Festa Gastronômica Nossa Pitada, em Goiania: Assunto mato
Comida Saudável

Festa Gastronômica Nossa Pitada, em Goiania: Assunto mato


Prato da Neka: metade de uma tangerina coberta com bulbo de  funcho em
tirinhas, folhas de erva-doce, cabelinho fresco de milho e flocos de casca
de jabuticaba
Uma coisa legal do festival de gastronomia em Goiânia foi que pelo menos entre nós de São Paulo, Ana Soares, Mara Salles, Neka Mena Barreto e eu, uma ajudou a outra. Tivemos aulas separadas, em dias distintos, então pudemos contar com a ajuda e pitaco das outras. 

Logo no dia da chegada, Neka combinou uma visita a uma horta de orgânicos, na Fazenda Santa Helena, perto de Goiânia. Fui junto porque queria colher, quem sabe, mais caruru, beldroega e o que mais aparecesse crescendo à toa nos canteiros. Neka também queria verduras e alguns improvisos. Pois fomos com Adriana Lira, a proprietária, e nos divertimos. 

Para minha alegria e da Neka também, encontramos muitas verduras não convencionais. Neka é como eu, também adora um matinho e tudo leva à boca. Na saída ainda cismou de enfiar o pé no charco para pegar taboa. - Você vai usar? perguntei. - Eu não, é pra você! respondeu.  Confesso que já tinha muito assunto e o palmito da taboa deixei para uma próxima vez. 





Broto de baru, de milho, frutas secas, cagaita. Pré-preparo da
aula da Neka

É de comer?

Neka catando taboa com o pé na lama
Quem vê depois a aula toda linda, não imagina as aventuras que enfrentamos. A aula da Neka, a inaugural,  foi linda, cheia de verdes, brotos e frutas. Tudo cru. A minha teve pré-preparo um pouco diferente, pois queria mostrar as ervas muito frescas e isto só seria na sexta-feira. Ainda era terça. Já é mato, se for feio quem vai se interessar? 

Nos dois primeiros dias fiquei num hotel menor, com banheiro apertado e simples. Mas era ali que estavam as 21 pancs (plantas alimentícias não convencionais) plantadas em vasinhos de jornal que levei de São Paulo numa operação pra lá de complicada que começou dias antes, com a coleta e identificação e depois com as estufinhas individuais para não murcharen no avião. 

Bem, enquanto todos ficaram no bar Gloria, preferi ir pro hotel dar um jeito logo nas plantas colhidas na Fazenda Santa Helena que já estavam murchas depois de rodar o dia todo de van sob sol quente.  Eu queria dormir cedo. 

O que me esperava era uma caixa de verduras, beldroegas, carurus, tomatinhos do mato, pimentas e outras espécies,  arrancadas se possível com muita terra e raiz. Era só lavar uma a uma, mergulhar as folhas em água para tentar  reidratar, colocar em sacos plásticos com ar para fazer um microclima, fechar hermeticamente e deixar num canto fresco. Parecia fácil, mas as condições sobre a pia escura do banheiro eram precárias. Eu, atrapalhada, mesmo com o maior cuidado, deixei entupir o ralo e a água com barro foi se acumulando.

Conchinha com a palma da mão, retirada do barro com os dedos, nada adiantou. Tive que tirar a água com saco plástico e jogar no vaso, já começando a sujeira, até que consegui esvaziar a cuba. O chão do banheiro começou a ficar enlameado. Achei que tinha resolvido com a retirada de toda a terra, mas qual nada. Tive que usar uma pinça pra desobstruir o ralo e aí foi saindo coisas que não eram minhas - fio dental, grampo, cabelo.... Com o ralo limpo, liguei a torneira, a água começou a fluir devagar e logo se acumulou de novo. Resolvi desenroscar um copinho que fica embaixo da cuba - certamente a terra estaria parada ali. Antes, porém,  tive que esvaziar o lixo para usar o cesto como balde para a água que escorreria. Abri a rosca e splash. O balde era pequeno e a água lameada lavou o chão.  A esta altura,  o pessoal que tinha ficado no Glória certamente já estava dorminho e eu ali com o banheiro inteiro pra limpar, incluindo box, espelho, azulejos, vaso, tudo sujo de lama. Papel higiênico já quase não tinha mais. Cadê rodo?, não tem. Cadê tapete-toalha? não tem. Terminei de limpar as verduras e com o chuveirinho lavei tudo.  Fiz a mão de rodo e minha toalha reserva de pano de chão. Lavei também a caixa de plástico da fazenda e coloquei as verduras lavadas e ensacadas dentro. No fim até gostei de lavar o banheiro com sabonete. Ficou tudo limpo, reluzente, cheiroso, com a toalha lavada estendida pra secar. Tivesse um pedaço de palha de aço teria deixado aquilo quase tão limpo quanto o branco banheiro do Castros, para onde fomos depois, quando já não precisava daquela banheirona que teria se transformado numa piscina de barro.  Pelo menos deixei o hotel com banheiro mais limpo e pia desentupida. 

Sorte que tudo aquilo era só para colocar na mesa, com finalidade pedagógica,  já que a verdura que usaria na aula tinha levado de São Paulo higienizada dentro de uma vasilha.  

Fui dormir de madrugada decidida a acordar bem cedo para a vista ao maior jabuticabal do mundo. Amanhã eu conto. Ah, as verduras estavam lindas no dia da aula.  







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