É tempo de dente-de-leão
Comida Saudável

É tempo de dente-de-leão



Em minhas caminhadas pelo bairro, sempre volto com alguma erva que cresce espontaneamente nas calçadas e praças. E neste quesito, minha aldeia, City Lapa, é bem servida - um dos bairros mais arborizados de São Paulo. Agora é época de colher caruru, beldroega, seralha, pincel-de-estudante, tiririca dourada e dente-de-leão, entre outros verdes (se bem, que dente-de-leão pode ser encontrado quase todo o ano). Ontem me deparei com uma praça com barba por fazer, um verdadeiro canteiro de dente-de-leão que, por aqui, não se dá o menor valor, é considerado mato, de forma que fiz um favor para a limpeza municipal em arrancar pela raiz uns 10 pezinhos da planta daninha. Mas gente simples da roça come ou comia em situações de penúria. E franceses chiques também, já que é vendida no mercado como qualquer outra (é o que vejo em livros, nunca estive lá), sob o nome de pissenlit, apelidada de dent-de-lion por causa das folhinhas dentadas. Em inglês, virou dandelion.
Nativa da Europa e da Ásia, é fácil entender porque é tão prolífera. Toda criança já soprou uma vez na vida aquela bolinha fofa de sementes aladas que acabam parando e germinando em alguma praça, terrenos abandonados ou frestas de calçadas. Pelo nome científico, Taraxacum officinale já se pode imaginar que esta folhinha não está aqui pra brincadeiras. Espécies denominadas officinale são sempre aquelas com aplicações na fitomedicina. Folhas, raizes e flores são diuréticas e também indicadas para problemas biliares e estomacais. Mas, para isto, é melhor procurar um médico fitoterapeuta que sabe fórmulas e dosagens adequadas.
O que me interessa é que as folhinhas são gostosas como o almeirão e me apetecem porque são amargas - contém princípios amargos como a taraxina. Sem contar que tem fitoesterol, vitaminas, minerais e, como qualquer verdura, clorofila (Oh!!) para a alegria dos que gostam de suco de luz do sol. Não é o meu caso. Eu gosto de clorofila na panela fazendo bonito com azeite, bacon, pimenta, alho, macarrão (com muito gluten, por favor). Ontem, com macarrão, foi meu jantar, que saiu com o que tinha aqui inspirada nas saladas francesas que vejo por aí. Folhinhas novas vão bem em saladas com bacon, alho, croûtons.
Para a salada que não fiz, é mais ou menos assim: frita bacon e alho picado em um pouco de azeite, tira e reserva. Mistura a gordura que restou na frigideira com um pouco de vinagre, sal e pimenta e joga ainda quente sobre as folhas novas (limpas e desinfetadas). Por cima, espalha o bacon e o alho reservado e pedacinhos de pão dourados na frigideira com pouco de manteiga.
Veja também aqui no Come-se salada com este e outros matos: Salada de folhas silvestres ao molho de cereja-do-rio-grande


Talharim com dente-de-leão e bacon
Numa panela, coloque 2 litros de água com 1 colher (sopa) de sal para aquecer. Enquanto isto, lave bem e desinfete com hipoclorito 100 g de folhas de dente-de-leão. Escorra bem. Corte em lâminas 4 dentes de alho. Deixe lavadas umas 20 folhinhas de manjericão. E pique em cubinhos 40 gramas de bacon. Quando a água ferver, cozinhe pelo tempo indicado na embalagem 150 g de talharim (usei um com pimenta, da Ana Soares, da Mesa 3) ou outro macarrão de sua preferência. Neste tempo, aqueça numa frigideira 2 colheres (sopa) de azeite e frite nele o alho e o bacon, só até o alho começar a dourar. Junte as folhas de dente-de-leão picadas grosseiramente ou inteiras, se forem pequenas. E as de manjericão. Refogue rapidamente só até murcharem. Desligue o fogo, tempere com sal e pimenta-do-reino e junte o macarrão escorrido. Misture tudo com cuidado e nhac. Dá para dois.
Livros onde dou minhas fuçadas

Wild Foods, de Roger Phillips; Fruits of the Forest - cooking with wild food, de Sue Style




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