Continuando o post de ontem, volto a falar da amendoeira-da-praia ou sete-copas. Pelos comentários do O que é, o que é? pude descobrir uma porção de nomes, como chapéu de caiçara, castanhoeira ou castanhola, coração-de-nego, guarda-sol, sombreiro, figueira-da-índia, cuca ou amendoeira indiana, além daqueles mais universais como sete-copas, sombreiro, chapéu de praia etc. Originária da Ásia, o certo é a que a planta Terminalia catappa gosta de solos arenosos, mas se dá bem em qualquer outro. Por isto, está espalhada em todo o mundo, com nomes como: "(Arabic): Brasilia, (Bengali): bangla-badam, (Burmese): badan, (Creole): zanmande, (Dutch): wilde amandel, (English): Barbados almond, bastard almond, Bengal almond, country almond, demarara almond, false kamani, Fijian almond, Indian almond tree, Malabar almond, Malay almond, myrobalan, sea almond, Singapore almond, story tree, tavola nut, tropical almond, West Indian almond, white bombway, (Fijian): tavola, tivi, (Filipino): dalinsi, kalumpit, logo, talisai, (French): amandier de Cayenne, amandier des Indies, amandier des tropiques, badamier, (Hawaian): kamani-haole, (Hindi): badam, bahera, deshibadam, (Indonesian): ketapang, (Khmer): barang, châmbâk, kapang, pareang prang, (Lao (Sino-Tibetan)): ?hou kouang, hu kwang, sômz moox dông, (Malay): jelawai ketapang, jilawa, ketapang, lingkak, mentalun, telisai, (Mandinka): gyerte-tubab, (Pidgin English): reddish brown terminalia, (Português): amendoeira, castanola, chapeu de sol, guarda-sol, parasol, (Samoan): talie, (Sanskrit): rahadruma, (Spanish): alconorque, almendra, almendras, almendrillo, almendro, almendro de la India, almendro del pias, almendron, castana, kotamba, (Swahili): mkungu (Tamil): natvadom, tani, tanti, (Thai): dat mue, hukwang, khon, taa-pang, (Trade name): bastard almond, Indian almond-wood." Estes nomes e outras informações a respeito da planta você encontra aqui. A árvore ainda é pouco explorada em toda sua potencialidade, afinal as folhas são usadas em aquários para diminuir o Ph e o teor de metais pesados da água, o extrato das folhas é usado na medicina - depois falo das folhas, a madeira é resistente e útil para a fabricação de canoas e na construção civil e os frutos são comestíveis (quando os morcegos frugívoros nos deixam), sendo que a castanha nem precisa ser torrada para se comer. Ainda assim, muitas amendoeiras tem sido cortadas de nossas praias pois é considerada invasora no litoral do Sudeste, fazendo muita sombra e prejudicando o desenvolvimento de outras árvores nativas. Já no paisagismo, reclamam de suas folhas que forram o chão lindamente na época de muda. Não sei como é o impacto ambiental provocado pela árvore na área urbana, o que sei é que a planta mexe com os ânimos, comove até. E não destroi as calçadas pelo que vejo. Quando é lá para o meio de agosto, quando o clima está seco, as folhas começam a ficar amarelas. Vão avermelhando com a secura do tempo e caem antes que as folhas novas despontem no começo da primavera. Algumas folhas grandes, coriáceas e coloridas resistem até o último momento, quando os brotinhos novos ou o vento forte a derrubam à força. Depende de onde estejam as árvores, mais ou menos expostas ao sol, a muda pode acontecer mais tardia ou precocemente ainda que estejam no mesmo bairro. Foi o que observei por aqui. Enquanto na minha rua as amendoeiras estavam ainda peladas com borboletinhas de folhas despontando, a árvore da Veronika, aqui bem perto, já estava fazendo sombra verde com folhas já grandes. Pode ser também que a diferença seja em relação à variedade, já que os frutos da árvore da Veronika são verde amarelados, enquanto os outros, com folhas mais vermelhas e queda tardia, são de um vermelho-vinho intenso. As folhas são ricas em flavonóides (quercitina, canferol), taninos, saponinas e fitoesterois, além de pigmentos luteína, zeaxantina e violaxantina. Por isto, são muito requisitadas como medicamento caseiro. Mas não vou falar das folhas, agora é a vez dos frutos: colhi alguns dos vermelhos, mas eram poucos os aproveitáveis. A maioria dos que estavam caídos era de frutos mordidos por morcegos ou periquitos. E coletei do chão muitos do verde na casa da Veronika. Criança costuma comer direto do pé e, pelos comentários do post da charada, vê-se que muitos têm saudade deste tempo. Mas parece que não é reconhecido como fruto que vá à fruteira, embora a polpa seja ácida e doce e agradavelmente perfumada. Frutos verdes lembram peras e os vermelhos remetem ao aroma de jambo (foi o que senti). Adultos podem não achar muita graça em roer os frutos de polpa escassa e muito fibrosa (seis feixes vasculares se misturam à carne). Mas na cozinha podem ter muitas utilidades, já que, fora ser fibroso, não há nada no fruto que o desabone e nenhuma dúvida paira sobre o fato de ser comestível. Pelo contrário, além de ser muito nutritivo, a acidez, o perfume e a ligeira doçura são bons requisitos para um bom ingrediente. Pena que não tive muitos frutos para trabalhar, por isto deixo apenas algumas ideias de uso, mas as possibilidades são infinitas. Tanto para a polpa quanto para a amêndoa - também falo dela depois. 



Frutos descascados - o vermelho fica ainda mais colorido próximo à semente.


Suco: bata pedaços de polpa de sete-copas com água - algo como meia xícara de pedaços de polpa para meio litro de água. Coe, adoce e sirva com pedaços de limão e gelo. Um suco para ninguém duvidar de seu sabor (aqui fraquinho, mas ficará melhor se feito com mais polpa ou ao seu gosto).

Geleia: Fiz uma geleia aproveitando a pectina da maçã verde, numa proporção de 500 g de maçã para 150 g de polpa. Ao caldo coado, juntei açúcar. O jeito de fazer, guardando as devidas diferenças de ingredientes, é como o da geleia de pimenta, que você pode conferir aqui. 

Merengue: usei o suco de sete-copas vermelho e engrossei no fogo até formar uma calda grossa em ponto de bala mole. O jeito de fazer foi o mesmo que usei no marshmallow de cambuci, só que, em vez da calda de cambuci, usei o suco de sete copas coado. Quanto mais forte, mais rosado vai ficar o merengue. Aproveitei as gemas que sobraram para fazer um creme de confeiteiro que temperei com essência orgânica de baunilha e raspinhas de limão. Botei o merengue por cima e espalhei geleia de amora diluída. Em outro, pinguei por cima gotas da geleia derretida do próprio sete-copas. Mas você pode usar para decorar tortas ou cobrir bolos.


A árvore, desde que não deformada por podas, tem copa simétrica com galhos quase horizontais. Uma das características é perder as folhas no tempo da seca. Aqui no Sudeste, a seca coincide com o frio ou quase sempre e, segundo a Veronika - a dona da sete-copas da terceira foto, a árvore pelada facilita a entrada do sol fraco para aquecer o quintal no inverno, enquanto no verão as folhas grandes e verdes barram o sol forte, fazendo gostosa sombra fresca. Daí um de seus nomes: árvore guarda-sol.
Tata, a guardiã dos frutos da sete-copas caídos no quintal da Veronika.