O Sertão de Joaninha. Parte 2
Comida Saudável

O Sertão de Joaninha. Parte 2



A parte 1 foi escrita um ano atrás quando falei de Joaninha, minha pequena amiga de Uauá, e talvez valha a pena dar uma olhada antes de seguir: Uauá-água.  Quando a encontrei novamente na semana passada, ela quis me levar aos mesmos lugares, me conduzindo às vezes pela mão, às vezes pelo magnetismo de seus passos e escolhas do seu olhar. Ela está crescendo, trocou os dentes de leite da frente, continua gostando de vestidinhos e falando coisas sérias, inventadas, engraçadas,  e fazendo comparações esdrúxulas como "mais cheio que o sangue da minha vaca",  me alertando para não ter medo e adivinhando minhas admirações . Desta vez a secura na caatinga era mais branda que no ano passado e o caldeirão estava mais cheio que, em sua visão, agora era um verdadeiro oceano.  Segue aqui um breve passeio pelo sertão pelos olhos e próprias palavras desta menina de sete anos. Com fotos que consegui fazer quando ela não pulava como cabritinha. 


Joaninha do sertão 


Neide, venha ver o poço, lembra quando você veio, que água tava rasinha nas pedras?, pois veja agora, venha ver, tá mais cheio que o sangue da minha vaca. Veja a natureza, aqui na natureza eu posso fazer uma casinha, brincar o dia inteiro e no fim do dia ir dormir. Venha logo, fica só anotando, não. Olhe a sombra do imbuzeiro, ela é muito úmida. E quando a gente fica cansada a sombra serve para descansar,  depois que as pessoas pegaram muito imbu embaixo do sol. Se você quiser, pode tirar foto de perto do imbu pra mostrar pra alguém que não conheça imbu. A cabrinha! Se alguma cabra morre eu fico chorando. Eu lhe digo onde é o poço, venha, vamos arrodear. Os cactos estão crescendo para não matar as criações de fome. Assim elas comem. Elas comem cacto e estas folhas de imbu. 


Se você quiser, pode colar este galho de pau de rato para suas pesquisas. As cabras estão com muita fome e sede há 40 anos. Quando eu dou comida elas comem na hora. Venha, o mar aqui é lindo. Quanta água. Não tenha tanto medo assim, é só um pouco de água. Tá chegando. Você está amando o passeio, não está? Veja a cabeça-de-frade. Os bichinhos não comem, não. Ela é só pra enfeitar a natureza. Se quiser, pode tocar, mas com cuidado, tem muito espinho. Olha aí o poço. Não tem um bocado de água? Olha aí, esta água vai pra caixa pra gente ter água pra limpar e tomar banho. 


Esta cerca é pra não entrar bicho. Sabia que quando a gente toca o fio esticado do arame farpado da cerca, faz música? Dó, ré, mi, fá ... É como corda de violão. Mas veja a água. Tá vendo estas ondinhas redondas? Tem piabinha aí, um monte de piabinha. Ninguém sabe, só eu. Eu sei porque posso ver o reflexo. 

Agora venha para outro passeio que eu sei que você vai adorar. Venha ver a formiga para suas pesquisas. Elas, quando alguém toca fogo ou quando prende suas amigas, elas podem picar para se defender ou soltar as amigas. 



Este aí caindo do umbuzeiro é cacto de cacho. Não é igual ao cacho do meu cabelo? Veja se não é. Não é lindo o fruto dele? É gostoso, mas a gente não pode comer porque ele dá de comer aos passarinhos, se não eles morrem de fome. Eu adoro esta areia. Pegue um pouco com a mão, tira o sapato pra ver como é macia, muito macia a areia da natureza, mas cuidado com espinho. 


Tá vendo esta aí? é a favela, onde algumas borboletas botam os ovinhos, que viram um bocado de lagartas que comem as folhas da árvore. Depois viram borboletas amarelas e de outras cores. Se quiser, pode levar uma pra você criar. Se bem que é melhor não. Olha aqui um ovinho, pode fazer carinho nele, não é uma fofurinha? Vou botar agora no lugar pra mamãe borboleta não ficar preocupada. As borboletas são as que mais mantém a natureza colorida. Tem preta, prata, tem amarela, azul e uma branca.  Olhe o cupinzeiro no imbuzeiro. Mora um bocado de cupim aí dentro. Olha aí, olha aí, um saindo. 


Neide, enquanto você vai aí observando e tirando foto do que você mais aprecia, eu vou ali comer imbu, ta? 





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