A família também agradece ao Paladar
Como disse no post anterior, fui jurada do Prêmio Paladar 2008 (veja no site do Caderno). E, como registrei tudo diariamente num blog fechado, a partir de hoje vou reproduzir aqui, intercado com as coisas de sempre, um pouco do que foi minha vida dupla entre os meses de outubro e novembro. Pouca gente sabia porque tinha que largar às pressas meu trabalho e sair às vezes duas vezes por dia. E quem sabia, invejava. Comer no Dom? no Fasano? no Antiquárius? no Mocotó? no Gero? E ainda reclama! Confesso: reclamei muito. Estava com saudade de ficar em casa à noite, saudade da minha comida trivial, do meu fogão - neste tempo, óbvio, não cozinhei. Enquanto engordei dois quilos na jornada, a Eliana que trabalha aqui, que todo dia comia a minha comida, perdeu a mesma gramagem porque também não se animava a cozinhar só pra ela. Era pão com ovo e uma fruta todo dia.
Durante um mês tive saudade da feira, do supermercado, do cheiro de alho fritando. Foram mais de 40 restaurantes (55 pratos pré-selecionados internamente pelo Paladar através de indicações da própria equipe e jurados dos Prêmios passados) em menos de 30 dias. Tinha 5 mil reais para gastar e podia levar acompanhante desde que não saísse do orçamento. Várias vezes levei Ananda, o Guilherme e Marcos comigo. Consegui não estourar o orçamento (ainda sobrou crédito no cartão do Estadão), mas percebi que na maioria dos restaurantes você não pode se distrair, se não, só em couvert, água, sobremesa e cafezinho, gasta 3, 4 vezes o valor do prato principal.
Como era pra avaliar apenas o prato pré-determinado, nada mais deveria ser levado em conta: nem o lugar mofento, claustrofóbico ou suntuoso, nem o serviço mala, nem a decoração brega. O foco era no prato. Fiz a lição de casa direitinho: por exemplo, votei imparcialmente em pratos de restaurantes que nada têm a ver comigo e deixei de votar em outros de restaurantes que são a minha cara, simplesmente porque o prato não era feito com o arroz que eu queria ou porque tinha um miligrama de sal além do meu limiar. Mas também votei em alguns que uniam as duas condições: comida gostosa e lugar onde me senti bem. Agora chega de blá e vamos aos restaurantes e pratos que mais me chamaram atenção. Começo pelo único restaurante que não faz questão nenhuma que eu volte, nem você, nem ninguém, mas voltarei e recomendo. Só pelo prato (obs: já tinha postado sobre o Aska aqui, sem mencionar o Prêmio, mas o tirei do ar rapidamente para não gerar suspeitas - então, quem já viu, desculpas minhas)
Negui Lamen, com sal em vez de shoyu ou missô, mais cebolinha, algas e kamaboco (esta massa de peixe com desenho pink)
Tonkotusu missô: todos trazem as três clássicas fatias de lombo de porco assado (veja o filme lá embaixo)
ASKA - Lamen
Depois da aula do Marcos, fomos comer lamen no Aska, que concorria à categoria Oriental. Chuviscava e fazia um friozinho que pedia comida confortante. Já eram mais de 9 horas da noite (fecha às 10) e não enfrentamos muita fila. Só dois casais na frente, mas lá não tem nada de slow food no sentido lerdo da palavra. No painel, um recorte de revista com Jun Sakamoto dizendo que é seu restaurante de lamen preferido e que nunca deixa de passar lá pra comer um chashu men shoyu. Enquanto esperávamos, fomos xeretando o cardápio, assim já vamos nos adiantando, porque ninguém está ali pra enrolar. É pra comer e se mandar. Pelo menos são diretos, não ficam com sorrisinhos hipócritas e vassoura atrás da porta. Escrevem logo no cardápio, que é pra ninguém ter dúvida: "se estiver esperando mais gente, só ocupe a mesa quando todos chegarem e se estiver só ou em dois, ocupe o balcão". E, o principal: "desocupe a mesa o mais rápido possível".
O ambiente é pequeno, mas silencioso e aconchegante na medida certa para o tempo que deve permanecer ali - só até acabar de sugar o último fio de macarrão e sorver a última gota do caldo.
Em seguida, já estão tirando a louça e limpando a mesa. Ainda assim, fast food japonês, comida deliciosa para nutrir e alegrar a alma, você sai querendo já voltar. Pedimos chashu men missô, cashu men shoyu, negui lamen shio (todos estes feitos com caldo de galinha) e cashu tonkatsu misso (com caldo de porco) - este o concorrente. Todos trazem as três clássicas fatias de lombo de porco assado. A diferença entre eles é que você pode escolher entre os lamens feitos com caldo de porco ou de galinha e ainda optar pela forma de salgar - sal, shoyu ou missô.
Experimentamos todos e estava um melhor que outro. Em comum, um caldo límpido e muito aromático, com sal na perfeição, seja ele salgado com shoyu, sal ou missô. Os legumes como brotos de feijão e repolho aparecem crocantes; os pedaços de alga, macios. Na mesa, pimenta branca moída para completar. A porção é enorme, mas não empanturra porque o prato é leve, sem gordura. Parece funcionar como um repositor mineral. Pedimos ainda guiosas que seriam entradas, mas chegaram depois dos lamens que demoraram certa de 10 minutos para chegar à mesa. Foi rapidinho, mas com qualidade.
Paladar gastou: R$ 68,00 reais, em quatro, com água e refrigerante mais uma porção de guiosa.
Aska Rua Galvão Bueno, 466 - Liberdade
Tel. 11-3277-9682
Das 11h30 às 14 horas e das 18h30 às 22 horas
Domingo, só almoço
Fecha na segunda feira
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