Guariroba ou gueroba
Comida Saudável

Guariroba ou gueroba



Dois já estão prometidos

Há alguns anos, Marcos e eu compramos uma terrinha ao lado do sítio do meu pai, em Fartura. Isto, depois de já termos construído nossa casa na parte dele. A área é pequena, cerca de 18 mil metros, menos de 1 alqueire. Não podemos plantar nem construir nada porque a mata é protegida. Um pedacinho dela já havia sido desmatada para o plantio de 600 pés de cafés, uma mixaria que se soma aos do meu pai e rende alguma coisa. Mas compramos mesmo só para que a vegetação fosse mantida. Porque, mesmo proibido, todo mundo acaba desmatando para pasto ou lavoura, não poupando nem mata ciliar. Uma pena. Aí vem o Ibama, dá uma multinha e pronto. O estrago está feito e não há mais concerto. E queríamos justamente continuar protegendo aquele pedacinho de mata, que abriga pássaros, alguns felinos pequenos e bravos borrachudos, ui. Abrimos uma picada e de vez em quando vamos andar na trilha. Além deste prazer, nos dá também algum palmito guariroba que extraímos clandestinamente (sei que nem isto poderíamos fazer). Mas não tiramos mais que 2 palmeiras ao ano, só para consumo próprio (também para presentear a Eliana, goiana e cozinheira de primeira, a quem havia prometido). E, em compensação, plantamos vários outros pés de guariroba, pupunhas e juçaras pelo sítio. De modo que não nos sentimos assim tão devastadores.

Gurariroba (Syagrus oleracea)
Também chamado de garirova, gairoba, gairova, jaguaroba ou pati-amargosa, é uma palmeira típica do Cerrado, mas pode ser encontrado em outras partes, como em Fartura. O uso do seu broto na alimentação é herança indígena, e agora, quem gosta mesmo de consumir esta iguaria amarguinha, são os goianos e mineiros. O empadão goiano não é nada sem ele e seu amargor é indispensável.

Se cortar e deixar espostas, as fatias se oxidam e escurecem

Como preparar
Deve-se tirar toda a camada fibrosa e deixar só o miolo que pode ser cortado facilmente com uma boa faca afiada. De aço inoxidável, sempre. As fatias devem ir caindo dentro de uma bacia com água (ou água e limão), para não escurecer. Aí é só refogar em alho, cozinhar num pouco de água até amaciar. Pode ser temperado com pimenta, cebola, urucum (opcional), sal, pimenta-do-reino e muito cheiro-verde. Depois de cozido, em separado, pode ser juntado ao frango cozido. No arroz, também fica muito bom. Neste caso, basta juntar as rodelas na hora de refogar e ele vai cozinhar no mesmo tempo do arroz. Quem não gosta do seu amargor, pode aferventar em água com uma pitada de bicarbonato. Mas, sinceramente, acho que neste caso é melhor consumir pupunha ou qualquer outro palmito mais adocicado. Porque é justamente o amargor que lhe dá personalidade. Não sei se ele é vendido em São Paulo, mas no Centro-Oeste é fácil encontra-lo fresco ou em conserva.


Pratinho bem brasileiro: frango com guariroba, arroz com pequi, escarola refogada e pimenta

Fiz um ensopado com sobrecoxas desossadas e temperadas com alho, cebola, pimentão, pimenta, óleo de urucum, cheiro-verde. Cozinhei o palmito à parte e juntei ao frango quando ele já estava cozido e temperado. No final, acrescentei cheiro-verde picado e servi com arroz de pequi - arroz comum ao qual se adicionam sementes de pequi no momento de refogar os temperos.

Na panela de barro, o arroz com pequi fica muito melhor

Os pequis congelam bem, então, quando é época eu compro vários no Mercado da Lapa e deixo no freezer para quando der vontade. Ele é superperfumado e lembra um pouco o aroma do maracujá. É da turma do coentro, da jaca, do jiló e daqueles que atraem para si só dois tipos de sentimentos: amor ou ódio. Para quem ama, é só deixar as sementes para o fim, pegá-las com as mãos e ir raspando com os dentes a camadinha amarela e macia. À medida que se caminha para o centro do pequi, a coisa vai ficando perigosa por causa dos inúmeros espinhos. Para quem não tem o fruto fresco, há conservas bem decentes com a semente inteira ou só a parte comestível, em tiras. Pelo menos aqui em São Paulo, é comum nos Mercados municipais.




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