Queria ter trazido de Angola e visto como é feita, mas o mais próximo que cheguei de lá foi a lojinha de produtos étnicos em Lisboa, na Mouraria, onde pude comprar feijões da Índia e farinha de musseque, de Angola. A curiosidade era pra saber se o sabor lembrava a nossa farinha d´água, cujo método de preparo deve ter sido levada para lá junto com a mandioca. Assim como a nossa, esta também é feita com a mandioca pubada ou fermentada por alguns dias, já descascada. Depois é enxuta, ralada e posta para secar ao sol, antes de ser torrada em panelas. Segundo a receita que aparece aqui, dá até pra fazer em casa. Embora o processamento seja similar, pelo menos em relação à pubagem, o sabor é bem diferente. A de musseque é deliciosamente ácida e tem textura mais crocante, mais fácil que comer que a nossa que tem grumos maiores e é mais recomendável para se comer com caldos. A angolana é mais torradinha e pode ser comida como farofa sobre feijão, de preferência feito com azeite de dendê (óleo de palma). Segui a recomendação do site que mostra a receita e cozinhei um feijão-de-corda para refogar no dendê. Uma banana crua e ulalá. Faltou uma banana-pão correta, um carapau ou garopa com vinagrete de cebola, uns pedaços de mandioca e batata-doce, para ter um verdadeiro mufete, conforme já nos mostrou a portuguesa Daniela do blog Migas com Gindungo que trabalha em Angola. Ainda assim, ficou bom, muito bom e foi nosso almoço há pouco, no feriado do dia da Consciência Negra. Com filé e bertalha no lugar dos clássicos acompanhamentos, que é pra reforçar a miscigenação.
Feijão de corda com azeite de dendê: cozinhei uma xícara de feijão-de-corda até ficar bem macio (com 4 xícaras de água e 2 folhas de louro, na panela de pressão). À parte, refoguei meia cebola em 1 colher (sopa) de dendê puro. Juntei uma pimenta malagueta em conserva amassada, meia colher (chá) de sal e o feijão cozido. Deixei ferver com um pouco de água até o caldo quase secar. Servi com farinha de musseque e banana crua. Rendeu: 4 porções Musseque ou muceque parece ter origem no kimbundo, mu seke, e significa areia vermelha. Hoje, em Angola, nomeia também favela. Mas nem imagino o porque do nome da farinha - era feita nos musseques? a farinha dourada lembra uma areia vermelha? Quem souber, por favor contribua nos comentários. E quem for a Angola ou Lisboa não deixe de comprá-la. Pelo menos para experimentar uma parenta mais ácida que as nossas farinhas do norte.