversos são uma subestimativa da taxa de eventos no mundo real". Em alguns casos, estatinas podem levar até mesmo a rabdomiólise, um tipo de desordem muscular severo, frequentemente fatal, que sobrecarrega os rins com proteína degradada dos músculos.

Estatinas prejudicam as adaptações ao exercício. Quando você adiciona estatinas a uma rotina de exercício aeróbico, as melhoras normais em condicionamento cardiovascular e função mitocondrial são atenuadas. Além disso, devido à possibilidade de dor músculo-esqueletal e/ou lesões, o exercício também torna-se menos atrativo e desfrutável. Não é divertido malhar - ou mesmo sair para caminhar - quando se está todo dolorido.

Estatinas aumentam o risco de lesões músculo-esqueletais. Em um estudo recente, usuários de estatinas (caracterizados pelo uso de uma estatina por pelo menos 90 dias) mostraram mais propensos que não-usuários a desenvolver dor músculo-esqueletal, lesões (luxações, estiramentos, torções, distensões) e doenças. Outro estudo encontrou resultados similares para uso de estatinas e osteoartrite, artrite reumatóide e condropatias.

Estatinas aumentam a fadiga. Em um estudo recente, um grupo de 1000 homens e mulheres saudáveis com 20 anos ou mais, tomaram estatinas ou placebo. Os que tomaram estatinas reportaram redução na energia geral no dia-a-dia, e na quantidade de energia que conseguiam reunir durante o exercício. Tais efeitos foram mais pronunciados em mulheres tomando a droga.

Estatinas aumentam o risco de diabetes, com estatinas mais fortes tendo efeito maior. Três mecanismos foram propostos. Primeiro, estatinas reduzem a tolerância à glicose e induzem tanto hiperglicemia quanto hiperinsulinemia. Segundo, certas estatinas alteram a maneira como a insulina é secretada pelas células beta do pâncreas. Terceiro, a redução da CoQ10 desequilibra a função celular por todo o corpo, levando à disfunção. Essas são características das estatinas. Elas podem não levar todas à diabetes completa, mas tais mecanismos ocorrem uniformemente em usuários de estatinas em graus variados, e quanto mais tempo você aderir à sua terapia com estatina, maior o risco.

Estatinas podem aumentar o risco de certos cânceres. Em meio a manchetes espalhafatosas e enganadoras afirmando que as estatinas poderiam baixar o risco de câncer de mama - baseado inteiramente na associação entre altos níveis de colesterol e câncer de mama de um estudo que sequer examina as estatinas - temos o uso de estatina a longo prazo na prática aumentando o risco de câncer de mama em mulheres e a mortalidade geral por câncer em idosos, o suficiente para deslocar a redução na mortalidade cardiovascular.

Tudo o que sabemos, só sabemos porque as companhias farmacêuticas se dignaram a prover os dados.

Elas controlam o fluxo de informação. Elas tem os dados crus, e liberam apenas a pesquisa publicada que foi escolhida a dedo e passada por um pente fino. Na realidade, não sabemos o que está acontecendo, o que foi removido e o que foi omitido porque não temos acesso. Ver como as companhias tem tanto a oportunidade quanto os motivos para omitir ou minimizar resultados desfavoráveis, eu não estou confiante de que estamos vendo toda a história dos efeitos colaterais das estatinas. Por exemplo, grandes estudos clínicos frequentemente tem um "período de aquecimento", no qual as pessoas que apresentam tolerância ruim à droga são eliminados do estudo completo. Isso é simplesmente loucura. Nós precisamos de estudos que olhe especificamente, ou ao menos incluam os intolerantes à estatina. Efeitos colaterais certamente são raros quando você exclui as pessoas que estão mais propensas a tê-los.

Ok, ok. Mesmo com os potenciais efeitos colaterais, certamente o benefício à saúde cardíaca faz tudo isso valer a pena. Certo ?


Depende.

Ainda que as estatinas possam reduzir a mortalidade por doença cardíaca em certas populações, elas consistentemente falham em reduzir mortalidade por todas as causas em todo mundo exceto pessoas com histórico clínico de doença cardíaca estabelecido. Para a prevenção primária em pessoas sem história prévia de doença cardíaca, mesmo para aqueles considerados em "alto risco" (LDL alto e tal), as estatinas não reduzem a mortalidade por todas as causas. O mesmo vale para os idosos (que parecem sofrer mais depressão e declínio cognitivo quanto tomando estatinas). Nem as estatinas reduzem o número total de eventos adversos sérios, que incluem morte (por qualquer causa), admissões hospitalares, internações, incapacitação permanente e câncer. Esta é a história, uma vez após outra. Você pode ficar menos propenso a morrer de infarto, mas estará mais propenso a morrer de outra coisa. No final das contas, não vale de nada - a menos que você já tenha história prévia de doença cardíaca ou infarto.

O que isso quer dizer para você ?


Se você está tomando estatinas e percebe alguns dos possíveis efeitos colaterais listados acima, fale com seu médico sobre sair do ciclo. O seu médico trabalha para você, e não o contrário. Expresse suas preocupações, chegue armado com alguns estudos impressos e sugira um período de teste sem estatinas para ver como você responde, sob observação profissional. Mantenha-o atualizado com o seu estado através de comunicação frequente. Transforme a coisa em um auto-experimento com N=1. Talvez ele se torne até mesmo um estudo de caso. Talvez você mude a cabeça do seu médico sobre a realidade dos efeitos colaterais das estatinas; boa documentação tende a fazer isso. Ou talvez você perceba que as estatinas não eram o problema, afinal de contas.

Estatinas podem não te machucar. Elas podem até ajudar, se você já teve um infarto e não é idoso. Não estou dizendo que você não devia tomá-las. Só estou sugerindo é que se você estiver passando por quaisquer das questões mencionadas acima, você provavelmente deveria considerar não tomá-las - com a ajuda do seu médico para ver se os efeitos passam. E se o seu médico estiver te pressionando para toamr estatinas por causa de números levemente elevados de colesterol, pense sobre todos os importantes processos fisiológicos que ocorrem ao longo do mesmo caminho cuja inibição você está considerando.

A narrativa parece estar mudando, entretanto. Sim, eles querem dar estatinas a mulheres grávidas e já houve cochichos por anos sobre colocá-las na água potável, mas as coisas estão ficando melhores. Os forçadores de pílulas foram longe demais. A sua última versão das diretrizes para a prevenção primária da doença cardiovascular, que parece suspeitamente similar às diretrizes que você usaria se o seu objetivo primário fosse fazer o máximo possível de pessoas usar a sua droga, está recebendo um empurrão contrário considerável dos médicos do Reino Unido. Médicos com presença na mídia que escrevem para o site TheHeart.org estão questionando publicamente a utilidade das estatinas.

Estatinas tem o seu lugar. Não vou negar isso. Mas elas não são para todo mundo, há consequências e eu acho que as pessoas merecem saber disso.



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