Tudo começou com os milhões de emails pra ler e responder quando voltei de Porto Alegre. No primeiro dia só respondi aos mais emergentes e de remententes conhecidos; no segundo, de leitores do blog e de gente querendo kefir. No terceiro, cliquei para excluir as mensagens em inglês que me pedem favores em troca de recompensa milionária e os que prometem o aumento de peças do corpo que não tenho. Já estava excluindo quando li rapidamente a palavra Saveur.
Era o James Oseland dizendo que estava no Brasil e que queria visitar um mercado comigo. Ele estava indo para Poços de Caldas e depois viria para o evento do Paladar. Respondi que tudo bem, mas que não poderia no sábado porque teria que preparar a aula de domingo.
Conversei com a Giovana Tucci, do Paladar (a mesma que fez a matéria comigo, que saiu na revista dele) e ficamos de combinar tudo no dia do coquetel. Estava eu lá conversando com a minha amiga Mônica Manir quando ele chegou de repente e efusivo sem ninguém me apontar, dizendo ter me reconhecido pela foto da revista. Como meu inglês é uma porcaria, conversamos numa prosa esquisita mas alegre e empática. E foi o que bastou para que eu aceitasse sacrificar o preparo da aula de amargos no sábado para passar quase o dia todo com ele e a Giovana, que é uma graça de gente.
Assim que chegaram aqui com o carro do Estadão, sugeri que fôssemos de trem, que é como normalmente vou, e ele aceitou na hora. Na estação, vendo o trem chegar, correu como todo mundo faz. E tirou fotos das pessoas. Diz que em Nova Iorque pega metrô todos os dias para ir ao trabalho.
E já chegou ao Mercado animado. Sacou sua super câmera da bolsa e não parou de disparar. Gente, fruta, carne, peixe, tudo. Andando e clicando ao mesmo tempo, como uma metralhadora. Paramos na banca da Marli para tomar suco de cupuaçu e outras frutas amazônicas em polpa, e ela foi trazendo tudo para o moço: cocada, castanha de caju, doce de abóbora, quebra-queixo, pavê, outros super doces e até a netinha para perguntar "what´s your name?".
Como era antes do almoço, quis saber o que ele preferia: sair de lá depois e ir comer em algum restaurante ou comprar o que quisesse experimentar e preparar aqui em casa. Nem titubeou. Preferiu vir comer aqui. Compramos maxixe, jiló, canjiquinha, lambari, mandioca e couve tinha aqui.
Antes, passamos no Ceagesp, mas a feira estava no fim. Fotografou algumas coisas, juntamos moedas pra comprar pimentas e depois voltamos para casa. E não pense que ficou olhando e fotografando o preparo, não. Ele botou mesmo a mão na massa. Picou a couve finamente, melhor que muita mineira por aí. E ainda o alho, a cebola, as pimentas, os cheiros todos. Nunca imaginei um auxiliar tão gabaritado servindo nesta humilde cozinha. Até a Giovana entrou na dança e preparou uma salada de ora-pro-nobis com tomate.
Fiquei feliz por não ser daqueles americanos que pensam que aqui só temos caipirinha e feijoada, que, por sinal, com este friozinho.... bom demais. Ele estava em busca de comida simples, de casa. Conhece ingredientes nossos e quer saber mais. Nem quis beber, por isto só fiz uma limoneide de limão rosa. E foi isto. Comeu, fotografou e me deixou totalmente à vontade. É um cara leve, agradável, culto e sabe como não ser arrogante, não contranger, te deixar à vontade. É um tipo curioso do jeito que eu gosto. Até a Dendê não sabia o que fazer de tanta alegria com o rapaz: se mijava em seus pés, se puxava suas calças, se pedia colo. Quando ele foi embora ela se aquietou de um jeito que deu até raiva.
Foi uma farra boa e uma ótima distração para um dia que teoricamente deveria ter sido de puro estresse (que é como fico pré-aula). Se eu tivesse sabido uma semana antes que ele viria almoçar em casa, não teria dado tão certo. Imagine o estresse da aula somado com a responsabilidade de preparar um menu para um editor da Saveur. Sem falar na arrumação da casa. Iria querer trocar o tapete, pintar a parede desgastada, passar guardanapos, comprar vinho. Assim, do jeito que foi, todos assumimos os riscos.
Só fiquei chateada porque ele voltou no domingo ao Ceagesp pra fazer fotos e não o deixaram, como se sua máquina fosse uma arma. Coisas do Brasil (e ele só queria divulgar aquela boniteza colorida de nossas frutas e verduras).
Como não levo o mínimo jeito pra tiete, tirei só estas poucas fotos. Mas deve sair hoje alguma coisa no caderno impresso do Paladar, do Estadão, nas bancas. Ainda não vi, mas já me contaram. Veja lá.