Prêmio Paladar. Uma jurada de morte ou confesso que comi
Comida Saudável

Prêmio Paladar. Uma jurada de morte ou confesso que comi


Ontem foi a festa dos vencedores do Prêmio Paladar e o resultado está hoje nas bancas e no site. Junto ao jornal vem a revista com os pratos vencedores e indicações de vinho. Ainda tem júri popular que elegeu o melhor couvert da cidade além das blitz que sairam à caça do melhor grelhado, melhor falafel e melhor ceviche.
Teve prêmios surpresas, entre os quais um para personalidade do ano conquistado merecidamente pela Ana Soares. Nas páginas finais do especial, uma relação de ingredientes e locais onde podem ser encontrados.
Uma coisa bem legal foi o Prêmio Novos Talentos que revelou cozinheiros novatos e competentes, indicados pelos chefs de 10 restaurantes. O tema era cozinha brasileira e saíram ótimos pratos avaliados por mim, Luiz Américo e Mazzo França lá na cozinha do Senac. Foi um papel difícil este de julgar gente que estava ali se esforçando para dar o melhor. Houve alguns equívocos, alguns tropeços e a gente estava ali pra falar. No final fui pra casa me sentindo horrível, me chibatando por talvez ter dito coisas desagradáveis que possam desestimular em vez do contrário - espero que não. Aparte disto, foi uma delícia participar.
Agora, minha maior honra foi ter sido convidada novamente para participar como jurada do Prêmio junto com os blogueiros Anna Angotti e Demian Takahashi (do Que Bicho me Mordeu) e o Alho, Passas & Maçãs (que prefere não ser identificado), além de outras autoridades como Braulio Pasmanik, Flávio Siqueira, Jacques Trefois, Janaína Fidalgo, Luiz Américo Camargo, Luiz Horta, Patrícia Ferraz, Roberto Smeraldi e Silvio Giannini.
Funciona assim: nenhum chef sabe que está participando. E não é para avaliar o restaurante, suas instalações, o preço ou o serviço, mas um prato específico elencado ao longo do ano pela equipe do Paladar a partir de indicações quentes de bons gourmands. E tudo deve ser feito num espaço curto de tempo para que todos os jurados possam comer o mesmo prato sem muitas variações. Desta vez recebemos o cartão de crédito e a relação dos pratos no dia 19 de outubro (saí de lá e corri para ticar pelo menos um da lista) e teríamos que entregar os votos no dia 9 de novembro. Neste tempo tivemos que visitar 35 restaurantes e provar 51 pratos.
Achou apertadinho o tempo para tanta comida? E se no meio deste tempo ainda tirasse 6 dias para ir a Portugal? Foi o que aconteceu comigo. No tempo que me sobrou, por várias vezes tive que almoçar em três restaurantes num só dia. Odiei fazer isto quando, num sábado quis estar vendo filmes na Mostra de Cinema, que infelizmente aconteceu no mesmo período. Invejei amargamente quem pôde sair de uma sala de cinema e entrar em outra, enquanto Marcos e eu entrávamos e saímos de restaurantes cada vez mais empanturrados.
É bom? claro que é. No final, dá saudade, fica um aprendizado grande. É como uma pós-graduação intensiva em gastronomia. Na hora, porém, é como um parto sofrido, um martírio, principalmente por causa do tempo apertado gasto em grande parte nos deslocamentos numa cidade de trânsito caótico. É lógico que, depois, quando o saldo é positivo, a gente esquece as dificuldades como se esquece a dor do parto, o que fica é a parte boa. E, se for preciso, faz de novo.
Em vários momentos bate um arrependimento, a gente blasfema, se culpa por ter aceito, passa raiva, bate o desespero com os outros trabalhos atrasados, tendo que trabalhar de madrugada.
Fiquei ainda com dó dos amigos que eventualmente me acompanharam nesta empreitada - em vez de passarmos horas conversando, apressava-os para seguirmos para o próximo. Não deixava pedir a sobremesa, que comeríamos em outro restaurante. Passaram por isto os amigos Andres Sandoval, Mônica Manir, Kátia Stringueto, Inês Correa, Verônika Paulics, Carmen Ávilla a quem peço desculpas e mando agradecimentos mil.
Agora, quem mais "sofreu" mesmo foi o Marcos que me acompanhou em pelo menos 18 restaurantes. No final, ele implorava para não precisar ir. E eu, na maior síndrome de abstinência por não poder cozinhar nem ir ao mercado, ainda fui muitas vezes sozinha a restaurantes aonde não se costuma ir desacompanhada.
Dependendo da mesura do lugar, ia de trem, ônibus, metrô, a pé e, pouco antes de chegar, pegava um taxi para dar tempo de enxugar o suor, passar um batonzinho e aliviar o ar de cansaço. Acho que Ruth Reichl já passou por isto. Eu inventava uma desculpa de que o acompanhante desmarcou e por isto ia só comer uma entradinha.
Tive algumas crises durante este processo, de me perguntar se o fastio não prejudicaria minha avaliação ou se a amizade ou admiração por alguns chefs não comprometeria meu voto. Mas concluí que não em ambas as questões. Lutei todo o tempo pela imparcialidade e pela leitura verdadeira da minha opinião. Acho que consegui porque em vários casos votei em pratos que comi de barriga cheia no terceiro restaurante do almoço, por exemplo. E também deixei de votar em prato de chef amigo, de restaurante que eu adoro, para votar em pratos de casas que não fazem meu gênero. Simplesmente porque tinha que votar no prato e nada mais.
Então, mesmo entre os que não ficaram com os finalistas, mesmo entre aqueles que tiveram seus pratos criticados e reprovados por mim, há vários restaurantes aonde sempre vou querer voltar, seja pelo conjunto da obra, pelo serviço honesto e gentil, pelo ambiente agradável, pela relação custo/benefício favorável etc.
Mas isto não é fácil, principalmente quando você vai a um restaurante de uma amiga acreditando que esta esteja viajando e ela, já tendo voltado e sem saber porque você está ali, se senta à sua mesa enquanto você avalia o prato (caso da Mara Salles). Confortou-me muito saber que minha opinião independeu disto quando vi que a maioria dos jurados concordou comigo, dando ao seu prato de robalo com caruru o prêmio Laboratório Paladar.
Eu não votei também em prato de restaurante que amei conhecer, o Maripili, simplesmente porque gostei um pouco mais de outro prato e não era possível empate. Mas foi uma feliz descoberta, já fiz propaganda dele pra muita gente e estou louca pra voltar.
E é claro que todos os pratos que participaram já eram finalistas neste Prêmio e tinham seu mérito. Por isto, acho que não comi nada realmente ruim. Mas há dias em que o chef erra no sal, descuida do ponto, reduz demais um molho, a mandioquinha não está nos seus melhores dias, coisas assim. A gente vai procurar pelo em ovo. E sempre acha.
Bem, com alguns quilinhos a mais, porém, feliz, deixo aqui só uma pequena mostra do que "tive que" comer. Fora os irresistíveis couverts, uma tacinha de vinho aqui e ali, uma sobremesa desnecessária mas imprescindível no momento ou um outro prato apetitoso do menu...
Deixo aqui os pratos, meus votos e o ganhador de cada categoria. Mas comentários sobre todos os outros, lá no Paladar. Que, na semana que vem, vai dar também as receitas.

Entradas
1 - Ovo Mollet Empanado ? Cosi
2 - Tortilla de batata - Maripili
3 - Tutano ? Ici
4 - Terrine De Foie Gras ? La Brasserie
5 - Tartare De Vieira Com Cítricos - eñe- meu voto
6 - Ostra empanada ? D.O.M. - Premiado
7 - Coxinhas de rã com alho ? Marcel


Carnes
1 - Rosbife em crosta de lapsang souchong - Maní -meu voto e Premiado
2 - Ojo de bife - Arturito
3 - Filé alho e óleo de 230 g ? Filet do Moraes
4 - Entrecôte au four - La Brasserie


Peixes e frutos do mar
1 - Bobó de camarão - Amadeus - meu voto
2 - Lombo de Bacalhau ao forno - Marcel
3 - Polvo à lagareira com batatas coradas - Adega Santiago
4 - Pescada cambucu com vôngole - Emiliano - Premiado


Ovinos e Caprinos
1 - Paleta de cabrito (com molho de alecrim e bata­tas) - Gero
2 - Paleta de cordeiro - Maní - Premiado
3 - Costeleta de cordeiro com batata gratinada - Due Cuochi Cucina
4 - Atolado de bode - Mocotó -
meu voto

Massa
1 - Ravióli de burrata e speck - Due Cuochi
2 - Ravióli surpresa de quiabo e frango - Pomodori
3 - Ravióli de pato ao molho de laranja - Fasano - meu voto e Premiado
4 - Lasagna à bolonhesa - Aguzzo
5 - Spaghetti ao vôngole - Marina de Vietri
6 - Pasta con le sarde - Tappo


Laboratório Paladar
1 - Feijoada (com carpaccio de pé de porco) - Maní
2 - Arroz Maria Isabel - D.O.M.
3 - Robalo com caruru - Tordesilhas -
meu voto e Premiado
4 - Carne de sol (porção, feita à baixa temperatura) - Mocotó

Carne de Porco
1 - Porco à moda caipira - Pomodori - Premiado
2 - Barriga de porco - Vito
3 - Costeleta suína no forno à lenha - Zucco
4 - Buta no Kakuni (pancetta cozida com daikon e cebolinha) - Kinoshita
5 - Porco na lata - Dalva e Dito - meu voto


Sushi
Huto - meu voto
Hamatyo
Kinoshita
Jun Sakamoto - Premiado
Shin-Zushi

Bistrô
1 - Moules et frites - Ici - Premiado
2 - Ponta de alcatra assada bernaise com couve flor gratinada - Le Marais - meu voto
3 - Filé au poivre - La Casserole
4 - Coq au vin - L?Amitié (foto de Demian Takahashi)
5 - Cassoulet - Freddy


Sobremesa
1 - Mil Folhas - Fasano
2 - Tortino de banana com mel da Amazônia e sor­vete de açaí - Emiliano
3 - Pain perdu - Ici - meu voto e Premiado
4 - Explosão de chocolate - Carlota
5 - Pastiera - Marina di Vietri
6 - Torta de castanha do pará com sorvete de whisky - D.O.M.
7 - Moti recheado com chocolate ? Kinoshita




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