Mark,
Sempre que alguém me pergunta sobre a minha história com a colite ulcerosa eu respondo algo do tipo "é como um pesadelo que vai ficar para sempre gravado no fundo da minha mente". Era 2006, meu último ano de escola, e tudo estava indo bastante bem. Eu era um cara saudável (ou pelo menos pensava ser) com 1.90m, 82kg, 18 anos e prestes a me graduar e rumar para o novo estágio da minha vida: a faculdade. Entretanto, a vida tinha planos diferentes para mim. No segundo semestre, comecei a me sentir nauseado constantemente. Parecia que qualquer coisa que eu comia (dieta americana padrão, é claro) passava diretamente por mim como seu eu não absorvesse nenhum nutriente ou energia. Concluí que era um efeito colateral relativamente normal por causa da quantidade de festas naquele ano, apesar de que os sintomas persistiam. Ataques de náusea iam e vinham, assim como dores abdominais horríveis que fariam mesmo o mais durão se dobrar em posição fetal. Decidi que era hora de fazer uma checagem. Fiz a minha primeira colonoscopia após algumas semanas dos meus primeiros sintomas.
"Você tem colite ulcerosa", o médico disse. Eu me lembro de minha mãe e eu olharmos um para o outro absolutamente confusos. Nenhum de nós jamais tinha ouvido falar dessa doença antes. Ele nos informou que a colite ulcerosa é uma forma de Sindrome de Intestino Irritável (SII), que é uma inflamação do cólon. Lembro-me de ponderar por um momento sobre o que isso poderia significar. Finalmente, olhei para ele e perguntei: "E então, o que eu faço ?". Ele respondeu com "Bem, nós podemos tratar com diferentes medicamentos, dependendo de qual seja o mais benéfico para você". "Tratar ?", eu pensei. "Você quer dizer que eu tenho que viver assim pelo resto da minha vida ?". Lembro bem da face do médico... era uma expressão de reserva, confusão e tristeza, como se ele estivesse tentando formular a maneira mais sábia e menos alarmente possível. "Não necessariamente. Muitas pessoas conseguem remissão completa com a medicação correta". Eu considerei a sua resposta cuidadosamente e perguntei, "Como essa doença é causada ?" Ele me olhou com arrependimento e disse "Infelizmente, não sabemos realmente". Eu não sabia o que dizer sobre aquilo. Ainda completamente chocado e confuso com o que me tinha sido dito, passei os próximos meses sob supervisão de um gastroenterologista e tomando muitos remédios diariamente.
Infelizmente, as coisas só ficaram piores - perdi três chances de fazer o SAT (N.T.: uma espécie de vestibular) em três ocasiões diferentes por virtualmente não ter energia, e sentir dores articulares e abdominais constantes - bem como a infinita náusea. Meus amigos e família se perguntavam por onde eu andava, porque eu não atendia o telefone e por que nunca saía de casa. Minhas tentativas de comer eram dignas de pena, e como resultado eu estava perdendo peso rapidamente. Adiantemos a história para 2 aos depois... Depois de diversas medicações e tratamentos falharem, dos farmacêuticos aos alternativos, acabei com peso emaciado de 58kg e dormindo talvez 2 a 4 horas por noite.
Nunca me esquecerei da sensação que tinha durante esse período da minha vida. Era como se eu estivesse na fronteira entre a vida e a morte, uma espécie de limbo. Nada parecia real. Após teimosiamente me recusar a ir a um médico (devido ao meu desgosto tremendo com a medicina naquele ponto), meu pai mais ou menos me forçou a ver o clínico da família. O médico me olhou com preocupação aparente, verificando minha pressão e pulso por três vezes. Ele me olhou e disse "Você precisa ir para o hospital imediatamente". Meu pai rapidamente me levou ao pronto-socorro, onde fui levado de maca para uma sala e enchido de analgésicos e fluidos. Me lembro de meu pai me dizendo o que o doutor tinha lhe dito, que é algo que nunca esquecerei: "Se você o tivesse trazido um pouco mais tarde, ele poderia ter morrido".
A notícia boa é que eu estabilizei, embora apenas temporariamente. Através dos meses seguintes, meu peso se alterou feito louco, as medicações pararam de funcionar, e eu estava de volta à estaca zero. Toda a falsa esperança que eu recebia de cada novo medicamento que tentava e falhava, estava cobrando um alto preço não apenas fisicamente, mas também na mente. Minha única outra opção a considerar era uma cirurgia, com a qual finalmente concordei. Meu médico sugeriu uma cirurgia em três passos. A primeira foi uma colostomia total (remoção completa do intestino grosso), resultando na necessidade de usar uma bolsa de colostomia por nove meses enquanto a cirurgia cicatrizava. O segundo passo era construir um reservatório íleo-anal, que é basicamente uma conversão de parte do intestino delgado em uma bolsa com formato de J, para formar um cólon improvisado. O passo dois durou uns poucos meses, enquanto o reservatório cicatrizava e eu continuava a usar a bolsa de colostomia. O terceiro e último passo foi "reconectar o encanamento", por assim dizer. Essa foi uma das melhores decisões que já tomei, e não me arrependo nem por um minuto.
Meus sintomas diminuíram para um nível gerenciável, me permitindo eventualmente ficar independente, vivendo sozinho e trabalhando. Apesar da colite estar estabilizada, eu ficava constantemente inchado e enjoado, e o reservatório íleo-anal desenvolveu uma inflamação crônica que era resolvida temporariamente com antibióticos fortes como Flagyl e Ciprofloxacina, mas eventualmente reaparecia. Todas essas inflamações crônicas que eu tinha não faziam sentido. Eu estava curado, certo ? Isso não deveria estar acontecendo.
Bem, foi aí que eu comecei a realmente analisar a minha dieta, o que finalmente me trouxe ao seu livro, The Primal Blueprint.
Quando finalmente abandonei a dieta americana padrão e comecei a viver de maneira primal (eliminando comidas processadas e mais importante, GRÃOS, e adicionando mais gorduras saudáveis, plantas e animais), percebi que a dor tinha se reduzido a um mínimo, meu peso estabilizou-se e deixei de ter inchaços que geralmente apareciam após uma refeição rica em grãos/carboidratos. Isso parecia estar funcionando para mim, então fiquei com ela. Após diversos meses de vida primal, aos 24 anos, com peso estável de 82kg e 1.90m, posso dizer com segurança que estou na melhor forma da minha vida e me sinto melhor do que pré-colite. Meus níveis de energia estão estáveis. Na prática, raramente tenho aquele desânimo pós-almoço a menso que coma algo que não devia (o que apenas me relembra que estou caminhando para o lado ruim e preciso recalibrar). Perdi mais de 15kg de gordura e ganhei uma quantidade significativa de massa magra, mas o mais importante é que me sinto saudável. Apesar de saber que nunca serei "normal" novamente, sei também que finalmente estou no caminho certo para a saúde ótima e uma vida cheia de felicidade. Obrigado, Mark, pelo conhecimento altruísta que você compartilhou comigo e com tantos outros que venceram suas dificuldades através do Primal Blueprint.
Do fundo do coração, obrigado.
Kyel