Respostas neurais fetais reduzidas no diabetes gestacional
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Respostas neurais fetais reduzidas no diabetes gestacional


Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Parker Brown

Uma criança ainda não-nascida, de uma mãe com diabetes gestacional, reage mais lentamente a sons depois que a mãe consome glicose, de acordo com um novo estudo.

Pesquisadores observaram como fetos de 12 mulheres com diabetes gestacional – e um grupo de controle de 28 grávidas com tolerância à glicose normal – respondem a estímulos auditivos após a mãe ingerir 75g de glicose. Eles descobriram que 60 minutos após o consumo da glicose, as latências fetais foram mais longas no grupo com diabetes, em relação ao grupo de glicemia normal (296±82 millissegundos versus 206±74 ms; P=0.001).

No grupo da glicose normal, as latências diminuíram entre 0 e 60 minutos, de 260±90 ms para 206±74 ms (P=0.008), e ficaram estáveis até os 120 minutos (206±74 versus 230 ±79 ms; P=0.129), de acordo com a autora Katarzyna Linder, da Universidade-Hospital de Tübingen, Alemanha, e coelgas. Eles reportaram suas descobertas na quarta-feira no Jornal de Endocrinologia Clínica e Metabolismo.

"Esse estudo provê evidências de que as reções do cérebro do feto são influenciadas pelo metabolismo pós-prandial, e que fetos de mães diabéticas reagem mais lentamente a estímulos auditivos do que fetos de mães saudáveis", escreveram os autores no artigo. "Isso poderia indicar que o diabetes gestacional diretamente afeta a função cerebral fetal, o que poderia ser interpretado como resistência à insulina nos centros nervosos do filho".

Os pesquisadores também fizeram uma análise de regressão linear múltipla para verificar se havia variáveis de confusão. Idade mental, índice de massa corporal, idade gestacional e tabagismo materno não afetaram as descobertas, mas houve uma correlação significativa e independente entre a glicemia maternal (P=0.041), os níveis insulínicos maternais (P=0.037) a latência da resposta fetal aos 60 segundos. Não houve diferença de latência entre os dois grupos no estado de jejum.

A idade gestacional no estudo variou  de 27 a 36 semanas. Todas as gestações foram livres de complicações e de filhos únicos, e duas das participantes relataram que fumavam até 5 cigarros por dia.

As medidas foram iniciadas após um jejum noturno. As mulheres beberam 75g de glicose em solução, e amostras de sangue foram colhidas aos 0, 60 e 120 minutos. Antes de cada coleta, uma magnetoencefalografia (fMEG) fetal foi realizada. No ponto de partida, as mulheres com diabetes gestacional tiveram maiores níveis de glicemia em jejum e após 2h (P < 0.01), maiores níveis de insulina após 2h (P = 0.61), e menor sensibilidade à insulina (P=0.24) do que as mulheres no grupo de glicemia normal.

No grupo inteiro, houve um efeito significativo na glicemia média durante o teste de tolerância oral à glicose (r=0.45;P=0.004) e na média de insulina durante o teste (r=0.44; P=0.005), mas não no nível de ácidos graxos livres (r=0.064; P=0.69) sobre a latência da resposta fetal aos 60 minutos.

"Pode-se assumir que se a resistência à insulina no cérebro já é induzida no cérebro do feto humano, isso pode ter consequências para o metabolismo da glicose do recém nascido mais tarde na vida", escreveram os autores. Mas a evidência de que o diabetes gestacional afeta a função cognitiva da prole é conflitante e limitada. Os pesquisadores concluem que apenas estudos de longo-prazo poderão provar se a latência à resposta auditiva importa para a função cognitiva.

"Nós especulamos que a latência da resposta auditiva prolongada no estado pós-prandial reflete especificamente a habilidade do cérebro fetal de regular o metabolismo periférico", escreveram os autores, apontando para estudos animais limitados como evidência. Eles acrescentaram que a explicação mais provável para a mudança da função cerebral é que a glicose fetal ou o aumento da insulina pós-prandiais aumentam a ativação neuronal e podem melhorar as funções cerebrais fetais.

As limitações do estudo incluem o fato de que os autores fizeram o teste de tolerância oral à glicose com  medidas de fMEG em gestações da 27a à 36a semana, enquanto a janela de diagnóstico recomendada para diabetes gestaciona vai da semana 24 à 28.

"Além disso, atualmente não sabemos se os diferentes padrões de reação cerebral em fetos têm consequências no fenótipo do adulto e se é reversível ou não", escreveram os autores. "Essas questões essenciais deveriam ser abordadas em estudos de longo-prazo para melhorar ou construir programas de prevenção".

O estudo foi parcialmente financiado pelo Ministério Alemão de Educação e Pesquisa, e pela Associação Helmholtz.

Os autores não revelaram relações significativas com a indústria.



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