Serra da Canastra. Casa dos produtores de queijo Zé Pão e Romilda
Comida Saudável

Serra da Canastra. Casa dos produtores de queijo Zé Pão e Romilda



Há dois anos já falei um pouco sobre a rotina na casa desta família: http://come-se.blogspot.com.br/2012/01/na-casa-do-ze-pao-e-da-romilda.html

Mara Salles (chef do restaurante Tordesilhas) e eu fomos de novo nesta mesma época de começo de ano. Daquela vez caía água de derrubar pontes. Agora o tempo era seco de desacorçoar, de secar fontes, de enrolar as folhinhas do arroz plantado,  fazer pedras arderem sob nossos pés.

Em compensação, o céu estava muito azul e a água do córrego que passa a poucos metros da casa tinha água cristalina que continuava a arredondar as pedras do caminho.  Romilda e Zé Pão não mudam os ponteiros do relógio para o horário de verão, de modo que continuam a se levantar na hora das galinhas e das vacas. Ainda é escuro quando o casal começa as tarefas.  Romilda passa o café, põe fogo na lenha e já deixa o feijão ir cozinhando devagar. Acompanha o marido ao curral onde o trabalho começa iluminado por fraca luz acesa enquanto a claridade do dia  não chega. Invariavelmente Romilda toma um cafezinho em pé, acompanhado de um pão de queijo. No curral anda de lá pra cá com um banquinho de um só pé atado ao corpo para facilitar o agacha-e-levanta exigido na amarração dos pés das vacas, trabalho que se estende até a hora do almoço, quando terminam a ordenha de quase 50 vacas.  No meio da jornada, o trabalho é interrompido para o lanche. Romilda leva para Zé Pão bolo, pão de queijo e uma caneca de alumínio bem areada com café doce. No curral, Zé Pão completa a caneca com leite direto da vaca, que faz espuma densa que nunca vi em cafeteria alguma. Ele se senta em cócoras amparado pelo pé solteiro do banquinho que também carrega atado ao corpo, molha seu pão de queijo com um pouco de leite e come sem pressa. De volta ao trabalho, para sempre que necessário para levar o balde cheio de leite até a casinha de queijo.

Na hora do almoço, é coisa rápida. Um arroz sempre fresco, o feijão cozido lentamente, um refogado de verdura ou abobrinha, jiló, quiabo, o que tiver na horta. O tempero está bem ali, é só puxar uma cabeça de alho da trança que repousa sobre o fogão de lenha com toque defumado. Uma manteiga de porco, nome da banha, e quem sabe uma cebolinha.  Não é sempre que tem tomate nem pimentão, nem cebola. Colorau nunca usam.Pimenta-do-reino, talvez.  E tudo fica tão bom.

João Vitor, o menino, continua a não gostar muito do trabalho com o queijo. Quer ser outra coisa, mas não sabe bem o que. Gosta de fotografar, reconhece a flora e a fauna de Canastra, foi um ótimo guia, sempre doce, atencioso.  Incentivei-o a começar a fazer mudinhas de espécies nativas. São tantas flores raras, frutos pouco conhecidos, plantas medicinais e aromáticas. Ele fica um pouco entediado como qualquer menino de sua idade de passar os dias de férias ali sem comunicação, longe dos amigos e da cidade. Aliás, quem tiver um lap top sem uso ou um i-phone ultrapassado e quiser fazer uma boa ação, posso intermediar a doação (nenhum outro celular dava sinal ali, mas meu i-phone pegava e ele poderia usar internet, ler coisas interessantes, pesquisar).

Depois do almoço é hora de ir pra casinha fazer um dos mais deliciosos queijos da Canastra (a produção toda é vendida para queijeiro, sinto muito). Na mesa da cozinha há sempre uma bandeja de alumínio com garrafa térmica de café adoçado no centro, frequentemente renovado, rodeada por copos de vidro. Um prato com queijo está sempre presente para os de casa e os que vão chegando, se abancando, esticando a prosa, alternando café e queijo.  Mas nada atrapalha a lida que vai até o entardecer, de domingo a domingo, trabalho sem fim. O dia ainda pode terminar com pães de queijo quentinhos, grandes e crocantes.

Recolhemos soro e pingo, fizemos experiências na cozinha, ajudamos no almoço, na pia, Mara fez barreado,  tomamos banho de cachoeira, fomos a pé pra casa do Zé Mário e nos lavamos no rio cuja água parece igual, mas nunca é a mesma.  Dois anos se passaram e a vida ali parece seguir a mesma toadinha, dia após dia. Só parece.


Amora verde, com gosto de uva 

Driblando a pouca luz pra ver o barreado feito pela Mara

Depois de um dia de cozimento lento na lenha. Com temperos da Canastra

Erva doce, comum nas hortas

Secador de louça engenhoso

Arroz, feijão, frango caipira, mandioca, refogado de legumes, bucho
de porco recheado

Um pouco do que tem na horta: chuchu, abobrinha, quiabo

Mandioca não falta


Alho em cima do fogão de lenha. Defumando devagar

Capricho

Apesar do pouco tempo para o trabalho doméstico, Romilda deixa sua
cozinha sempre assim, arrumadinha

Planta minúscula do tamanho de minha mão. Há centenas assim

João Vitor

Mara anotando a receita do pão de queijo

Mara guardando o soro do queijo canastra

Bolos de fubás


Romilda troca de botas para voltar ao curral com o lanche do Zé Pão


O dia amanhecendo e o coador já foi usado e lavado 

Antes de ir pra lida

João Vitor:  hidromassagem no córrego






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