Demorei para descobrir que a
iquiriba que o Carlos Alberto Dória mostrou na sua aula sobre culinária brasileira, na Escola Wilma Kovesi, também atendia pelo nome de
embiriba, pelo jeito o mais comum.
E, como não tínhamos o nome científico, gastei algum tempo também para diferenciar duas plantinhas do gênero
Xylopia. Acontece que um outro frutinho, mais comprido, também recebe os mesmos nomes, porém parece que é mais conhecido como
pimenta-de-macaco. Ambos apresentam sabor
resinoso e apimentado (que se sente na raíz da garganta e não na ponta da língua). Lembra ainda tabaco, pimenta de Sechuan e, descobri há pouco, de tanto mastigar as duas enquanto pesquisava, que lembra bastante o sabor do misque, aquela resina da planta
Pistachia lentiscus, vendida em cristais para aromatizar o mualabie - o manjar de leite que me inspirou no mingau.
Iquiriba: fui apresentada a ela na aula do Dória O Dória, se não me engano, encontrou os frutinhos secos no mercado Ver-o-peso, onde é vendido para garrafadas, xaropes, afrodisíacos. Cheguei aqui curiosa para saber mais a respeito e no outro dia, ao acaso, encontrei no Mercado da Lapa, numa loja de ervas medicinais e de candomblé. Encontrei ainda a pimenta-de-macaco, que o Dória não citou, mas esta eu conhecia e até então não sabia que eram parentes tão próximos. Achei um pouco mais fraca. Mas as duas são muito parecidas na personalidade aromática.
A imbiriba: saquinho a R$ 2,00 Xylopia aromática ou pimenta-de-macaco: também chamada de pimenta-de-gentio, pimenta-de-negro, pimenta-do-campo, pimenta-da-costa, pimenta-do-sertão, embira, envira, pacovi, pachinhos... Quando os portugueses chegaram, estes e vários outros frutinhos picantes deste gênero já estavam aqui, espalhados da Bahia à Amazônia e chegaram a substituir a pimenta-do-reino. Por isto, são conhecidas também como pimentinhas e as árvores, como pimenteiras. Olhe só a confusão.
Não tenho notícias de que sejam muito usadas atualmente como condimento, além da cachaça e que tais, mas se alguém tiver informações que complementem este post, elas serão bem-vindas. Mesmo porque falta-me tempo agora para estudar mais. Sei que há muitas pesquisas científicas sobre suas propriedades inseticidas e acaricidas (para matar ácaros que atacam plantações, pois em sua composição apresenta ?-pineno, ?-terpineno e limoneno, que agem como tal) e que popularmente sua infusão é usada para o tratamento de problemas gástricos e como afrodisíaco (além de condimentar cachaças). Outras substâncias como o mirceno, ocimeno, citronelol e carvona também são responsáveis pelo delicioso aroma (mais do fruto seco que nas sementes - eu achei).
Na aula, o Doria apresentou o aroma na forma de caldinha de açúcar que serviu com queijo. Uma delícia intrigante e resinosa. Só para testar, aromatizei o leite fazendo uma infusão com os frutos levemente socados e usei para fazer um simples mingal de maisena. Para não ficar muito sem-graça e já que estava me inspirando no mualabie, fiz uma compotinha rápida com as uvaias maduras que tinha no quintal. E não é que ficou bom? Então, vai a dica: perfume o leite e use em arroz doce, doce de leite, pudins e bolos. E as infusões com água, use para caldas, compotas, licores, molhos para carnes e etecéteras.
Mingau perfumado com embiriba com compota de uvaia
6 frutinhos de embiriba
1 xícara de leite
1 colher (sopa) rasa de açúcar ou a gosto
1 colher (sopa) rasa de maisena
1 pitada de sal
Para a compota
4 uvaias maduras
1 colher (sopa) de açúcar
2 colheres (sopa) de água
Quebre os frutinhos no pilão e junte ao leite. Leve ao fogo e deixe ferver. Desligue o fogo, tampe e espere esfriar totalmente. Coe, junte o açúcar, a maisena e a pitada de sal e leve ao fogo, mexendo sempre, até engrossar. Cozinhe por 1 minuto e tire do fogo. Mexa até amornar (eu deixei esfriar, formou uma crostinha que eu não queria, por isto bati com mixer o que resultou nestas bolhinhas indesejáveis que aparecem na foto - mas para todo o efeito, são efeitos).
Compota: lave bem as uvaias, corte ao meio, tire as sementes e reserve. Leve ao fogo o açúcar misturado na água e deixe ferver e dissolver. Junte a uvaia, espere aquecer bem e tire do fogo. Sirva com o mingau.
Rende: 1 porção
Livros que indico:
O Brasil na rota das especiarias
Rosa Nepomuceno
Editora José Olympio Editora
Plantas Medicinais no Brasil - Nativas e Exóticas
Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos
Editora PLANTARUM
Árvores Brasileiras - Manual de identificação e cultivo de plantas
Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos
Editora PLANTARUM