Já em Dakar. O melhor e o pior café da manhã da viagem
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Já em Dakar. O melhor e o pior café da manhã da viagem


Já em Dakar - o melhor da viagem
Demorei 24 horas para chegar em Dakar porque tive que esperar algumas horas no aeroporto de Madrid. Minha grande preocupação era o que fazer durante 7 horas de espera naquele ambiente nada acolhedor de aeroporto. Não consigo ler com distração e não gasto mais de meia hora para ver as lojas. E agulha de crochê e de tricô acho que não se pode levar na embalagem de mão. Um jeito bom de passar o tempo num aeroporto grande como o de Paris e de Madrid, com trenzinhos para percorrer longas distâncias, é passear pra lá e pra cá, de preferência por necessidade e não com o único propósito de não enlouquecer com a espera. E para criar esta necessidade é bom que você esqueça na bandeja do raio x algum objeto de extrema importância. Foi o que aconteceu. Tive que tirar tudo das bolsas para passar no raio x. Na minha frente, alemães sendo mal-tratados porque estavam carregando bebidas que foram jogadas no lixo sob protestos. Só para apavorar quem vem atrás. Depois de passar pelo sufoco, mesmo não tendo nada de errado a declarar, parei com as bandejas sobre uma mesa fria como de necrotério e fui arrumando as duas bolsas tentando respeitar a ordem original.  Ufa, ficou apertado, mas coube tudo de volta. E anda pra lá, anda pra cá, procura um lugar pra comer. Nada que me apetecia. Até que encontrei uma lanchonete cujas fotos me apeteceram - como se eu nunca tivesse trabalhado com produção de comida para fotos. Pedi o único item do cardápio que tinha cara de almoço, embora fosse um prato de café da manhã - tortilla, linguiça, feijão, ovos mexidos e suco de laranja. Fora o suco de laranja fresco que, incrivelmente, estava maravilhoso,  o resto era incomível. A linguiça tinha gosto de tresantontem; as fatias de bacon, cruas, mornas, elásticas;  a tortilla, encharcada;  os ovos mexidos moles crus e o feijão branco com molho doce de catchup era meio repulsivo. Sorte que tinha trazido pão com queijo do avião. Estava ali  olhando o prato com cara de nojo e lamentando meus 10 euros indo pro lixo quando observei que a bolsa de mão estava  tão gordinha. Pensei: com o laptop perfeitamente encaixado ela ficava tão retinha. Ué, então cadê o dito? Putz, esqueci. E pra saber por onde eu tinha entrado? Pergunta pra um, pergunta pra outro? De onde a senhora vem? De São Paulo, mas posso dizer que vim de Madri, porque saí e voltei. A senhora foi pra rua? Não, porque não quis, mas cheguei ao ponto de taxi, poderia ter ido ao Prado.  Então, entrei por Madri. Mas se era conexão, não podia. Tanto podia, que saí, seu moço. E liga pra um, liga pra outro, me mandam prum canto, mandam pro outro, passa de volta na polícia federal - Sim, eu saí,  entrei, estou saindo pra buscar meu ordenador e vou entrar de novo. Finalmente uma policial me acompanha até um lugar onde ele poderia estar. E isto, de trem, pra lá e pra cá. Finalmente o encontrei e a falta de duas teclas foi a senha para comprovar que era meu - afinal, descobri, muita gente esquece o laptop na bandeja. E lá vou eu, de novo na fila do raio x, de novo desmonta as bolsas, tira cinto, relógio e sapato, empacota creminhos, de novo coloca tudo de volta. Agora conferindo com calma. De novo polícia federal, explicando: eu entrei mas saí pra rua e entrei de novo,  saí  pra buscar meu ordenador e estou entrando novamente, agora pra ficar, portanto nada de carimbo, por favor. Ok, vá embora, sua louca. Mais trenzinho, me sento à beira do portão certo e dali não saí mais. Já estava quase no horário. Viu, como é fácil passar o tempo?  




No aeroporto de Dakar já estou escolada. Vem muita gente te abordar, querer pegar suas malas, colocar no carrinho, levar ao taxi, mas é só ir dizendo merci, merci, merci e ir passando com a cabeça erguida. O Ibrahim, motorista do hotel, foi me buscar e deu tudo certo. Desta vez me botaram no melhor quarto do Hotel Du Phare, um pousada bem simpática, mas que peca pelo café da manhã - água quente com sachê de chá ou nescafé (uma praga por aqui), baguete fria e mal cozida, leite em pó, suco artificial extremamente doce, além de geleia e manteiga.  Sorte que logo desceram os amigos padeiros franceses, Michel e James. Um, com biscoito de Prato (Prato, Itália) de sua padaria e queijo de leite de ovelha do Piemonte francês, onde mora. E James, que além de padeiro é botânico, com remédio preventivo pra malária feito num centro especializado aqui mesmo no Senegal.  As delícias e o carinho dos amigos fizeram deste o melhor café da manhã da viagem. Daqui a pouco seguimos para Thiés, onde vamos trabalhar com a população rural. 



O pior da viagem





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