Oficina para as merendeiras: os ingredientes
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Oficina para as merendeiras: os ingredientes


Outro dia li que um chef estrangeiro veio aqui, achou tudo lindo, tudo ótimo, mas reclamou da qualidade da cereja.

Lógico, a cereja não é nossa e não encontramos a frutinha dando sopa nos mercados por aí. Se ele soubesse disso, teria trazido a própria cereja ou usado nossa pitanga.

No caso do chef, talvez ele quisesse reproduzir aqui exatamente o que costuma fazer em seu restaurante. No meu caso, não. Eu queria mostrar para as merendeiras que elas podem fazer pratos diferentes usando os ingredientes que elas têm por perto, nos quintais ou nos mercados, apenas mudando a combinação entre eles ou variando a técnica. Assim foi também nas oficinas de Acrelândia. Claro, já tinha conhecimento dos ingredientes encontrados em Uauá e vizinhança porque sempre que vou fuço feiras, quitandas, praças, bosques e quintais. Por isto, pude levar daqui apenas a apostila com receitas sem medo de não encontrar os ingredientes por lá. Também não levei utensílios. Teria que usar o que todas elas tivessem facilidade de encontrar ou ter em suas cozinhas.

Está certo que alguns ingredientes a gente só encontra nas feiras e com os produtores, mas isto também é divertido e faz parte do aprendizado, afinal não é só elas que querem aprender. A troca é fundamental.  Em alguns casos, me vi sem encontrar um ingrediente ou outro, como jiló, abobrinha, hortelã etc, que são comuns nas feiras semanais. Nos dias sem feira as quitandas atendem com alguns itens, mas geralmente não estão em boas condições. Então a saída é procurar fulano ou sicrano pra ver se tem no quintal, ou encomendar dos produtores quando se têm a oportunidade de encontrá-los pela cidade.

Em compensação, a gente vai encontrando ingredientes que não estavam na programação e eles acabam sendo incorporados em receitas de última hora. E aprendendo sobre eles, conhecendo outros.  Em alguns casos chegava para um grupo e explicava como poderíamos fazer e elas rapidamente assimilavam e entregavam o prato pronto com o ingredientes que havia encontrado por acaso. Nada de muito complicado, mas aquelas merendeiras, como já disse aqui, são acostumadas a fazer milagres para sobreviver na adversidade dentro das "cozinhas" escolares.

E assim, antes de cada oficina, era uma verdadeira caçada aos ingredientes. Só na primeira da série tive sorte de pegar dia de feira. Aí foi covardia. Mas, depois, era um tal de pega pimenta com uma, requeijão com outra, tempero com outro. E tudo aquilo que ia aparecendo pelo caminho.

Em Sobradinho, ficamos, Roseli e Eva que foram me ajudar e eu, num hotel à beira da estrada, em cima de um posto de combustível. Faltavam alguns itens para o segundo dia. Havíamos passado no mercado municipal mas não era um local farto em frutas. Já íamos deixando o hotel quando avistei um muro com mangueiras carregadas. Consegui erguer a Roseli, que é magrinha, e ela colheu muitas mangas verdes que usamos para sucos e saladas.

Outro fato curioso é que tanto em Euclides da Cunha como em Sobradinho e Curaçá, as merendeiras trouxeram ervas de suas casas. Quando olhavam a apostila e percebiam que não havia na mesa de ingredientes a erva pedida, sem que eu pedisse,  sumiam e reapareciam com a tal erva nas mãos. Ou, quando falávamos de tempero, alguém já prometia trazer no outro dia. E isto foi fato recorrente. Trouxeram capim-santo, hortelã, hortelã-grossa, limãozinho, manjericão etc.

Mas veja algumas fotos:

Mangueiras para as mangas verdes

Mangas verdes para o suco e salada

Roseli me ajudou bastante. Achava estranho meus métodos, mas se acostumou 

As frutas, ía comprando pelo caminho. Aqui, umbu.
O requeijão foi usado no lobozó
A preciosidade "vinagre de umbu" em garrafas reutilizadas,  ainda com rótulo 
Temperos de todo tipo na feira. Os comuns, indianos, além de pixuri, amburana etc
Melancia para o gaspacho
Dona Margarida cultiva pimentas





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