Andar é tudo. Desde que decidi caminhar pela manhã todos os dias, muita coisa interessante tenho encontrado pelo caminho. Costumo sair pela porta dos fundos e pegar o rumo da Leopoldina. São ruas mais arborizadas e tranquilas e ainda tem uma praça linda com pista. Faço isto antes de começar a labuta. Hoje, porém, tomei café já paramentada e vim para o escritório trabalhar um pouco. Lá pelas 9 e meia é que resolvi sair. E também resolvi em cima da hora mudar de paisagem. Saí pela frente e segui para baixo, sentido Anastácio. Depois de dar umas tantas voltas pelas ruas, vejo um homem pegando umas vagens de uma árvore e uma mulher colocando tudo na sacola. Atravessei a rua decidida e me dirigi a ela: Oi, o que é isto?/ Drastick!/ What?/ Drumstick!/ Ah bom!/ E o que é? /Uma árvore indiana./É de comer?/ É! Meus olhos brilharam. Ela me falou um pouco da planta, daquele jeito indiano, com sotaque. Na hora me lembrei que já tinha visto sobre a Moringa oleifera no Globo Rural e achava impossível me deparar com uma desta árvore milagrosa em pleno bairro da Lapa, a umas cinco quadras de casa. A árvore foi plantada por ela - flores, folhas e vagens comestíveis. É usada ainda para o tratamento de águas poluídas.
Ela ainda me olhava desconfiada. Contei, então, que tinha em casa um pé de uma planta indiana, só pra quebrar o gelo. Aí ela se interessou. Qual? Neem, respondi. Ele fez cara de decepção, afinal há o nim inseticida que todo mundo conhece. Ah, é usado para inseticida, né?/ Não, respondi, é o neem doce, folhas de curry./ Ah, não, caripata?!/ Isto mesmo! Aí sim ela me olhou mais incrédula ainda. Contei que foi presente da Nina Horta que, por sua vez, tinha ganhado de uma indiana que morava no Alto da Lapa anos atrás. Ela quis saber o nome da mulher indiana. Não sei. Só sei que depois a Nina escreveu uma crônica na Folha sobre isto e foi aí que conheci este tempero. Aliás, depois disto desejei obsessivamente uma mudinha da tal e logo consegui. E ela continuou agora mais à vontade e surpresa: Pois esta mulher era a minha mãe, Mrs. Pillay. / Oh!! Então o caripata que tenho em casa é descendente do karipata da sua mãe?! As desconfianças parecem se dissipar.
Papo vai, papo vem, logo estava dentro da casa dela falando de receitas, vendo seu pezinho de caripata, irmão do meu, e as folhas de betel (Piper betel). De lá ela me levou de carro pra ver um pé enorme de folhas de curry plantado num estacionamento aqui na Lapa. Fiquei emocionada ao ver o tamanho da árvore. Na volta ela passou aqui em casa para conhecer meus temperos e meu caripata, primo do seu. Trouxe umas folhinhas de drumstick (falo dele no próximo post) e elas viraram meu omelete do almoço, seguindo dica da Shakuntala. Ela levou umas bananas figos.
Agora há pouco ela me telefonou e eu voltei à sua casa para experimentar os três pratos que ela fez com as vagens. E ainda ganhei um livro que tem receitas dela (fiquei super sem-graça porque só queria o nome para comprar e indicar) e a promessa de uma mudinha de betel. Quem quiser encomendar chutneys, temperos, massalas, picles e farinha de grão de bico, é só falar com ela (
[email protected]).
Ah, e é claro, anotei todas as receitas que vão no post seguinte. Shakuntala e o pé de folhas de curry (caripata) no estacionamento Ela aproveitou para levar um galhão para casa, afinal foi ela quem plantou o caripata ali.