Quirquiña, uma. Porophyllum ruderale, as duas
Comida Saudável

Quirquiña, uma. Porophyllum ruderale, as duas



Praticamente idênticas as duas variedades da mesma espécie Porophyllum rederale. A de cima, arnica brasileira, sem cheiro; a de baixo, quirquiña, cheia de aroma

Aqui, todas quirquinhas. As da esquerda, brotaram espontaneamente depois de dois anos de dormência. A da direita, mãe de todas elas, que ganhei do Eduardo Luz
Em resposta à última charada, devo-lhe dizer: muitos palpites, poucos acertos, mas pelo menos muitos identificação a erva não comestível, arnica. No entanto, só o Leo deu nome e sobrenome para este tipo de arnica, já que, como disse a Luci, a arnica verdadeira, Arnica montana
, é nativa da Europa, cresce espontaneamente em regiões montanhosas e não é cultivada nem vai muito bem no Brasil.
Mas outras plantas nativas acabam recebendo o nome popular de arnica quando apresentam as mesmas propriedades da europeia, usada externamente como cicatrizante, anestésica, antiinflamatória etc. É o caso da
Solidago chilensis e da pseudo arnica que mostrei, Porophyllum ruderale.
Bem, mas o que está fazendo este tipo de arnica da fitoterapia aqui com comida? É que a outra planta da foto (lá na charada) tem o mesmo nome científico Porophyllum ruderale e descobri isto logo depois de conhecer a quirquinha na feira boliviana, no Pari (já falei dela aqui, ali
e vários outros posts). Fui pesquisar sobre ela, já que era muito parecida com o matinho que conhecia, e não deu outra - eram a mesma espécie.
Não encontrei artigos sobre a nossa erva medicinal relacionando-a com a erva aromática (o contrário acontece), talvez por terem usos diferentes. Fiquei feliz quando descobri porque achei que um dia iria achar a arnica brasileira com o cheiro da quirquinha. Doce ilusão. Todas as que crescem espontaneamente aqui no meu bairro são praticamente inodoras, ou com leve cheiro agradável mas insignificante, apesar das folhas com porus odoríferos, Porophyllum.
Talvez outras arnicas brasileiras, crescidas em outras regiões, tenham este aroma parecido com o da quirquinha, pois na monografia sobre a Solidago chilenses, no livro Plantas medicinais no Brasil, do Harry Lorenzi e F. J. Abreu Matos, a nossa arnica é apresentava brevemente assim: "Com o mesmo nome popular de arnica é conhecida também a espécie nativa Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass., conhecida também por cravo-de-urubu no Nordeste pelo seu odor nauseabundo quando fresca, a qual se atribui a mesma aplicação medicinal."
Este "odor nauseabundo" pode ser encontrado como descritor também da quirquinha e isto é compreensível quando lembramos, por exemplo, que o delicioso coentro causa repulsa em muita gente
.
Mas, vamos deixar arnicas para arnitófilos e fitoterapeutas. Falemos da quirquinha da cozinha. Como já disse, a conheci na feirinha boliviana. Comprei um maço porque me encantei pelo aroma que lembra uma mistura de coentro e arruda. Perguntei, na banca, como era usada, depois pesquisei mais em casa, deixei na água, enraizou e plantei. Ela prosperou, deu flores e sementes - daquelas voadoras como da capiçoba
e outras Asteráceas. E sumiu do mapa. Definhou e achei que nunca mais a teria.
Mas o Eduardo Luz, do blog Da Cahaça ao Vinho, conseguiu outra muda e me deu de presente - na foto lá em cima, no vasinho. E foi ele, obviamente, que acertou parte da charada. Novamente a planta cresceu, deu flores, sementes e definhou. Já havia sentido que seu ciclo aqui em casa não era muito duradouro, mas ainda assim me descuidei e não guardei sementes. Fiquei dois anos sem quirquinha. E nesta estação, depois da chuvarada
, não é que elas reapareceram espontaneamente? Fiquei tão, mas tão feliz, que tratei de usar logo antes que saissem de novo em revoada. Agora preciso conferir aqui nas calçadas vizinhas pra ver se, quem sabe, não povoam também a rua como as capiçobas.
Um pouco sobre a quirquinha: nativa também da América do Sul, esta variedade de Porophyllum ruderale era considerada pelo povo Quechua como erva culinária e medicinal. Hoje, a quillquiña ou quirquiña, é usada em pratos bolivianos e peruanos, como um tipo de coentro. Aliás, outro nome para ela é coentro-boliviano. No Mexico também entra em vários pratos e é conhecida como pápaloquelite, pápalo ou tepegua. Ela é cultivada nas regiões mais ao norte da América do Sul, América Central e até a parte sul da América do Norte - no Arizona, Novo México e Texas pode ser encontrada em estado silvestre, mas não é usada como tempero.
Como usar: em recheios de abacate para tacos, em sopas, grelhados, feijões, saladas, molhos picantes de tomate. Como o aroma é volátil e muito frágil, melhor usar as folhas frescas, colocadas no último momento em pratos quentes. Ou em pratos crus, em qualquer momento. Minhas folhinhas tenho usado assim:
Salada com quirquinha: tomates, chalotas roxas, pepinos, queijo fresco, pimenta ardida vermelha, sem sementes, suco de limão, azeite e sal. Mistura tudo e nhac!
Deixe-as na água e ficarão frescas por vários dias

Molho de tomate picante: tomates maduros inteiros bem picados, pimentas ardidas sem sementes, picadas, quirquinha picada, sal e azeite. Mistura tudo e...
Nhac com peixe, carne de porco ou como quiser




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