Um passeio por Curitiba
Comida Saudável

Um passeio por Curitiba


Não podia deixar de comer em Curitiba: Barreado. Este, à moda da Lapa.
Curitiba, só conhecia de passagem, embora tenha vivido todas as férias de infância no Paraná. Mas era no norte do Paraná, especificamente no sítio dos meus avós. E Paraná tinha para mim um certo efeito libertador. Minha mãe começa a fazer as malas vários dias antes, costurava roupa nova para as crianças e esta preparação toda já ia produzindo em mim uma euforia sem igual. Íamos primeiro de ônibus, depois de trem e, finalmente, de aero-willys azul marinho que agrupava cinco crianças sem cinto no banco de trás.

Mas minha alegria só estava completa quando chegava ao sítio. Ir ao Paraná tinha este significado para mim: andar pelas roças de café, colher milho fresco para fazer sopa com cambuquira, comer batata doce até passar mal, levar sal no bolso para comer com pepinos que meus primos e eu arrancávamos da horta, quebrar as melancias na pedra e comer a polpa com as mãos, era sumir no meio da mata até não encontrar o caminho de volta e ficar gritando por socorro, era ouvir causos de assombração à luz de lamparina contados pela avó acocorada à beira do fogão de lenha com seu pito de palha, era tampar os ouvidos para não ouvir os gritos dos porcos no dia da matança, era dar milho para as galinhas, levar a caneca com açúcar para encher com o leite espumoso e quente direto da teta da vaca, era virar tripas no riacho. Era tanta coisa.

Mas antes de chegar ao meu parque de diversões (para quem vivia na periferia sem espaço, aquilo era um paraíso interminável), havia uma peregrinação pelas casas de outros parentes. Uma tia em Bandeirantes, uns tios em Maringá, primos em Campo Mourão e assim íamos,  falhando um dia na casa de cada um. Ou mais. E, apesar de adorar meus primos, aquilo para mim, de trocar cidade por cidade,  não tinha a menor graça. Até que um dia me rebelei. Devia ter uns 6 anos e me lembro perfeitamente do piti. Quando percebi que entraríamos na casa de uma tia em Maringá (uma das cidades mais lindas do Paraná), eu comecei a gritar e a espernear com toda a manha que tinha: "eu quero ir pro Paraná, eu quero ir pro Paraná!". E, não sabia porque, em vez de se condoerem com minha angústia, todos davam muitas risadas, só depois entendi,  pela minha ignorância em relação à geografia e isto é motivo de piada na família até hoje.  A cena de nada adiantou, mas deixei ali registrado meu protesto, afinal Paraná para mim era a liberdade do campo e pronto.

Esta rotina de passar as férias no sítio se repetiu até eu começar a trabalhar, com 14 anos. Aí, passei a depender de férias que nunca coincidiam com a dos meus pais. Depois veio o sítio de Fartura, para onde meus pais se mudaram. Não era Paraná, mas quase, já que ficava a 8 km da divisa. Voltei a ter a mesma sensação, agora já mãe de Ananda, que não tem a mesma paixão (ela gosta de água!).  Compramos uma chácara ao lado, construímos casa e passamos bons momentos por lá, naquele ambiente não de sítio de lazer mas de uma terra produtiva.  Graças aos meus pais, claro, porque não entendo muito da lida no campo - mas vou aprender. Agora eles ficaram cansados, venderam o sítio  (nós também, afinal sem eles não teria graça) e o que querem é viver na cidade, perto de uma das filhas, em São José dos Pinhais, ao lado de Curitiba. É uma cidade agradável, mas é cidade, não é o Paraná que habita ainda meus sonhos.  Eles levaram umas galinhas que continuam botando ovos amarelinhos, plantaram  uma  horta, compram leite de uma polaca numa chácara perto, fazem o mesmo queijo de leite cru que sempre fizeram no sítio, e ainda moem na hora os últimos grãos do café que produziam em Fartura. Deu um apertinho no peito, mas é a vida seguindo seu ciclo e não adianta fazer birra "eu quero ir pro Paraná". Eles estão felizes assim.

A comida é quase a mesma. Este foi o último frango caipira que veio
congelado de Fartura e foi feito no fogão de lenha

Só chovia, chovia. Então, Ananda quis bolinho de chuva com ovo caipira

É agora aceitar que estão do ladinho de Curitiba, que é uma cidade bonita e elegante, que conserva ainda um pouco de seus pinheiros e de suas prosaicas casas de madeira que não me deixam esquecer deste passado caipira. Para não me sentir presa numa casa de cidade, quero, todas as vezes que visitar meus pais, passear muito pelos inúmeros parques curitibanos para manter sempre viva a luz paranaense dos olhos meus.

Gina, eu e Ana no Mercado Municipal - mas falo dele depois 

Gina é apaixonada por flores. Aqui, à frente do Marcos e da Ananda,
fotografando o jacarandá florido

Foi Gina quem me ensinou que as bolinhas vermelhas do Jardim Botânico
são  frutos da cerejeira japonesa (sakura). Antes de saber, já tinha provado.
Achei uma delícia!
O bom é que além da família, tenho agora amigas blogueiras que conheci pessoalmente, embora a sensação fosse de que já nos conhecíamos há muito tempo. A Gina e a Ana foram ótimas companhias para o passeio ao Jardim Botânico e ao Mercado Municipal e já combinamos  um piquenique para a próxima vez.




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