Couve amarelo-outonal, tipo raro. Ou couve orgânica envelhece com dignidade
Comida Saudável

Couve amarelo-outonal, tipo raro. Ou couve orgânica envelhece com dignidade


Pode-se até tentar defender a agricultura convencional baseada no uso de defensivos, por este e aquele motivo. O pior argumento seja talvez de que sem isto não dá pra alimentar o mundo. Fosse assim, desde a revolução verde e agora com quase todo o milho transgênico, não teríamos mais fome como ainda vemos na África, na Ásia e aqui na América. Com o uso de adubos e mata-pragas altamente tóxicos tem-se a falsa impressão de aumento de produtividade sem levar em conta o desperdício e o envenenamento da terra e das águas, com consequências econômicas e ambientais nem sempre imediatas. Mas vou falar só do desperdício. 

Couve-rábano comprado fresquinho na feira, com dois dias na geladeira:
folhas meladas
No mundo vegetal acontece o contrário do que vemos nos alimentos convencionais industrializados,  que duram uma eternidade não por propriedades intrínsecas dos ingredientes principais, mas por causa do excesso de conservantes.  

Já reparou como cenouras da feira, mesmo aquelas compradas ainda com ramas, se deterioram rapidamente? E as couves, as salsinhas, os coentros? Se o feirante não vende no dia, vai tudo pro lixo. Cenouras e mandioquinhas apodrecem no centro, criam uns tumores moles na superfície, batatas viram chaminés de fossas. E couves, nem se fala. Outro dia comprei, para um trabalho de foto, uma manga verde palmer -  totalmente fora de época, é bom que se diga. Com dois dias, a manga já estava estragada sem estar completamente madura.  Uma couve-rábano, a mesma coisa. Com dois dias de geladeira, em saco plástico, as folhas estavam apodrecendo, mal-cheirosas - a da foto. Couves compradas por aí, guardadas na geladeira, duram quanto tempo sem se deteriorar, derreter, feder? E salsinhas? Não passam de uma semana. 

Eu já tinha ideia do tempo maior de vida útil das verduras e legumes cultivados sem agrotóxicos quando os trazia do sítio dos meus pais, em Fartura. Mas não era sempre e as evidências ficavam mais diluídas. Também percebia isto quando comprava na feira de orgânicos. Mas, agora, que abasteço a geladeira quase que exclusivamente com hortaliças que cultivo em Piracaia, sem usar nada além de compostagem que sai da terra e volta pra terra - toda sobra vegetal da minha cozinha, guardo num balde e levo pra lá, pra composteira-, e algum esterco de vaca ou de galinha, não tenho nenhuma dúvida quanto a isto.  Prova é esta da couve. 

Na semana passada fui limpar a geladeira e encontrei dois saquinhos com couves diferentes que tinha trazido do sítio antes de viajar pra Foz do Iguaçu e Curitiba - foram meus marcadores de memória. Ou seja, um mês de geladeira. 




E veja o estado das couves. A clorofila se foi, o betacaroteno ficou. Acontece que os vegetais produzem um gás que funciona como um hormônio, responsável pelo amadurecimento, que faz perder o verde e ganhar colorido (entre outras reações de envelhecimento).   No caso das frutas, é desejável até um certo ponto, no caso das verduras, não, pois ninguém quer comer brócolis amarelos. E o etileno degrada a clorofila. Como junto com clorofila sempre há um pouco de betacaroteno numa proporção menor (3 a 4 de clorofila para uma de betacaroteno),  quando a clorofila é degradada, o amarelo ou alaranjado aparece. É o que ocorre com as flores e folhas outonais - aquelas lindas cores estavam como que camufladas pela clorofila.   

Pois a couve estava tenra, nada murcha, nada melada, com odor suave de couve. Claro, o sabor era um pouco diferente, mas,  ainda assim, couve.  E como o betacaroteno é precursor da vitamina A tanto no vegetal verde quanto no amarelo, pelo menos neste aspecto nutricional não houve grandes perdas. Nem em fibras. Numa degustação às cegas, duvido que a rejeitariam como couve. 



Piquei e refoguei.  Numa degustação às cegas, confundiria facilmente

É lógico que não precisamos chegar a este extremo de comer uma couve amarela com um mês de colhida, mas isto mostra que uma couve orgânica dura muito mais, envelhece com postura. De qualquer forma, é comestível ainda amarela - e é linda, não é? É só pra mostrar que malgrado a cor, a couve está ali, quase intacta e ainda digna.  E o fedor sulfuroso de couve estragada é ausência total de qualquer traço de dignidade couvácea, é ou não é? 

Mas, faça você mesmo o teste. Compre hortaliças parecidas, convencionais e orgânicas, e compare. 

E fique agora com fotos das minhas couves do sítio em estado de perfeita verdura: 



Só tinha 3 tipos (todos trazidos pela caseira Silvana)
Agora tenho 4 tipos, incluindo a rendada, também trazida por ela - trouxe
uma muda de cada para plantar no quintal aqui em São Paulo 







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