Pequi é um perigo. Festa Gastronômica Nossa Pitada em Goiânia
Comida Saudável

Pequi é um perigo. Festa Gastronômica Nossa Pitada em Goiânia


Na feira
Na Festa Nossa Pitada
Na estrada: pequi e jabuticaba
Durante o festival de gastronomia em Goiânia (Nossa Pitada), os bastidores faziam parte da atração. Ir à feira, comer no Panela Mágica, se encantar no Restaurante Popular (Neka que o diga) etc. Tudo isto,  junto com as aulas que pudemos acompanhar, é assunto para um livro. 

Demos muita sorte de estarmos em Goiânia numa época de muito caju, jabuticaba, cúrcuma,  cajuzinho do Cerrado e a alegria do goiano: pequi. Eles estavam nas aulas, nas ruas, nas feiras e restaurantes. Por toda parte.  


Na feira

Neka compra um tanto e aproveita para esfregar na pele, na boca. - Deve
ser bom pra deixar a pele bonita, não? O vendedor achou estranhíssimo
Quem nunca provou pequi (Caryocar brasiliense) saiba que há no caroço apenas uma pequena espessura de polpa comestível. No cerne há uma castanha, mas entre uma coisa e outra há um campo minado. É fruta que não se morde, que não se chupa. É fruta de roer com cuidado, segurando com as mãos e nunca com o garfo - a não ser que já chegue em lascas (como é vendido aqui em São Paulo, geralmente em conserva). Quando o dente sente que a polpa já não está macia deve-se parar ou terá um desagradável encontro com o que há de mais fino e atrevido em matéria de espinhos minados, já que abaixo da fina barreira mais firme eles são soltos e ávidos por uma língua macia.  Tudo bem, goiano sabe, mineiro sabe e toda tribo do Xingu.  Mas e os estrangeiros desavisados? 


No restaurante Popular
Bem, num dos dias em Goiânia voltamos ao restaurante Popular, onde havia pequi de panelada. Nunca tinha visto pequi assim, refogado e cozido com sal, purinho,  sem frango ou arroz, uma delícia, pra comer como batata, guardadas as particularidades.  

Comemos muito, rimos, bebemos e nos descuidamos de orientar Alex, o sobrinho italiano do Don Fabrízio, chef de Arraial d´Ajuda - BA, sobre as particularidades do pequi.  E logo estava o moço do lado de fora do restaurante em posição constrangedora com a língua de fora e duas mulheres com pinças em cima dele. Todo mundo achou graça e confesso que eu também. Fui a primeira a chegar à cena com a câmara para fotografar. Antes, perguntei se ele permitia. Se estivesse bravo ou constrangido, não fotografaria, mas ele estava encarando aquilo com certo humor. Depois de mim, outros fotografaram e o moço virou sensação e motivo de chacota.  A própria Dona Lourdes, muito preocupada, retirou quase todos os espinhos.  Um ou outro sempre resta mas o organismo dá um jeito de eliminar ou, quem sabe,  absorver para sempre. 


Alex com a língua semeada de espinhos. Que situação... 
Situação mais ou menos resolvida, dona Lourdes super sem-graça, Don Fabrizio se culpando por ter descuidado do sobrinho que não falava português e eu continuando a roer um e mais outro, dos pequenos, de polpa finíssima. Comendo e comentando com a chef Rose De Lena sobre o perigo dos espinhos, me gabando de saber comer pequi, que nunca me deparei com espinhos e blabla e,  tibum, cheguei à zona proibida. Tarde demais. Senti pontadas na língua como se tivesse mordido uma almofada de agulhas, com as agulhas presentes e descoladas agora para a almofada de músculo. É um incômodo tremendo. Sorte que foram só uns dois ou três espinhos teleguiados. Quem estava por perto tentou me convencer a ir lá fora na fila da pinça da dona Lourdes. Mas, não, não, deixa pra lá, não foi nada, amanhã passa.  Vi no espelho e os espinhos não estavam aparentes. Parece que entraram, se esconderam sob a mucosa só pra me azucrinar. Mas eu os sentia. De qualquer forma, é basta dar tempo ao tempo, pois eu, ali, na vista de todos e de câmeras fotográficas em punho, com a língua de fora, nananinanão, nem pensar.  Quatro dias depois não havia mais sinal deles.  


Rose De Lena mostra como roer pequi







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