Comida Saudável
Come-se no Acre
Pois é, chega deste frio. Por aqui, 30, 35 graus. Cheguei ontem a Rio Branco e fui recebida com uma baforada pra ninguém botar defeito. Estou com mais três pesquisadores da USP, uma meninada simpática do mestrado e doutorado, Bárbara, Lúcia e Pablo, que participa de um projeto em Acrelândia sobre saúde coletiva, do qual também faço parte por um ano - estou indo para organizar umas oficinas culinárias.
Só reservamos um dia para Rio Branco - daqui a pouco seguimos com as tralhas para Acrelândia que fica a menos de 100 km. Lá ficaremos numa casa do projeto e espero também poder cozinhar e, quem sabe, se tivermos conexão, mostrar algumas coisas de lá. Se bem que todos dizem que não vou encontrar nada de muito típico porque a cidade é formada com gente de outros estados, cada qual com suas tradições. A ver.
Ontem fomos ao mercado e, pelo menos em Rio Branco, deu pra perceber algumas peculiaridades do comer por aqui. Come-se, por exemplo, churrasquinho com farinha de mandioca e mandioca cozida (veja o copinho na foto), come-se muita banana da terra, frita em chips e frita madura e elas são enormes. Come-se caroço de fruta-pão. O colorau é feito com farinha de mandioca em vez de fubá. A melhor farinha de mandioca é a de Cruzeiro, amarelinha, com ou sem coco. Tacacá se come a qualquer hora e há muitas barracas fixas e móveis. Vi pouco tucupi à venda, mas no mercado o encontrei em saco plástico e tingido com corante à base de amarelo tartrazina, que vai do amarelo ovo ao amarelo fanta (fuji). Tão comum quando o tacacá é o caldo com ou sem osso, que quer dizer uma deliciosa sopinha de rabada com tucupi e bastante jambu. Tem por aqui uma broinha de goma crocante, que é diferente de tudo o que já vi. Pé de moleque é uma massa de mandioca puba bem temperada com especiarias e assada em folha de bananeira. Já as folhas de bananeira das tapiocas molhadas e beijus feitos com castanha foram substituídas por saco plástico (pena). Melado, açúcar mascavo e alfenis rústicos e escuros, tem também. No mercado tinha feijões frescos, do manteguinha e do rajado. Muito maxixe amarradinho pelo rabo, muito jambu e chicória (coentrão) para o tacacá. Laranja é vendida na rua descascada e é um bom refresco para estes dias quentes. No mercado tem peixe vivo escolhido na hora. Come-se por lá o famoso prato
baixaria, ou bruxaria, como alguns o apelidaram, que nada mais é que cuscuz com carne moída e ovo, no prato. Para um lanchinho rápido tem os mingaus de farinha de tapioca e de banana. Às vezes os dois juntos no mesmo copo, um em cima do outro. E a farinha de tapioca usada não é pipocada como a de Belém, mas dura como o sagu, e do tamanho de pérolas. Se comi tudo isto? Quase tudo. E agora estou saindo pra comer mais. Se não conseguir publicar nada de Acrelândia, volto no dia 22.
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